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Fé demais

Já que o dia hoje está propício a notícias pitorescas, aqui vai mais uma:

Ladrão vai à igreja pedir perdão por roubo e é preso em SP
Ele roubou a carteira da vítima com uma suposta arma;
policial que fez a prisão achou o fato 'curioso'

Simone Menocchi, de O Estado de S. Paulo

SÃO JOSÉ DOS CAMPOS - Depois de roubar uma carteira e ameaçar a vítima com uma suposta arma, um ladrão decidiu pedir perdão a Deus e acabou preso dentro de uma igreja católica. O fato aconteceu na manhã de sábado, 29, em São José dos Campos, no Vale do Paraíba, e chamou a atenção até dos policiais militares que fizeram a prisão.
Por volta das 8 horas da manhã, Neander Pinto simulou que estava armado e com a mão debaixo da blusa ameaçou o designer Marcelo Peneluppi, dentro do próprio carro. A vítima havia parado o carro em frente a uma escola técnica para deixar a mulher no local. Em uma ação rápida o ladrão fez ameaças e levou a carteira da vítima com documentos e dinheiro.
"Ele estava com a mão debaixo da blusa, fez ameaças e rapidamente levou a carteira, saindo correndo em seguida" contou o designer, que não reagiu ao assalto. "Ficamos muito assustados, sem saber o que fazer".
A Polícia Militar fazia ronda pelo bairro naquele momento e conseguiu vasculhar as imediações da escola técnica. Uma testemunha avisou a PM que um homem havia entrado na Igreja de São Sebastião.
Na sacristia, sozinho, ajoelhado e com as mãos pra cima, o bandido foi encontrado. "Ele falou que estava rezando para pedir perdão a Deus. Mesmo assim, teve a voz de prisão e foi encaminhado para a delegacia", relatou o soldado Cássio Clay de Araújo, que fez a prisão. "Nunca havia passado por isso, foi curioso".
Neander já tinha passagem pela polícia por duplo homicídio e estava em liberdade condicional. Apesar do pedido de perdão, ele foi levado para a cadeia de Jacareí, onde vai ficar preso.

Só um furinho

Homem mata esposa tentando instalar antena de TV
Por Rodrigo Martin de Macedo

O americano Ronald Long de Deepwater, Missouri, tentava instalar uma antena de TV em seu quarto quando feriu mortalmente sua esposa Patsy Long, de 34 anos.
Segundo o site Gizmodo, a fatalidade ocorreu apenas porque Ronald achou que seria mais rápido abrir um furo na parede, necessário para a instalação do equipamento, com a ajuda de uma pistola calibre .22. No segundo disparo, a esposa que estava no cômodo ao lado recebeu a bala no peito.
Patsy foi socorrida imediatamente pelos vizinhos e familiares, que prestaram os primeiros socorros até que fosse levada de helicóptero de resgate, mas não resistindo aos ferimentos chegou morta ao hospital.
O major Robert Hills explicou à rede televisiva KCTV5 que casos como este costumam ser julgados como homicídio culposo, mas a polícia ainda precisa traçar um diagrama completo do incidente para que o promotor possa decidir como conduzirá o caso.

Será que a mulher tinha reclamado da sujeira que ele fez no chão com a furadeira da última vez?!?! Só não entendi porque o Yahoo! colocou a notícia na seção de Tecnologia...
(Foto: KCTV5)

Sunday com chantilly

Post especial de domingão para avisar que a blogosfera (ao lado) foi incrementada com indicações que eu pensei que já estavam lá, mas sumiram na última mudança de template... E para indicar um vídeo sensacional do amigo Wilson Tonioli, do blog Verticontes:
Testemunho do evangélico que se converteu ao ateísmo

Música, casamento, ateísmo e afins

Mais um vídeo sensacional do confrade Wilson Tonioli, do blog Verticontes:
Testemunho do evangélico que se converteu ao ateísmo



Pisaram no Tomati
Ao preparar um post sobre a participação de Maurício Domene na trilha sonora de um filme, descobri que o Tomati (guitarrista do Sexteto do Jô) participou da banda gospel Katsbarnea. Como não dá para confiar em tudo que sai na Internet, pesquisei, pesquisei e confirmei que realmente é verdade. No biografia que encontrei  no site de Tomati ele cita sua passagem pela banda, "durante aproximadamente um ano", embora não tenha gravado nenhum disco com eles.
Encontrei uma declaração do guitarrista em uma matéria da revista Enfoque Gospel (agosto/2007):

Carlos Tomati, 41, músico conceituado no mundo secular, guitarrista do talk show de Jô Soares na Rede Globo, é exemplo disso. Ele, que integrou a banda gospel Katsbarnea por aproximadamente um ano, em resposta a esta reportagem, abre o coração: “Fui expulso da igreja por tocar demais e querer ensinar os outros a tocar também. Me dediquei de corpo e alma à obra do meu Pai, mas fui apunhalado pelas costas com mentiras vindas de pessoas que eu considerava como da família. Fiquei com má impressão do povo que se diz de Deus”.
A matéria de Oziel Alves é muito bem feita. Lá também há declarações da cantora Wanda Sá, do pastor e músico Gerson Borges, entre outros. (Leia na íntegra)

Em 2005, Tomati convidou artistas do meio cristão para participar de seu projeto  Lord's Children, um álbum com revista, vendido em bancas de jornais graças à parceria com uma editora. Gravado nos EUA e Brasil, o trabalho contou com a participação de Priscila Maciel, Robson Nascimento, Reginaldo "16" Gomes e outros. Coloquei no ConfraCast a música Bright and Sweet, onde, ao contrário das músicas mais movimentadas e roqueiras deste CD, Tomati faz um violão solo. O guitarrista também produz um quarteto de MPB, que recebeu o nome de Quarteto Amém Brasil.


Modernidades
São Paulo terá primeiro casamento gay do Brasil
Será realizado em São Paulo, no próximo dia 10 de abril, o primeiro casamento gay do País. O jornalista Felipeh Campos, de 34 anos, e o produtor de moda Rafael Scapucim, de 26, que vivem juntos há cinco anos, assinarão um contrato de parceria oficializando a união estável e celebrarão uma cerimônia religiosa orientada pelo candomblé.
Entre os convidados estão o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho (PMDB), o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), e a ministra do Turismo, Marta Suplicy (PT). Segundo os noivos, por enquanto, apenas o primeiro confirmou presença.
(Fonte: Yahoo!)
Entre 1999 e 2000 - na época ator e sem o "h" em seu nome - Felipe Campos participou do Qual é a Música? como o dublador mascarado (ou maquiado). Agora com "h", Felipeh formou-se em jornalismo e trabalha para a RedeTV!.

Mas, será que Houaiss era preconceituoso? Seu dicionário não é polticamente correto? Ou estamos em uma crise de definições? Pois, ao fazer uma consulta, verifiquei que o lexicógrafo conceitua casamento como o "vínculo entre marido e mulher". Embora existam outras definições mais abrangentes: "cerimônia matrimonial" e "aliança; associação".

O assunto é polêmico e já ouvi algumas opiniões do tipo: "Não sou contra a união homossexual, só não podemos chamar isso de casamento, pois este foi instituído por Deus para unir um homem e uma mulher". Nesse sentido, aqui vão algumas perguntas:

- Será que o casamento é uma instituição religiosa ou apenas social?
- Qual a base para aqueles que não acreditam em Deus ou não professam nenhuma fé?
- É possível encontrar alguma sustentação bíblica contra ou a favor do casamento homossexual?
- Casamento e contrato são a mesma coisa?

Sucesso merecido

Fico muito feliz quando alguém que conheço tem seu talento reconhecido. Por isso, resolvi compartilhar a participação do amigo Maurício Domene em uma animação de longa metragem. Não, ele não é ator. Também não é cineasta. O que ele vai fazer, então? A trilha sonora.
Domene e seu Estúdio Next já desenvolveram trilhas e jingles para empresas e produtos como: Petrobrás, Forum, Roche, Itaú, Unilever, Suvinil, Halls, Trident, entre outros. Também participou da gravação de álbuns cristãos, nos teclados, violões, guitarras ou arranjos. Na parte de trilhas, utilizou vários violões e sons diferentes para o documentário O Trem Passou e a Gente Ficou, que aborda o abandono do trecho de 380 km da ferrovia Bauru-Panorama e também de um documentário sobre os índios que vivem na Ilha do Bananal.
Agora, Domene estará junto com uma turma que tem bastante exposição na mídia. Ele será responsável pela trilha sonora do longa de animação Procura-me, do diretor e roteirista Zé Mucinho:
No blog do músico, Diário da Trilha, ele conta um pouco da expectativa do trabalho. A produção do filme também colocou no ar um blog para quem quiser acompanhar os bastidores.

