.

Últimas palavras

Há quase seis anos o mundo parou diante de imagens estarrecedoras. Marco do homem moderno, que cada vez tenta chegar mais alto com suas construções, as chamadas “Torres Gêmeas” do World Trade Center desabaram após serem atingidas por dois aviões. Atônitos, jornalistas tornaram-se espectadores, uma vez que aquilo que assistiam ao vivo era inexplicável.

Parte de um complexo de sete prédios, planejado e construído na década de 60, as “Torres Gêmeas”, destacavam-se em Nova Iorque pelos seus 110 andares e já haviam sido alvo de um atentado terrorista, em 26 de fevereiro de 1993, quando um caminhão com mais de 600 quilos de dinamite explodiu na garagem, matando seis pessoas. Mas foi em 11 de setembro de 2001 que o mundo parou para assistir o resultado de um ardiloso plano terrorista. Às 8:45 horas da manhã, um Boeing da empresa American Airlines, foi seqüestrado e atingiu a Torre Norte. Às 9:03 horas, outro Boeing seqüestrado, da United Airlines, chocou-se contra a Torre Sul e as “Torres Gêmeas” desabaram como se tivessem sido implodidas. Momentos depois, no estado da Virginia, um terceiro Boeing seqüestrado foi arremessado contra o Pentágono, a sede do Departamento de Defesa dos EUA.

O único avião que não atingiu o alvo foi o vôo 93, da United Airlines, que caiu em um campo próximo de Shanksville, na Pensilvânia, graças à ação da tripulação e dos passageiros. Uma tentativa de reconstrução da história desses momentos de terror é retratada no filme “Vôo United 93”. O filme é interessante e bem construído, com base nos últimos telefonemas reais dos passageiros. Conta, claro, com um enredo hollywoodiano, a partir de uma visão totalmente ocidental que procura construir a figura do “herói norte-americano”. Mesmo assim, após assistir o filme, duas questões ficaram na minha mente e as faço a você, caro leitor:

1) Se o fim de sua vida estivesse eminente, de uma forma acidental (não prevista), e você tivesse opção de fazer contato apenas com uma pessoa, quem seria esta pessoa?

2) Formalizado este contato, o que você teria a dizer e o que gostaria de ouvir?

A proximidade com a morte, por vezes, é reveladora. Muitos pais esperam chegar ao leito da morte para revelar segredos ou desmentir informações que, durante anos, eram consideradas uma verdade. Outras pessoas só conseguem expressar em palavras o seu amor quando percebem que não terão mais tempo para amar. E muitos percebem que utilizaram muito mal o seu tempo, focando no trabalho ou em si mesmos e perderam momentos preciosos, com a família e amigos.

Certo dia, um amigo chamava a atenção a um dos Dez Mandamentos, o imperativo “não furtarás”. Juridicamente, roubo e furto são diferentes. O roubo é violento, feito na presença do dono de um bem. Já o furto é sutil, calculado. E, nem sempre envolve bens materiais. Podemos, por exemplo, furtar a imagem de uma pessoa, quando espalhamos uma falsa fofoca. Há também o furto do amor, quando doamos, mas esperamos algo em troca. E há o furto do tempo, quando deixamos de nos dedicar à família, aos amigos, enfim, às pessoas e passamos a nos dedicar a coisas, nos tornando cada vez mais egoístas e mesquinhos.

Julho, tradicionalmente, é um mês de férias, para aqueles que estudam ou têm filhos na fase escolar. Mesmo que não seja seu caso, se puder assista ao filme “Vôo United 93” e pare para refletir em como tem planejado o seu tempo, seu lazer, suas amizades. Pois, às vezes, quando percebemos que furtamos nosso tempo, pode ser muito tarde.


(Publicado em julho/2007 na Revista Ave Maria)

0 Opiniões:


Google