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Feliz 2008

Em minha última mensagem do ano, vou passar a palavra para
Paul David "Bono" Hewson, Dave "The Edge" Howell Evans,
Adam Clayton e Larry Mullen Jr.





New Year's Day -
U2

Dia de Ano Novo

Tudo está quieto no Dia de Ano Novo
Um mundo em branco está a caminho
Eu quero estar com você
Estar com você noite e dia
Nada muda no Dia de Ano Novo
No Dia de Ano Novo

Eu estarei com você novamente
Eu estarei com você novamente

Debaixo de um céu vermelho-sangue
Uma multidão de preto e branco se ajuntou
Braços entrelaçados, os poucos escolhidos
Os jornais dizem, dizem
Diz que é verdade
É verdade
E nós podemos atravessar
Mesmo divididos em dois
Podemos ser um

Eu... Eu começarei novamente
Eu... Eu começarei novamente

Oh! Talvez esta seja a hora certa
Oh! Talvez essa noite

Eu estarei com você novamente
Eu estarei com você novamente

E então nós diremos que esta é a Era Dourada
E o ouro é a razão das guerras que declaramos
Mesmo que eu queira estar com você
Estar com você noite e dia
Nada muda
No Dia de Ano Novo

Caros Amigos

Não há isenção jornalística. Ponto. Partindo-se deste pressuposto, tudo que lemos, ouvimos e vemos, merece o devido filtro. Um exemplo: para ler Caros Amigos, é preciso saber que é uma revista mais à esquerda, que a maior parte dos colaboradores vão tentar justificar o governo Lula, vão meter o pau nos tucanos, etc e tal. Porém, depois de um período em que a leitura tornou-se até mesmo chata, creio que a revista tem voltado a tomar um prumo melhor. Na edição de dezembro, por exemplo, você encontra textos muito legais, como:

- Renato Pompeu, em Memórias de um Jornalista Não-Investigativo. Neste artigo, Pompeu volta ao passado, no tempo em que um texto de jornal passava, além do repórter, "também pelo redator, subeditor,editor, subsecretário, secretário e dois revisores". Hoje, embora a tecnologia tenha cortado tempo (e funcionários), muitos erros são vistos nos periódicos.

- Eduardo Matarazzo Suplicy, que escreve um texto pessoal e motivacional, intitulado Aprender piano aos 65 anos.

Mas, o que chamou a minha atenção mesmo, nesta edição de dezembro, foram dois artigos de certa forma polêmicos e que se contrapõem em essência e, por isso mesmo aguçam a reflexão. Vou reproduzi-los a seguir e aguardo seus comentários. O primeiro, é do poeta Ulisses Tavares e o segundo, do Frei Betto, escritor e frade dominicano. Só uma ressalva. Na edição de Caros Amigos o texto do Frei Betto saiu editado (reduzido) e eu preferi colocar o texto completo, que foi publicado no Adital.

Seres Natalinos e Imaginários
Ulisses Tavares

Em Deus eu não acredito. Acho tedioso e inútil entrar num revendedor autorizado de Deus (a igreja) e pedir alguma coisa a um ser do imaginário infantil e patrocinador das guerras. O Tio Patinhas do universo ouve apenas o tilintar das moedas.
Já em Papai Noel eu acredito. Fruto do sistema capitalista, do qual também faço parte, se bem que da banda dos explorados, suas regras são claras. Pagou, levou.
Onipresente e espalhafatoso, este portador de obesidade mórbida e roupa de palhaço é acessível ali no shopping center ou no camelô. Brega, interesseiro, oportunista, mas gente como a gente.
Se você quer algo terráqueo, pode se dirigir ao Papai Noel mais próximo e obter na hora. Democrático, o adiposo vestido com as cores da coca-c
ola tem de tudo para todos.
O rico, da zélite, encontra no saco do velho polonortista, do bom e do melhor. O podre, da zémanélite, também sai com seu presentinho
made in china e, se der sorte, com um cartão de esmola, digo, benefício governamental.
Papai Noel, realista, dá a cada um conforme sua posição na pirâmide social, que é aquela onde meia dúzia fica lá em cima, na pontinha, cagando na cabeça da maioria.
Já Deus, é um cara nebuloso. Única prova de sua existência é aquela que se vê nos noticiários: todo bandido brasileiro, de colarinho branco ou encardido, ao entrar ou sair da cadeia garante que Deus não o abandonará.