Já está na hora do programa terminar...

Não poderia esperar até a próxima quinta-feira para compartilhar a perspicácia e o talento do repórter fotográfico Lula Marques, que mostrou que para tirar uma foto não é preciso apenas apertar um botão. A boa película é uma soma de talento, oportunidade, humor e, é claro, um bom equipamento também ajuda!

No detalhe, a escolha é sua: Hugo Mouse ou Mickey Chávez?

(Foto: Lula Marques/Folha Imagem)

Lula Marques já foi alvo de críticas, como a foto de FHC e ACM. Mas, também ganhou prêmios, como na foto durante as festas dos 500 anos do descobrimento (levou o II Prêmio Imprensa Embratel). Marques já chegou até a ser notícia, quando foi agredido por um segurança da Presidência da República.
Confira outras fotos de Marques, no site Olhares.com, Folhapress e no site da ABI.

No trânsito

O rádio e o aparelho de som são os fiéis companheiros dos motoristas que ficam presos no trânsito, principalmente em uma cidade como São Paulo. Para aqueles que andam de transporte público, restam os walkmans, iPods, discmans ou a leitura de jornais, livros e revistas. Mas, aos poucos, uma nova opção é oferecida aos usuários de meios de transportes públicos. No trem, no metrô e no ônibus já é possível ter acesso a dicas culturais, reportagens, curiosidades e, claro, publicidade.

Informações sobre rodas
Telas LCD de 17" e tecnologia wireless. No recheio, blocos rápidos de programação produzidos pela Mixer. Estes são os ingredientes da TVO, que leva a televisão para os ônibus metropolitanos. Os programetes não passam de um minuto e meio e são atualizados diariamente, quando os ônibus retornam para a garagem. Confira.

Entretenimento subterrâneo
Embora tenha sido lançada oficialmente em 11 de dezembro do ano passado, os usuários da linha verde do metrô já contam com a programação da TV Minuto desde maio de 2007. Em virtude da dificuldade em transmissão de dados via ar, optou-se pela fibra ótica, que liga a produtora até estações do metrô. Estas são equipadas com um transmissor de rádio, que retransmite para uma antena localizada no trem, quando este chega à estação. Os usuários assistirão a programação através de telas LCD de 17’’.

Espera informativa
Os usuários da linha C da CPTM agora tem uma opção para preencher o espaço de tempo até a chegada de um trem na plataforma, o que dura em torno de 6 a 20 minutos. A TV Trem traz um conteúdo produzido pela Estação 8. Como diferencial, o passageiro conta com som e telas LCD de 32’’, divididas em três partes: a maior traz as reportagens e filmes publicitários; no rodapé estão as notícias em tempo real, obtidas através do Portal Terra; e na lateral esquerda é o espaço reservado para mensagens comerciais, da CPTM e para o boletim do tempo.
Veja como funciona.

A propósito
Acho fantástico o avanço tecnológico e o quanto este nos inunda de informações. Porém, é fato que todas estas novas mídias e seus veículos, superficializam ainda mais o conteúdo. De qualquer forma, nem tudo está perdido. Observei algo interessante, no percurso diário que faço entre as estações Barra Funda e Sé, através dos trens do metrô. O perfil de leitura aparentemente não foi alterado. Quem leva seu jornal, revista ou livro, dificilmente substitui a leitura pela programação da TV Minuto. Já aqueles que estão "de mãos vazias" ficam com os olhos vidrados na programação. Será que os leitores mudarão seus hábitos?

Repúdio
Mino Carta terminou sua temporada blogística no iG, segundo ele um ato de solidariedade à saída de Paulo Henrique Amorim do mesmo domínio. CartaCapital afirma que o blog Conversa Afiada (de PHA), foi drasticamente colocado fora do ar devido a uma "pendência pessoal entre o diretor-presidente do iG, Caio Túlio Costa, e Paulo Henrique". Independentemente de concordar com as idéias de Paulo Henrique e seus puxa-saquismos recentes para cima do bispo Edir Macedo, considero-o um grande jornalista, que faz parte da história do jornalismo brasileiro, e a decisão do iG aparenta uma grande falta de ética e profissionalismo, já que o contrato com PHA iria até dezembro deste ano. A não ser que o portal traga a tona razões fundamentadas para tal atitude. Por enquanto, não convenceu. Confira a palavra do iG.

Até Mario Vitor Santos, em seu Blog do Ombudsman do iG, afirmou que: "O estranho é testemunhar a ruptura súbita, sem aviso anterior ou posterior aos leitores, afetando um site notoriamente controvertido".

Já o Portal Imprensa publicou que fontes relataram que o blog de PHA era "altamente desvantajoso para o provedor de internet, já que tinha baixa audiência e não rendia boa receita". Porém, o Portal Imprensa informa que na página comercial do iG (Central do Assinante), há informações de que o Conversa Afiada "mantinha 3.295.935 impressões por mês, em média, com 475.113 unique visitors/mês, maior que muitos dos sites hospedados em canais do Portal".

Paulo Henrique Amorim já está com endereço novo: www.paulohenriqueamorim.com.br e já destilou sua posição sobre o caso. Também conta como teve que entrar com uma medida judicial para obter o conteúdo já publicado em seu blog, quando hospedado no iG. E aproveita para eleger Serra um dos culpados pela sua saída.

Muitos blogs divulgaram o caso PHA x iG. Leia o que escreveu o Blog do Desemprego Zero e Pedro Doria.

Luis Nassif que se cuide...
Capa da Semana
Nesta semana, uma primeira página "acredite se quiser", veiculada pela revista Época:

Através da barreira do som

Para fechar o mês instrumental, no DoxaOnline desta semana você curte o som de Wayne Shorter. Confesso que ele não é dos meus saxofonistas preferidos, mas não posso deixar de apreciar sua criatividade musical e talento.
Shorter passou pelo Jazz Messengers, de Art Blakey e depois pelo quinteto de Miles Davis, onde tocou ao lado de feras como Herbie Hancock, Ron Carter e Tony Williams. No início dos anos 1970, deixou a banda de Davis para participar da formação do grupo Weather Report, numa mistura de jazz rock e fusion. Ficou na banda até 1985.
Antes disso, em 1974, Shorter lançou um disco solo - Native Dancer - com a participação de ícones da música, como seu antigo parceiro, Herbie Hancock, e os brasileiros Airto Moreira e Milton Nascimento. Depois, foi Shorter que participou de álbuns de Milton.
A ligação com o Brasil ficou ainda mais forte, depois que o músico casou-se com a brasileira Carolina dos Santos. A primeira esposa de Shorter, a portuguesa Ana Maria, faleceu em 1996, em um desastre aéreo, após 30 anos de casamento. Ela ia para Paris, onde Shorter apresentava-se, mas o avião da TWA em que ela embarcou explodiu logo depois de decolar de Nova York.
A música de Shorter é quase experimental. No álbum Beyond the Sound Barrier (2005) há apenas oito músicas, longas, como a Over Shadow Hill Way, que selecionei. Mas é em músicas como essa que é possível apreciar o piano do panamenho Danilo Perez, o inconfundível contra-baixo de John Patitucci e a bateria de Brian Blade.

Até na parede!

(Produzido no Atom Smasher)

Uma questão de sinônimos?

Missa?
Culto?
Serviço?
Celebração?
Encontro?
Palestra sobre espiritualidade?
O que importa é o nome ou o conteúdo?
Qual o verdadeiro significado da igreja?
Por que pessoas se reúnem?

