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Reflexões sobre o espelho

Para os homens, um item eventual. Para as mulheres, um item indispensável. Mas o que nós faríamos sem os espelhos?
Antes de transformar prata ou bronze polidos nos primeiros “espelhos”, provavelmente nossos ancestrais miravam-se na superfície das águas. Que o diga Narciso, personagem da mitologia grega que era muito belo e morreu apaixonado pela sua própria beleza refletida nas águas.
O espelho, portanto, está diretamente relacionado à nossa vaidade. Avaliamos nossa aparência através da imagem que vemos refletida. Por outro lado, quando eu afirmo que espelho minhas atitudes em determinada pessoa, quero dizer que tento fazer as coisas como esta pessoa faz.
Parei para pensar sobre o espelho, pois, neste mês, comemoramos o dia dos pais. Eu tenho quatro filhos: Mateus, com dez anos; Raquel, com sete anos; e as gêmeas Isabel e Júlia, que no mês que vem completam dois anos. E, quanto mais o tempo passa, mais eu percebo o quanto os filhos se espelham nos pais. Para o bem ou para o mal. Nos acertos e nos erros.
Em um mundo cada vez mais individualista e arrogante, nós já aprendemos a lutar pelos nossos direitos, como cidadãos, como consumidores, como mulheres, como minorias. Porém, cada vez mais, deixamos de espelhar para as outras pessoas atitudes concretas no terreno da educação, das boas maneiras, do respeito ao próximo. Frases como “Bom dia”, “com licença” ou “desculpe” são raras ou automáticas. E, à medida que o tempo passa, ficamos mais ignorantes, não só no sentido de sermos grosseiros, mas principalmente no sentido que passamos a ignorar a existência do outro, seja em um ônibus lotado, seja tropeçando em pedintes na rua, seja querendo se dar bem a qualquer custo.
Eu sei que também deixo a desejar. A correria do dia-a-dia, o cansaço do trabalho, os planos para não deixar as finanças explodirem e ainda arrumar tempo para brincar, escutar e ensinar os filhos não é fácil. Mas, se não reservamos tempo para eles, ouvindo seus anseios, seus medos, suas dificuldades, a relação só irá piorar no futuro. E não adianta construir um mito, uma imagem fantasiosa a nosso respeito pois, como em um espelho, eles nos vêem como somos. Depois que o tempo passar, de nada adiantará argumentar que construiu um alicerce financeiro sólido, se o alicerce do relacionamento foi “firmado” na areia, pronto para desmoronar.
Ao parar para analisar a sociedade, percebo que temos uma ausência de referenciais masculinos positivos. A mídia cada vez mais exalta “valores” como a beleza, a virilidade, a falta de compromisso e a falta de ética. A novela, por exemplo, embora deva ser caracterizada como ficção e entretenimento, nos deixa a eterna dúvida se ela reflete a sociedade em que está inserida ou se ela auxilia na formação de tal sociedade.
Discussões conceituais à parte, cabe a nós, pais (e também vou estender a responsabilidade aos tios, avós, padrinhos, amigos próximos), refletirmos uma boa e real imagem para as crianças. Boa, demonstrando nossa vontade em acertar. Real, não encobrindo erros, mas revelando que também somos falhos.
Que na próxima vez que você olhe sua imagem no espelho, possa refletir em qual tipo de imagem tem passado para a geração futura. Aos pais, um Feliz Dia para vocês!
(Publicado em agosto/2007 na Revista Ave Maria)

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