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Intolerância(s)

20 de abril de 1997 – 5 jovens de classe média alta jogam álcool e ateiam fogo ao corpo do índio pataxó Galdino Jesus dos Santos, 45, que dormia sob um cobertor em um ponto de ônibus, após participar das comemorações do Dia do Índio, em Brasília. Os jovens afirmam que pensavam que se tratava “apenas” de um mendigo. Galdino tem 95% do corpo queimado e morre algumas horas depois do ataque. Um dos envolvidos, menor de idade, fica apenas 3 meses preso em um centro de reabilitação. Em 2001, os maiores de idade são condenados a 14 anos de prisão. Em 2002, uma decisão controversa da Justiça concede autorização para que exerçam funções administrativas em órgãos públicos e, em agosto de 2004, ganham o direito à liberdade condicional.

20 de abril de 1999 – 2 estudantes de classe média, com 17 e 18 anos, entram com 4 armas pesadas e explosivos na conceituada escola secundária Columbine High School (Colorado, EUA). Explodem as bombas, ferem 23 pessoas, matam 12 colegas e 1 professor. Suicidam-se dentro da biblioteca, deixando apenas uma nota: "Não culpem mais ninguém por nossos atos. É assim que queremos partir".

6 de fevereiro de 2000 – Madrugada. O adestrador de cães Edson Néris da Silva, 35, caminha de mãos dadas com seu amigo Dario Pereira Netto, 34, na Praça da República, centro de São Paulo. Surpreendidos por uma gangue com as cabeças raspadas, Dario consegue fugir e pedir ajuda. Devido aos chutes e golpes de soco-inglês, Edson morre no hospital. A polícia detém 18 pessoas e apenas 2 são condenadas a 21 anos de prisão, em 2001. Outros recebem penas brandas, por tentativa de homicídio e formação de quadrilha.

31 de outubro de 2002 – O casal Manfred e Marísia von Richthofen é assassinado dentro de sua mansão, em um bairro nobre da zona sul de São Paulo. Após as investigações, revela-se a participação da filha do casal, Suzane, 19, e dos irmãos Daniel, 21, e Christian Cravinhos, 26. Após o assassinato, Suzane e seu namorado, Daniel, vão para um motel de luxo. Durante o enterro, Suzane demonstra grande tristeza. Em julho de 2006, Christian é condenado a 38 anos e 6 meses de prisão e Daniel e Suzane a 39 anos e 6 meses.

23 de junho de 2007 – 5 jovens universitários roubam o dinheiro, celular e documentos e espancam a empregada doméstica Sirley Dias de Carvalho Pinto, 32, que esperava um ônibus na Barra da Tijuca, bairro nobre do Rio de Janeiro. Um taxista anota a placa do carro dos agressores, o que possibilita identificá-los. Segundo um jornal carioca, a polícia revelou que os jovens voltavam de uma festa e acreditavam que Sirley era uma prostituta. Durante o depoimento riam, dizendo que nada aconteceria a eles porque, “no Rio de Janeiro, é comum matar e roubar sem que haja conseqüências”.

Estes são alguns dos muitos crimes brutais ocorridos nos últimos 10 anos. Violência, ódio e intolerância são resultados de uma sociedade em que queimar vivo um índio (“apenas” um mendigo), matar um homossexual, planejar o assassinato dos pais ou agredir uma empregada doméstica (“só” uma prostituta) não traz nenhum peso à consciência de quem pratica tais atos.

É claro que a Justiça deve ser mais eficiente e menos cooperativista. A sociedade deve cada vez mais se indignar com aquilo que vai contra os direitos do ser humano. E, na célula da sociedade, a família, hábitos precisam ser mudados, conceitos revistos e a ética revalorizada. Pais precisam trocar o “dar presentes” pelo “estar presente” e passar preceitos positivos aos filhos, não só através de palavras, mas principalmente de sua própria conduta pessoal.


(Publicado em setembro/2007 na Revista Ave Maria)

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