A morte pela vida

Pensei em escrever alguma coisa sobre a Páscoa. Mas, com amigos tão ilustres, achei por bem indicar a leitura de dois textos:
- Wilson Tonioli, do Blog Verticontes: Do lugar do adversário;
- Sandro Baggio, do Blog do revBaggio: Paixão de Cristo.
E convido você, seus amigos e família, para amanhã (domingo) estar comigo na celebração de páscoa no Projeto Raízes:
Cantata Vento Livre
Dia 23 de março de 2008, às 18h30.
Rua Professor Ciridião Buarque, 76 - Pompéia
Entrada Franca
Informações: (11) 3586-5442

Jornalismo e Entretenimento

Excepcionalmente, o "de quinta" é publicado hoje, "de sexta"

Quem conhece um pouco dos bastidores de um programa de televisão, sabe o quanto os segundos e minutos são valiosos. Palavras são suprimidas, imagens editadas, intervalos medidos minunciosamente. Tudo para que o telespectador tenha o melhor programa. Ops! Você não acreditou nessa última frase, não é? Na verdade, tudo é feito para que a empresa de comunicação lucre cada vez mais. O tempo é valioso porque ele é vendido. Tudo é feito para atrair quem assiste para os produtos que serão apresentados no intervalo comercial e, às vezes, até mesmo dentro dos programas, na forma de merchandising.
Desta forma, até os programas jornalísticos se valem de fórmulas para ficarem mais agradáveis e segurarem a audiência. Notícias curtas, imagens rápidas, superficialidade total. É nesse meio que alguns programas merecem destaque. Confesso que, às vezes, são bem cansativos. Mas acredito que eles sejam uma das poucas oportunidades que temos para conhecermos melhor um assunto e diversos pontos de vista sobre ele. Canal Livre, na Band, é um deles. Aliás, na TV aberta, acredito que seja um dos únicos (fora as mesas redondas sobre esportes). Exceto, é claro, os programas da TV Cultura. Roda Viva, Observatório da Imprensa, Conexão Roberto D'Ávila são alguns exemplos. Mas, hoje vou comentar sobre o Opinião Nacional.
O programa Opinião Nacional vai ao ar às quintas-feiras (22h40), sob comando do jornalista Alexandre Machado. Durante uma hora e meia um tema é debatido, sempre colocando pelo menos dois pontos de vista sobre o assunto.
Por isso, acredito que um dos melhores resultados de um bom programa jornalístico não é fornecer respostas, mas estimular a reflexão e até mesmo criar mais dúvidas. Geralmente o programa que dá respostas não consegue fugir do padrão manipulatório.
Ontem, foi a primeira vez que assisti o programa do começo ao fim. O tema era interessante e eu continei sem uma opinião precisa, porém o debate forneceu várias nuances, que permitem que eu possa analisar melhor o assunto.
No centro do debate, as pesquisas com células-tronco embrionárias. De um lado, a favor das pesquisas, o dr. Carlos Alberto Moreira-Filho (geneticista, superintendente do IIEP - Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa - do Hospital Albert Einstein) e Dulce Xavier (socióloga, integrante da ONG Católicas pelo Direito de Decidir, secretária-executiva da Jornada pelo Direito ao Aborto Seguro). Do outro lado da mesa, contra as pesquisas, o Pe. Vando Valentini (coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC/SP) e a dra. Alice Teixeira Ferreira (Professora de Biofísica da Unifesp).
O debate foi muito bem conduzido, com respeito entre as partes - embora sempre sobre uma ironiazinha daqui e dali. Mas, percebi que o assunto é muito mais amplo e profundo do que a mídia em geral divulga. E esta era a crítica do Pe. Valentini, para quem "a imprensa é a favor [da pesquisa] e manipula a população". Por outro lado, "a Igreja [católica] é ineficiente para combater [o poder da imprensa] e apresentar seu ponto de vista". Esse seria o motivo para que em pesquisas de opinião, uma grande maioria seja a favor deste tipo de pesquisa científica.
Um dos pontos principais deste debate é a questão de quando começa a vida e até onde podemos ir na defesa da vida. Por exemplo, hoje em dia há o consenso de que após a morte cerebral não há mais vida, o que permite que seja mantido o corpo em funcionamento para fornecimento de órgãos para transplante. Depois, "desliga-se" o corpo. Se a morte cerebral significa o fim da vida, alguns cientistas dizem que o começo da vida também se dá quando há a formação do córtex cerebral, que só ocorre numa fase posterior à implantação do embrião no útero, ou seja, quando o embrião começa desenvolver-se. Dessa forma, se um embrião não representa vida, poderia ser usado cientificamente, até mesmo para um bem maior: salvar outras vidas.
Já a igreja considera o embrião já uma forma de vida, mesmo que seja uma vida em potencial. Ou seja, mesmo no embrião já estão presentes as características genéticas (cor dos olhos, do cabelo, sexo, etc) que se desenvolverão quando o embrião for implantado no útero.

O tema é complexo e, se você já tem sua opinião sobre o assunto, deixe seu comentário. Algumas das perguntas que ficam no ar:

Quando começa a vida? (Se não me engano, os judeus consideram no nascimento)

A quem cabe a autorização de utilização sobre um embrião congelado? Aos pais? Ao governo? Aos cientistas? À Igreja?

É válida a morte de um embrião em defesa da vida (de crianças e adultos com doenças que podem ser curadas através de células-tronco embrionárias?

Capa da Semana
A capa desta semana vai para o ovo de páscoa do jornal californiano The San Diego Union-Tribune.

Quem é o verdadeiro vilão?

Na quinta-feira (06/03), escrevi um artigo sobre o documentário Juízo. No sábado (08/03), publiquei um texto da juíza Cristiana Cordeiro, sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente, retirado do pressbook do filme. Felizmente, o documentário e o assunto tem repercutido. Hoje saiu na Folha de S. Paulo um artigo do juiz Eduardo Rezende Melo, que estava presente na pré-estréia do documentário e foi citado por mim no primeiro texto.

Juízo: os adolescentes exigem da Justiça
Eduardo Rezende Melo

"Juízo" é uma dura crítica ao abandono e à falta de valorização a que é relegada a Justiça da Infância e da Juventude neste país

NOVEMBRO de 1989, 200 anos depois da Revolução Francesa, finalmente crianças e adolescentes tornam-se cidadãs. Ficava claro que não era suficiente a generalidade da proteção de direitos humanos para que crianças e adolescentes fossem respeitados. Era hora de equacionar as relações de poder de cunho geracional.
Foi uma ruptura histórica. Não se poderia mais aceitar supostas ações protetivas de adultos que, em nome de valores os mais diversos, outorgavam-se poderes e permitiam-se ações sobre crianças e adolescentes que jamais admitiriam se praticadas em relação a si próprios. Era preciso que crianças e adolescentes fossem vistos socialmente, como atores sociais, como sujeitos de direitos, sobretudo de participação na tomada de decisão dos assuntos que lhes concerniam.
Pouco mais de 18 anos se passaram daquela data histórica, tempo suficiente para que pudéssemos crer ter atingido a maioridade de uma cultura de respeito e dignidade a crianças e adolescentes pelo mundo. Afinal, nenhuma outra norma internacional relativa a direitos humanos alcançara ratificação tão extensa.
Ledo engano. "Juízo", documentário da diretora Maria Augusta Ramos, traz um desalentador retrato não apenas de certa cultura judicial deste país, mas sobretudo das instituições que deveriam estar voltadas à garantia de direitos humanos de crianças e adolescentes.
Durante pouco menos de duas horas, tem-se uma sucessão de situações que causariam horror a qualquer jurista - a qualquer pessoa sensata, diria-, especialmente se relacionadas a um adulto. No entanto, tudo parece justificar-se, em maior ou menor medida, a magistrados, promotores de Justiça e defensores do filme por terem à frente... apenas adolescentes!
Em nome de uma suposta ação educativa para trazê-los à razão, esquecem-se do principal: o exercício de um papel institucional que deveria se pautar pela garantia de direitos e pelo respeito às liberdades fundamentais.
Desconsideram que a verdadeira educação, nos próprios termos da convenção, não tem senão esses mesmos objetivos.
É nesse ponto que o filme mostra seus limites. Focado em alguns poucos operadores do direito, deixa de lado o contexto institucional e cultural em que se inserem.
A despeito de ações várias da sociedade civil denunciando a falta de formação específica desses profissionais para lidar com crianças e adolescentes, vê-se que o direito da criança e do adolescente é considerado disciplina "menor", como "menores" são vistos os profissionais que atuam na área.
Raras são as faculdades de direito do país que contemplam em seus currículos a matéria - nem como optativa, muito menos como obrigatória. Quando esses profissionais prestam concursos de ingresso às carreiras jurídicas, quantas não deixam de questioná-los sobre conhecimentos específicos na área. Sem preparo, são lançados a lidar com processos envolvendo questões tormentosas, individuais e sociais, faltando-lhes não apenas uma visão holística e interdisciplinar como referenciais de ação sistêmicas que lhes permitam efetivamente a garantia de direitos. "Juízo" representa uma dura crítica ao abandono e à falta de valorização a que é relegada a Justiça da Infância e da Juventude neste país.
Como vilão neste filme não é apenas a Justiça, ele põe em xeque ainda muito mais: a capacidade da sociedade civil e do poder público de questionar o modo de funcionamento do que deveria ser um sistema de garantia de direitos, como a própria abertura da Justiça e das demais instituições às críticas que lhes sejam feitas.
A Justiça da Infância e da Juventude tem por missão, constitucionalmente, a defesa e a garantia de direitos humanos individuais e sociais de crianças e adolescentes e de suas famílias e já foi capaz de demonstrar sua capacidade vanguardista no cumprimento de suas ações neste país.
Se o Brasil é reconhecido mundialmente pela qualidade de sua legislação e pela força de suas instituições, isso se deve em muito à ação articulada e integrada de magistrados, promotores de Justiça e advogados comprometidos com uma perspectiva garantidora de direitos.
Não por outra razão, é a única área em que juízes e promotores - e defensores, talvez, agora- conseguem superar diferenças e se associam por uma causa comum, que passa continuamente por uma busca de aprimoramento e reordenamento institucional para cumprimento de sua missão.
"Juízo" é um retrato daquilo que não podemos nem queremos ser, é a fala calada de adolescentes a exigir realmente de nós, magistrados, promotores de Justiça e defensores públicos, mas também de toda a sociedade... justiça.

_______________________________________.
EDUARDO REZENDE MELO, 39, juiz de direito de São Caetano do Sul (SP),
é vice-presidente da ABMP (Associação Brasileira de Magistrados
e Promotores de Justiça da Infância e da Juventude).
(Fonte: Folha de S. Paulo Online)

Inspiração

Nesta semana, o som do DoxaBrasil Online apresenta um trio instrumental de primeira linha. No piano, Maria Lídia. No baixo, Cláudio Rocha. Na bateria, Rogério Boccato.
Composta por Maria Lídia, a música Dia a Dia abre o álbum Inspiração em Três Tons (1998) e traz a participação especial do saxofonista Teco Cardoso.
No encarte do CD, a pianista expressa sua visão da música instrumental:
O desafio de abrir mão das palavras e retratar emoções apenas com sons. O desafio de "falar" através dos instrumentos com suas melodias, harmonias e ritmos...
Um caminho fascinante.

Hoje na TV

Duas dicas para assistir na TV, hoje à noite:
.- Para quem é fã dos seriados C.S.I. e Without a Trace (Desaparecidos), hoje o episódio do C.S.I. contará com a participação do detetive Jack Malone. É o chamado crossover, quando duas séries se cruzam. Gil Grissom vai para Nova York e Jack Malone, para Las Vegas. No AXN, às 20h.
- Estréia do programa Custe o Que Custar (CQC), na Band, às 22h15. O time de sete "homens de preto" é formado por: Marcelo Tas, Rafinha Bastos e Marco Luque, nos estúdios; e Rafael Cortez, Danilo Gentili, Felipe Andreoli e Oscar Filho, nas reportagens. O modelo já está em cartaz em vários países (Chile, Argentina, Espanha e Itália) há um bom tempo e terá uma pitada de stand up, Pânico, Casseta & Planeta, Ernesto Varella, Michael Moore. O programa nasceu na Argentina, em 1995, com produção da Eyeworks-Cuatro Cabezas, onde é exibido pela Telefe.

No alvo

Curta outras charges sensacionais
no blog do Jasiel Botelho.

Parabéns?!?

Ainda sob efeito do documentário Juízo (que estreou ontem
no Espaço Unibanco de Cinema - SP), selecionei para
hoje um dos textos do Pressbook do filme


ECA: 18 ANOS

No ano em que o Estatuto da Criança e do Adolescente chega à maioridade, a Juíza Cristiana Cordeiro analisa o que é ser um menor frente à justiça brasileira

Nasci no dia 13 de julho de 1990 sob o olhar atento de todos. Dentre tantas esperanças em mim depositadas, uma das principais dizia respeito ao status que eu passaria a ostentar. Desejavam que fossem abandonadas as anteriores categorizações de menores vadios, libertinos ou em situação irregular, para que crianças e adolescentes passassem a ter reconhecida a sua condição de pessoas humanas em processo de desenvolvimento e sujeitos de direitos civis.
Com o passar dos anos, tenho percebido o enorme abismo que separa o que foi sonhado para mim e a realidade. A prioridade absoluta que eu deveria receber é letra morta, e continuo sendo visto como uma questão de menor importância. Sob o argumento de que me é garantido o direito de ir e vir, me deixaram sozinho, à noite, com fome e frio. Dali para o fumo, a droga, a bebida e o roubo, não custou muito.
Ignoram que quando dois direitos parecem colidir, prevalece o mais relevante, e para mim teria sido tão importante meus direitos à vida, à saúde, à educação, à convivência familiar.
Não demorou muito, “rodei”. No dia em que fui preso, tinha acordado com fome de liberdade. Pensei numa moto bem bonita, com o vento batendo no meu rosto. Cheguei a levar um tiro do homem que eu assaltei. Na delegacia, fiquei 24 horas sem beber ou comer e minha família demorou a saber o que tinha acontecido. Durante dois dias, um dos outros 70 presos que estavam na mesma cela me ajudou com meus ferimentos. Soube de uma adolescente no Pará – também indevidamente colocada na companhia de presos adultos – que recebeu dos colegas tratamento de natureza bem diversa.
Saí da delegacia para conversar com um rapaz muito novo, de terno e óculos, que vim a saber ser o promotor de justiça. Fiquei um pouco surpreso com as suas perguntas, mas entendi melhor quando soube que, na faculdade, ele não estudou nada sobre direitos de crianças e adolescentes. Ele pediu minha internação provisória e saí dali para o Instituto Padre Severino, onde passei 45 dias sendo chamado de demônio, levando tapas nas orelhas, comendo com colher. Dividi um beliche sem colchão com um colega muito assustado, que vinha do interior do estado porque tinha roubado uma galinha. Não recebi visita. Minha família não teria o dinheiro das passagens.
No dia em que fui levado ao Juiz, tomei banho e vesti uma roupa limpa. O Juiz também era jovem como o promotor. Ele leu uns papéis que eu não entendi muito bem, mas que deviam ser como o promotor contou a história do roubo da moto, na língua dele. O Juiz apontava para mim e para minha mãe e perguntava se eu não tinha vergonha de decepcioná-la. Fiquei tentando imaginar que técnica de abordagem era aquela, mas logo me lembrei que o Juiz fez aquela mesma faculdade, onde nada estudou sobre mim. Tive certa compaixão por aquela gente sem noção exata do que estava fazendo e passei quase toda a audiência pensando que eu poderia estar ali sentado na cadeira do Juiz, se tivesse tido as mesmas chances.
Da sentença que o Juiz me deu, só entendi a parte dos três anos. Eles passaram lenta e dolorosamente, e tanta coisa aconteceu, e tantas histórias ouvi, que quando a porta se abriu e me liberaram (segundo o Juiz, “só mesmo porque o tempo máximo de internação foi atingido”), nem sabia mais quem eu era.
Só que eu era “ex-menor”. Foi assim que o jornal se referiu a mim quando fui preso. Agora, também podem divulgar meu nome.
Chamo-me Estatuto da Criança e do Adolescente.
_________________________________________________.
A Juíza Cristiana Cordeiro é titular da II Vara Regional da Infância,
da Juventude e do Idoso do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro.

Retratos & Reflexos
A fotografia de hoje foi tirada um tempo atrás, na entrada do Projeto Oficina Boracea, um local que tenta tratar com um pouco de dignidade as pessoas em situação de rua.
Um homem. Sua carroça. Seu [único] companheiro.

(Sem) Juízo

Segunda-feira assisti a pré-estréia do documentário Juízo, da diretora Maria Augusta Ramos. Três anos depois de inovar nas telas com Justiça (2004), que retratou o sistema judiciário brasileiro de uma forma jamais vista, a cineasta volta ao "teatro da Justiça" e agora fixa suas lentes na 2ª Vara da Infância e da Juventude do Rio de Janeiro. Novamente os protagonistas são os juízes, promotores e defensores. Só os acusados mudam. Ao invés de homens e mulheres, agora o foco são adolescentes infratores.
A lei brasileira não permite que infratores com menos de 18 anos sejam identificados, o que criaria uma grande barreira para execução do filme. Mas a diretora conseguiu uma solução brilhante. Duas câmeras no fundo da sala de audiências captaram a íntegra dos interrogatórios e tomadas de depoimentos de testemunhas. Uma das câmeras registrou juízes e promotores. Outra, registrou a defesa e familiares presentes na sala. Sempre com os adolescentes de costas. Mas, para dar rosto ao filme, Maria Augusta recrutou adolescentes de comunidades cariocas (não atores), com idade e aparência física similar aos infratores, que reproduziram as falas destes em uma gravação posterior, de frente. A edição foi muito bem realizada e o resultado traduz fielmente as audiências. Com isso, o filme perde sua característica documental? Para a diretora, não. Ela considera Juízo um "filme híbrido". A proposta foi filmar as audiências reais, da forma como elas são realizadas diariamente. Não houve simulação, texto, repetições, nem representação (embora, quem não altere, ao menos um pouco, sua postura quando está frente às câmeras?).
Além de filmar as audiências, Juízo também abre as portas do Instituto Padre Severino (foto ao lado, em cena do filme), uma unidade de internação provisória, sob a responsabilidade do Departamento Geral de Ações Sócio-Educativas (Degase) que é uma verdadeira prisão para onde são levados os infratores. Ressocialização = Zero.
Embora o documentário anterior - Justiça - apresente nas entrelinhas uma crítica ao sistema judiciário e carcerário brasileiro, atingiu ótima aceitação no meio, como prova, por exemplo, um artigo do sítio Consultor Jurídico (07/07/2004). Outros setores também entenderam a mensagem do filme, como escreve o lingüista Ivan Leischsenring.

Debate
Após a pré-estréia do filme, no Espaço Unibanco (SP), houve um debate com a participação da diretora, Maria Augusta; do presidente da OAB/SP, Luiz Flávio Borges D'Urso - que mediou o debate; do presidente da Comissão dos Direitos da Criança e do Adolescente da OAB/SP, Ricardo Cabezón; do juiz da Infância e Juventude (SP) Sérgio Mazina Martins (que também é professor de Direito Penal, membro da AJD - Associação Juízes para a Democracia e 1º Vice-Presidente do IBCCrim - Instituto Brasileiro de Ciências Criminais); e da juíza Luciana Fiala de Siqueira Carvalho, que na época das filmagens era juíza auxiliar da 2ª Vara da Criança e do Adolescente, do Rio de Janeiro.

O lado dos defensores
Para D'Urso, o filme mostra, com sensibilidade, que "uma mudança é necessária". Mas reafirma a posição da OAB paulista, totalmente contrária às propostas para redução da maioridade penal. Já Cabezón destacou a questão da eficácia das chamadas medidas sócio-educativas e considera que Juízo deixa duas perguntas no ar: "O que está havendo com as crianças?" e "O que está havendo com os centros de ressocialização?".

O lado dos julgadores
A juíza dura na queda - Desde os primeiros minutos do filme, até a última cena, destaca-se a figura da juíza Luciana Fiala (foto ao lado, em cena do filme). Sua fala é ligeira, sua linguagem tenta aproximar-se da linguagem do jovem carioca, seu tom é de repreensão, quase como um pai ou mãe severos disciplinando um filho.
Alguém que desconhece o dia-a-dia de uma sala de audiências talvez estranhe, mas a velocidade é inevitável em um dia de trabalho com 40 ou 50 audiências em pauta. Em meio às falas do filme, ao ser indagada pelo defensor que o infrator sofreria mais em uma instituição que não tem as mínimas condições de ressocialização, Luciana afirma que sua obrigação é "cumprir a parte do Judiciário" e, se o Executivo não tem condições de fazer a parte dele, ela, como juíza, não pode se eximir de fazer a dela.
Durante o debate, a juíza revelou sua responsabilidade ao lidar com "um ser em formação", mas geralmente tem à sua frente adolescentes "sem objetivos ou perspectivas". Em sua função, afirma que sempre tenta "delimitar o campo do bem e do mal, para tentar atrair o jovem para o lado do bem". Mas, admite que o caminho para que a sociedade, conjuntamente, chegue a um ponto comum, "é longo" e, por enquanto, a sociedade "está perdendo os jovens para a criminalidade".
A magistrada é sincera, ao admitir que os juízes não têm formação adequada para lidar com situações na área psicológica ou de assistência social, quando tratam deste tipo de infratores. "O concurso [para ingresso na magistratura] é teórico e [para atuar no dia-a-dia] é preciso agir com o instinto". Mesmo com as dificuldades enfrentadas, a juíza revela uma razão para trabalhar com empenho: "Nasci para isso. É isso que eu gosto de fazer".
"Todos nós fomos filmados" - O juiz Sérgio Mazina também chama a atenção para o despreparo do sistema de justiça para lidar com esse tipo de situação. Para ele, desde os funcionários do sistema prisional, passando pelos advogados, promotores e juízes, ninguém tem "uma cartilha para lidar com a população desse país" o que faz, por exemplo, com que os adolescentes sejam interrogados "com uma linguagem técnica, a linguagem do Direito", comum na figura clássica do juiz: "A gente simplesmente manda, determina, para apenas elucidar o fato", ao invés de "conversar com o adolescente". O resultado, hoje, é o que ele chama de "genocídio da adolescência mais carente".
Mazina afirma que em Juízo "todos nós fomos filmados", mas adverte que "o problema maior são os adultos [nós] por trás desses adolescentes infratores. São adultos que não sabem lidar, julgar, defender e prender esse adolescente". Depois do julgamento, os problemas do jovem infrator só aumentam, já que, para Mazina, "nenhum sistema prisional no mundo ressocializou ou educou alguém" e uma mudança só ocorrerá quando "o sistema entender os complexos sistemas históricos e sociais de cada infrator".

Ânimos exaltados
A diretora, Maria Augusta Ramos, falou pouco no momento destinado a ela. Porém, sua posição é clara em uma entrevista para o portal G1, quando afirmou que "a solução é fazer com que eles [adolescentes infratores] não cheguem ali [no Poder Judiciário]". Ao invés de debater, a cineasta preferiu abrir para as perguntas do público. O "tripé" da Justiça (acusação, defesa e juízo) não foi completo na mesa de debates, já que nenhum promotor de Justiça foi convidado para participar.
As manifestações do público, formado por magistrados, advogados, alunos de cursos de Direito, funcionários do Tribunal de Justiça e pelo público em geral, começaram tímidas, mas na medida em que opiniões foram colocadas, os ânimos começaram a se exaltar. Principalmente quando o juiz Eduardo Rezende Melo, da 1ª Vara da Infância e Juventude de São Caetano do Sul, questionou o direito da juíza Luciana, baseado no documentário, "dar um pito" nos jovens infratores. Ele também estranhou o fato de, aparentemente, não ser apresentado aos jovens os seus direitos, como o de permanecer em silêncio. Rezende Melo é conhecido por coordenar, desde 2005, um projeto de justiça restaurativa em escolas públicas de São Caetano do Sul (ABC paulista) e, ao abordar em sua fala a necessidade da implantação de um modelo restaurativo, foi aplaudido por uma grande parte da platéia.
Luciana Fiala rebateu a crítica e esclareceu que cumpria os ritos processuais durante o interrogatório, ficando claro que tais falas não foram para o filme devido ao processo de edição e corte necessários para realização de uma obra cinematográfica. Porém, Luciana reafirmou que não representou um papel, aquilo não foi uma atuação. A imagem que o espectador tem ao assistir o filme é como ela é no seu cotidiano, é assim que ela acredita que seu trabalho deve ser feito e ela continuará tratando os jovens infratores da mesma forma.
Antes das considerações finais de cada um dos participantes, já próximo da meia-noite, o mediador concedeu uma última palavra à juíza paulista Kenarik Boujikian Felippe (também membro do AJD), que deixou claro que o tempo era curto para um assunto tão amplo, que merece ser discutido e medidas precisam ser implementadas.

Opinião
Acredito que apenas um lado do filme não foi colocado em discussão. Talvez pelo tempo escasso, que impossibilitou, por exemplo, que meu questionamento chegasse à mesa debatedora. Mesmo assim, ao assistir o documentário e conhecendo um pouco dos bastidores do sistema judiciário, uma coisa destaca-se para mim: existe defesa e "defesa". Muito embora haja defensores públicos que se esmeram em sua função, é uma situação complicada para a defesa ser apresentada ao seu "cliente" apenas na hora da audiência, momento em que terá acesso aos autos e geralmente sem condições para uma entrevista reservada com o acusado. Claro que isso é para aqueles que não têm condições de contratar um advogado.
Fico pensando se grandes escritórios ou brilhantes advogados criminalistas doassem um dia por mês de seus trabalhos para atuarem - da mesma forma que defendem seus clientes pagos - quais seriam os resultados. Pode ser um devaneio, mas acredito que o teste seria interessante.
Claro que a questão da fraca defesa não exime a sociedade e o Estado de seus papéis. Como afirmou Maria Augusta Ramos, melhor seria que os jovens não infringissem a lei e chegassem, dessa forma, ao Judiciário. Mas, chegando, seria justo que o princípio da igualdade de direitos (e de defesa) fosse uma realidade.
Ou seja, o problema não é simples. Há todo um contexto social, econômico, educacional e familiar a ser sanado. E não são necessárias pesquisas ou debates para constatar que investimentos na área de educação e uma política que diminua a grande desigualdade social são os principais alicerces para formar uma sociedade mais equilibrada e pacífica.

A partir de sexta-feira (14/03) nos cinemas

(Se tiver problemas para assistir, clique aqui)

Leia também
Um texto importante para refletir sobre a questão da violência é Violência e Agressão, do Frei Betto. Não deixe de ler.

Capa da Semana
Como ganhar sempre é bom, uma capa esportiva, do diário Lance!, para comemorar.

Ignorar é preciso (?)

Ontem, assisti a pré-estréia do documentário Juízo, da cineasta Maria Augusta Ramos (que dirigiu Justiça, em 2004). Depois, houve um debate promovido pela OAB e me lembrei da frase: "A ignorância é uma bênção". Bom, sobre o filme e o debate, escreverei alguma coisa na quinta-feira (13/03).
Às vezes, penso que saber menos é ser mais feliz. Lógico que, logo em seguida, volto à realidade e não desisto de ler, escrever e me indignar. Por isso, aqui vai um fantástico texto do Frei Betto, publicado ontem no Adital.
"Este dinheiro não é de ninguém. É dinheiro público, da prefeitura", afirmou o empresário André Wertonge Teixeira a Bruno Marzano, assessor da prefeita de Magé (RJ), em gravação registrada pela investigação de fraudes em compras que teriam gerado, em um ano, prejuízo de R$ 100 milhões em seis prefeituras fluminenses. Essa a lógica de todos que abusam de recursos públicos. Fingem ignorar que se trata de dinheiro do povo. Bem diz Aristóteles: "O poder desperta a ambição e faz multiplicar a cobiça". (Leia na íntegra)
Dica
Pesquisando sobre a ignorância, encontrei o interessante blog A ignorância é uma escolha, do Filipe Liepkan Maranhão .

Duo

Na segunda semana da série instrumental, uma música do violonista Romero Lubambo, em parceria com o pianista César Camargo Mariano.
Arranjador e compositor, o carioca Romero Lubambo começou cedo a estudar jazz. Formou-se em violão erudito e engenharia mecânica (!), mas tocava em bares e, nos anos 80, formou uma banda em Nova York. Na década seguinte, formou o Trio da Paz. Daí para frente passou a atuar com diversos expoentes da música brasileira e internacional.
Ainda na adolescência, César Camargo Mariano ficou conhecido como o "menino-prodígio que toca jazz". Embora seu pai fosse professor de música, Mariano não gostava de estudar teoria e começou a tocar de ouvido, aos 13 anos. E foi com um amigo da família, Johnny Alf, que aprendeu composição e arranjo, surpreendentemente sem saber ler uma partitura!
Na década de 1960, trabalhava como bancário e formou um quarteto para tocar em clubes e festas. No mesmo período, viveu o surgimento da Bossa Nova, foi produtor de Wilson Simonal, Chico Buarque, Edu Lobo e, em 1971, é convidado por Elis Regina para produzir, dirigir e arranjar seu álbum Elis. Foi o primeiro de 14 álbuns. A parceria com Elis não ficou apenas nas gravações e apresentações, mas também na vida, e juntos tiveram dois filhos: Pedro Mariano e Maria Rita.
O pianista ainda dirigiu shows, programas para televisão, trabalhou com publicidade e gravou diversos álbuns (solo e em parceria). Em 1994, muda para os EUA, sem deixar de continuar a produzir artistas brasileiros, como Ivan Lins, Simone e outros.
A música que escolhi esta semana é do álbum DUO (2002). O funky groove Mr. JR é uma composição de Romero Lubambo.
Confira outra performance da dupla:


DICAS
O SESC sempre tem uma ótima programação musical. O mês de março não poderia ser exceção. Confira algumas dicas:

No INSTRUMENTAL SESC BRASIL hoje (19h) o SESC Avenida Paulista traz Ari Borger. O pianista, que transita pelo blues e o jazz e é devoto do órgão Hammond B3, apresenta, acompanhado de quarteto, o seu último CD AB4, em que funde grooves de jazz, blues e pop, mostrando influências que passam por Miles Davis, Herbie Hancock, Wilson Simonal e Tim Maia. Formação: Humberto Zigler - bateria; Marcos Klis - contrabaixo; Celso Salim- guitarra; Bruno Prado - percussão; Ari Borger - piano e órgão. No Teatro Auditório.
Dia 18 é a vez do contrabaixista Rogério Botter Maio e dia 25, do guitarrista argentino Victor Biglione, sempre no SESC Paulista. Biglioni faz um show amanhã (21h) em duo com Wagner Tiso, no SESC Santana.

Ainda no SESC Paulista você pode assistir as NOITES DE CHORO E JAZZ, de 06/03 a 02/04 às quartas e quintas, das 19h às 21h, na Comedoria da unidade (15º andar). Às quartas o espaço é aberto para o grupo Roda de Choro, liderado por Luizinho 7 Cordas, apresentando clássicos do chorinho. Às quintas, o som é com Evaldo Guedes e Fábio Torres (baixo acústico e piano) interpretando clássicos do jazz e da bossa-nova.

Em março, o duo Baixo e Voz vai fazer algumas apresentações em São Paulo:
16/03 - 10h00 e 18h30 - CAMINHO DA GRAÇA ESTAÇÃO SÃO PAULO - Av.Lins de Vasconcelos, 3.390 - Vila Mariana
17/03 - 20h30 - Espaço Redenção - Igreja Presbiteriana da Saúde (ao lado do metrô Saúde)
18/03 - 19h30 - EM&T - lançamento do livro Acordes para Contrabaixo e pocket show.

Religião e Poder (2)

O uso do poder pela religião. O uso da religião pelo poder. Infelizmente, a soma de política e religião nem sempre resulta em ética. E, nos EUA, não é diferente. A luta pela candidatura - nem é a eleição ainda!!! - agora tem tudo para descer o nível ou administrar golpes baixos. Outro dia, escrevi um pouco sobre o pré-candidato Barack Obama e indiquei o documentário A América está preparada para um presidente negro?. Assisti e teci algumas considerações no meu blog: DoxaBrasil. E, para quem acha que a religião não influencia a política, leia a matéria da agência Reuters, publicada pela Folha Online de hoje. A notícia foi postada às 12h57 e até agora - 16h16 - já possui 540 comentários. Na verdade, grande parte dos comentários são um grande bate-boca entre... Bom, se você ficou curioso, confira os comentários !!!

67 metros para a "liberdade"

Desespero. Angústia. Coragem. Loucura. Talvez a soma destes ingredientes seja a receita para os suicídios que ocorrem na ponte Golden Gate, cartão postal da cidade de San Francisco (EUA), considerada o lugar com o maior índice de suicídios no mundo.
Deixando as estatísticas, os números tomaram forma e receberam nomes a partir do documentário The Bridge (A Ponte - 2006), primeiro trabalho de Eric Steel na direção.
Com um orçamento baixíssimo - apenas US$ 25 mil - em 2004 Steel e sua equipe reuniram mais de 100 horas de filmagens (durante o dia), registrando o movimento da ponte e flagrando dezenas de tentativas de suicídio e 24 pessoas que efetivamente jogaram-se para um vôo mortal de 67 metros. A única exceção foi Kevin Hines, 24 anos, que incrivelmente sobreviveu à queda e apresenta um relato raro: “[quando saltei] percebi que tudo na minha vida que eu via como irremediável era totalmente remediável, a não ser o salto que tinha acabado de dar” (saiba mais - em inglês). O depoimento de Hines soma-se ao de familiares e amigos daqueles que encontraram a morte ao se chocar com as águas da baía de San Francisco, todos coadjuvantes da história de Gene, escolhido como fio condutor do filme.

A Ponte
Inaugurada em 27 de maio de 1937, a Golden Gate é uma ponte estaiada com quase 3 quilômetros de extensão, 27 metros de largura e chega a 227 metros de altura. Estima-se que a queda da ponte dure aproximadamente quatro segundos, momento em que o corpo atinge a água a uma velocidade de 120 km/h, o que geralmente é fatal. Os administradores da ponte colocaram uma mensagem na ponte (foto) que desaconselha o salto.

Morbidez
A crítica foi implacável com o diretor de A Ponte. Entre os motivos estão o sensacionalismo, o estímulo ao fascínio pela imagem da morte de um ser humano. Confira a opinião de Eduardo Valente, da Revista Cinética.
Embora o filme tenha sido exibido no Brasil na 30º Mostra Internacional de Cinema (2006), só assisti nessa semana. Realmente uma pergunta que fica no ar é como uma equipe de filmagens fica um ano inteiro em um local, para registrar imagens de suicídio, sem que haja alguma medida para tentar evitar com que eles se efetivassem. Alguém mais frio diria: "Aí ele não teria o filme dele!". Mas, contradizendo esse pensamento, o próprio diretor afirmou à BBC que "toda vez que alguém punha um pé sobre a mureta, a primeira coisa que fazíamos era ligar para a patrulha da ponte", contabilizando que seis suicídios teriam sido evitados graças à intervenção dele e sua equipe. Há informações, também, que o filme deu origem a uma campanha para a construção de parapeitos mais altos na Golden Gate, o que efetivamente não aconteceu.
Além de uma crítica, o editor de Cine Repórter, Rodrigo Carreiro, traz uma revelação: o diretor do documentário teria omitido suas reais intenções ao pedir autorização para filmar a ponte durante o dia, em um ano inteiro. Segundo Carreiro, Steel "disse às autoridades que faria um documentário sobre aquela que é uma das maiores obras de engenharia do século XX, e um dos pontos turísticos mais visitados do país". A autorização foi obtida no final de 2003, as filmagens seguiram-se por todo ano de 2004 e somente em 2006 revelou-se a verdadeira intenção do diretor.
O fascínio pela morte ou pela desgraça alheia é intrínseco ao ser humano. Quem mora em grandes cidades, como São Paulo, não pode deixar de observar o quanto é incrível o número de pessoas que olham para o alto de um prédio quando alguém ou um grupo olha para cima. Curiosidade? Morbidez?
Aqui no Brasil, quem não se recorda da tarde do Dia dos Namorados do ano 2000, quando Sandro Nascimento, Geísa Gonçalves e os policiais do BOPE foram protagonistas de um filme real, com suspense, violência e morte, transmitido ao vivo em rede nacional pelas principais emissoras do país? Dois anos depois, o caso foi para as telas através do filme documentário Ônibus 174, que já contava com a parceria entre o diretor José Padilha e o ex-policial Rodrigo Pimental, repetida em Tropa de Elite.
Ou, o que dizer de filmes como Faces da Morte (eu não assisti, mas já me contaram como é) ou Jogos Mortais (assisti o primeiro recentemente)? Outro dia, na locadora, vi um filme classificado na capa como o primeiro a usar um cadáver real nas filmagens!!! Unrest recebeu o sugestivo e "criativo" título em português de Cadáveres... (Leia mais)

Superando a dor do Suicídio
O tema suicídio tem um aspecto pessoal para mim. Minha mãe tirou a vida (depois de algumas tentativas) quando eu tinha 10 anos. Ela jogou-se do oitavo andar do prédio onde morávamos. Isso levou-me a criar uma comunidade no Orkut, com o nome Superando a dor do Suicídio, que é o título de um livro escrito por Albert Hsu, um editor de livros que narra sua experiência a partir do suicídio de seu pai. O subtítulo é "Como encontrar respostas e conforto quando alguém a quem amamos tira a própria vida".
Ou seja, a linha condutora do livro não é tentar entender o que motiva o suicídio, mas traçar um perfil daqueles que ficam. Nos EUA é comum o uso da terminologia sobreviventes de um suicídio para familiares ou amigos próximos a uma pessoa que tirou sua própria vida e que experimentam um grande e insuperável trauma psicológico.

Algumas informações sobre o tema
- A palavra suicídio (etimologicamente do latim sui = si mesmo; -caedes = ação de matar) foi utilizada pela primeira vez por Desfontaines, em 1737 (Fonte: Jus navigandi)
- Nos EUA, se estima que a cada ano ocorram 30.000 mortes decorrentes de suicídio, sendo que as tentativas de suicídio que não terminaram em morte são estimadas em 8 a 10 vezes esse número. Atualmente, o suicídio ocupa a 8a posição entre as causas gerais de morte nos EUA, depois de problemas do coração, câncer, derrame, acidentes, pneumonia, diabetes e cirrose (doença causada pelo uso excessivo do álcool). (Fonte: ABC da Saúde)
- Dados do Ministério da Saúde indicam que a taxa de suicídio aumentou 34%, entre 1979 a 1997. Em 1997, 6.920 pessoas teriam cometido suicídio. A população masculina jovem – de 20 a 24 anos – é o grupo que se encontra em maior risco para tal violência. Outros dados informam que, de 1991 a 2000, aconteceram 62.480 mortes por suicídio.
- Estatísticas da Agência de Polícia Nacional Japonesa revelam que o número de mortes em 2003 chegou a 34.427, o que significa um índice de 27 para cada cem mil habitantes. No ano 2000, a taxa no Japão foi de 34,1, comparado a 10,4 nos Estados Unidos, e 4,1 no Brasil. (Fonte: Revista Espaço Acadêmico - nº 44 - Janeiro/2005)
- A Rede Record exibiu em setembro do ano passado, no programa Domingo Espetacular, uma matéria sobre o tema segundo a qual "de acordo com estudo divulgado pela Organização Mundial de Saúde, um milhão de pessoas tiram a própria vida a cada ano, um número superior ao de baixas causadas anualmente pela guerra ou assassinatos, no mundo inteiro".
- No Brasil não encontrei grupos específicos para auxílio aos sobreviventes de uma morte por suicídio. Já nos EUA, destaco o Survivors of Suicide. Antigamente, havia também o site 1000 Deaths ( Mil Mortes - atualmente fora do ar) baseada em um pensamento:
Um suicida morre uma vez. Os que são deixados para trás morrem mil vezes tentando entender o porquê.
Retratos & Reflexos
Essa semana não vou colocar uma fotografia aqui. Motivado pelo tema de hoje e pelo pensamento "O que eu poderia fazer?", aqui vai um quadrinho dos Malvados, para reflexão:

A imprensa está pronta para um presidente negro?

Na última segunda-feira o canal GNT exibiu um documentário de meia-hora sobre o pré-candidato ao governo dos EUA, Barack Obama. Produzido pela britância rede BBC, o programa recebeu o nome de Is America Ready For A Black President? (A América está pronta para um presidente negro?). A jornalista Hilary Anderson faz um traçado da trajetória de Obama, sua história de vida, sua campanha e traz comparações com a campanha de sua concorrente, Hillary Clinton e paralelos com políticos negros, como Jesse Jeckson.
Assisti, para conferir como seria uma visão externa sobre a política dos EUA. Dado o enfoque do documentário, acredito que Hilary Anderson foi uma boa escolha, já que ela é correspondente da BBC na África. Embora tenha nascido no Texas (EUA), cresceu na Inglaterra, tendo vivido na Bélgica, Alemanha, África do Sul e Arábia Saudita.
Porém, como qualquer documentário, por mais talentoso que seja o jornalista e o editor, é difícil fugir de uma certa forma tendenciosa. Por enquanto, não vou tecer mais comentários, apenas pincelar algumas passagens.
Em uma primeira fase, por quase vinte minutos é passada uma visão positiva de Obama, sua aceitação entre negros e brancos, sua visão de unificação. Alguns termos usados: "novo John F. Kennedy", "jovem senador", "Em Chicago todos adoram Obama", "não concorre à presidência como um candidato negro, mas um candidato que é negro", "alguém que pode consertar o país destruído por Bush", "se preocupa com todos ", um candidato "como os brancos gostam: atencioso, articulado, bonito", "um homem à frente do seu tempo", "acredita que os EUA estão preparados para um presidente negro". Em outro oposto, por exemplo, Jesse Jackson é apresentado, como um canditado que "focou nos negros e foi agressivo". E apresenta a rival de Obama, Hillary Clinton como um "peso pesado" que se fez à sombra de Bill Clinton. O nome de Obama é pronunciado inúmeras vezes, as imagens são sempre festivas, enfim, uma apresentação positiva.
Nos últimos minutos do documentário, porém, outro ponto é abordado. Como 85% da população estadunidense é formada por cristãos, levanta-se uma acusação de que Obama teria um passado ligado à religião muçulmana (numa absurda "lógica" entre religião, fanatismo e terrorismo). Vários cidadãos são entrevistados (todos brancos) e, entre sorrisos amarelos e meias-palavras, dizem que não tem certeza, mas se sentem desconfortáveis com um candidato que esteja sob esta sombra de dúvida.
Claro que um documentário deve trazer todos os lados da história. Porém, mesmo em poucos minutos, tudo o que foi falado sobre Obama pode ira por água abaixo, principalmente quando o público que o assiste é formado por uma população assustada, ainda traumatizada pelos atos terroristas sofridos pela nação.
Mesmo assim, vale a pena asssitir. Se o seu inglês "dá para o gasto" há a versão (sem legendas) exibida pela GNT (clique aqui). Há também outra versão, mais antiga.

Desculpe
Como hoje está muito corrido, hoje não teremos a Capa da Semana.

Mississipi carioca

Nesta terça-feira, é você que manda. Você votou, você escolheu. O tema de março, com 45% dos votos, é a música instrumental. Para abrir o mês, selecionei um instrumental de uma banda nacional que completa 20 anos. Blues Etílicos é uma banda carioca com sotaque do Mississipi, que mantém quase a mesma formação desde 1987. Durante este período, apenas Gil Eduardo (filho de Erasmo Carlos) deu lugar para o baterista Pedro Strasser, em 1994, e o vocalista e gaitista Vasco Faé passou pela banda, entre 2003 e 2005.
Duas grandes marcas da banda são Greg Wilson e Flávio Guimarães. Greg, nascido no Mississipi, é vocalista, guitarrista e trompetista. Já Flávio é referência brasileira na gaita, tendo tocado com vários expoentes do blues internacional. Completam o time Otávio Rocha, considerado melhor guitarrista de slide, o baterista Pedro Strasser e o baixista e compositor Cláudio Bedran.
A música que escolhi é San-Ho-Zay, que dá título ao quarto álbum da banda (1990), com um ótimo arranjo que traz o trompete de Greg Wilson. A música é um clássico do blues, composta por Freddie King (1934-1976) e Sonny Thompson.

O que você fez no final de semana?

Válido também para
viciados em computador...
Fonte: Pavablog
(retirado de Amanhã é outro dia)

Alguma coisa está fora da ordem

Raquel Pacheco dá Ibope... Primeiro, abriu sua vida em um blog, narrando suas experiências com clientes como garota programa, quando usava o nome Bruna Surfistinha. Logo, conseguiu 15 mil visitas diárias (no blog, claro...). Em um enredo hollywoodiano, um de seus clientes - João Paulo, ou JP, para os íntimos, ou João Correa (seu verdadeiro nome) - abandonou a esposa para viver com Bruna, digo, Raquel. A fama midiática veio primeiro para João Paulo, que foi entrevistado por Jô Soares.
Em 2005, Raquel relatou sua história no livro O Doce Veneno do Escorpião - O Diário de uma Garota de Programa, quando passou a penetrar no inconsciente coletivo masculino. O livro vendeu mais de cem mil cópias em três meses! No ano seguinte, ela escreveu O que Aprendi com Bruna Surfistinha e no ano passado, com indicação na capa de "proibido para menores de 18 anos", saiu Na cama com Bruna Surfistinha, todos pela Panda Books.
Bom, porque entrei nesse assunto? Na verdade, fiquei espantado quando fui conhecer a nova livraria Saraiva do Shopping Pátio Paulista. A loja é muito bonita, megastore, com muitos livros, CDs e DVDs, além de artigos de informática, revistas e jornais. Passeando pelas prateleiras, dei de cara com mais uma obra da Surfistinha: o áudio-livro de O Doce Veneno, com "histórias inéditas e proibidas"...
Isso tudo foi duas semanas atrás. Deixei prá lá. Se está na prateleira, deve ter quem compre. Mas, sexta-feira saiu no guia do Estadão que a vida de Bruna também será levada ao palco, com direção de Rubens Ewald Filho para a adaptação do livro feita por Germano Pereira. A previsão é que a peça saia até setembro. Enquanto isso, a vida de Bruna ainda deverá ir às telas, com roteiro do cineasta Karim Aïnouz (O Céu de Suely e Madame Satã), em parceria com a escritora Antonia Pellegrino, direção de Marcus Baldini e produção da TV Zero. Será que os clientes da Surfistinha tentam se encontrar nos personagens do blog, depois do livro e futuramente da peça e do filme?
E, como a vida é imprevisível, não foi só Raquel que ficou famosa nessa história. Samantha Morais a ex-comissária de bordo que foi passada para trás pela Bruna, depois de posar de esposas traída em programas como SuperPop, em 2006 também lançou seu livro: Depois do Escorpião: uma História de Amor, Sexo e Traição.

A propósito
Falando no que dá Ibope, achei que tem tudo a ver com a profundidade do programa a resposta de Boninho para a coluna Outro Canal, de Daniel Castro, publicado na Folha de S. Paulo neste domingo:
FOLHA - Em um teste de conhecimentos gerais, um “brother” disse que Boa Vista é a capital do Acre. Na semana passada, uma “sister” se complicou toda tentando conjugar o verbo trazer. Existe um limite de Q.I. para poder participar de “Big Brother Brasil”? Qual?
J.B. DE OLIVEIRA, O BONINHO
(diretor-geral de “BBB”) - Tem sim. Um participante tem que ter pelo menos o Tico e o Teco. Ou seja, nada muito difícil. Até porque, estando preso na casa, ele não precisa saber onde fica Boa Vista. E, como não pode pedir nada, o verbo trazer é insignificante.
Dica
Amanhã (03/03) o canal pago GNT exibe dois documentários interessantes: A América está preparada para um presidente negro? e Castro. O primeiro é sobre a corrida presidencial estadunidense. Inclusive, escrevi uma notinha sobre Barack Obama hoje, no Confraria Ekklesial. O segundo documentário é sobre o ex-presidente cubano.

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