Mais convincente é Papai Noel, que, também nos noticiários de televisão, distribui panetones vencidos e brinquedinhos vagabundos para os pobres que moram lá naqueles lugares onde as empregadas se escondem nas ceias natalinas.
Deus faz parte da mitologia. Papai Noel da nossa idiotia.
E, afinal, Deus não tem cara.

Já Papai Noel é a cara de um presidente que um dia nós acreditamos muito. E que, se Deus quiser, ainda vai trazer o presente prometido. Ou não?

Ceia de Natal
Frei Betto


A Missa do Galo deu-se por celebrada na primeira hora de 25 de dezembro. Padre Afonso deixara-se contaminar pela aflição dos fiéis, ansiosos por retornarem às suas casas e desfrutarem a ceia antes de as crianças murcharem de sono. Abreviou a homilia, pulou orações, desejou a todos Feliz Nat
al e deu-lhes a bênção final. Uma dezena de paroquianos ombreou-se na sacristia para manifestar-lhe votos de boas festas. Presentes sobrepunham-se a um canto: camisas, meias, livros, essas coisas adequadas a um homem de Deus.
Dependurados os paramentos, padre Afonso viu-se sozinho. Miseravelmente só, em plena noite de Natal. O celibato é um dom e ele o sabia ter mere
cido. Ao longo de vinte anos de sacerdócio acometeram-lhe muitas tentações. Não era o fascínio das mulheres que o levava a duvidar de sua consagração. Admirava-as, sentia-se gratificado por achá-las belas e atraentes. Sinal de que havia nele um macho, o que no íntimo o envaidecia. Perturbava-o a consciência do pai que nunca fora. Muitas vezes sentia saudades dos filhos que não tinha.
Atormentava-o ver-se sozinho à mesa de refeições. Comer é comunhão, partilha, entremear ao cardápio o diálogo ameno e alegre. O alimento lhe caía insosso e, com freqüência, se surpreendia sonhando de olhos abertos, a mesa cercada por su
a família imaginária.
Naquela noite a solidão lhe bateu forte. Uma solidão com a ponta de amargura advinda de uma expectativa frustrada. Sentia-a na boca da alma. Nenhum
dos paroquianos lhe acenara a gentileza de um convite à ceia.
Padre Afonso revirou os embrulhos de cores brilhantes e encontrou o que bastava: um panetone e uma garrafa de vinho. Enfiou-os na pasta usada para levar sacramentos aos enfermos e dirigiu-se à zona boêmia.
Shirley
Shirley trazia os olhos inchados, o peito sufocado, o coração miúdo. Desde o fim da tarde chorara copiosamente ao recordar os natais de sua infância no norte de Minas. Lembrou da família que a repudiara, do marido que a abandonar
a, do filho que dela se envergonhava. Sentiu ódio da vida, da desfortuna a que fora condenada. Confusa, teve medo e vontade de sentir ódio também de Deus.
Pudesse, não trabalharia naquela noite. Todavia, não lhe restava alternativa. O acúmulo de dívidas a obrigava a ir à rua e aguardar o dinheiro ambulante que chegava escondido atrás da fantasiosa excitação de sua fortuita freguesia.
Mirou o homem de pasta na mão, camisa sem gola, sapatos escuros. Talvez viesse do trabalho. Enquadrou-o na tipologia adquirida em tantos anos de calçada: tinha o jeito ingênuo dos que buscam apenas aliviar-se e, na hora da cobrança, preferem ser generosos no pagamento a enfrentar uma prostituta irada disposta ao escândalo.
Trocaram olhares e ela se esforçou para estampar u
m sorriso sedutor. Ele parou e indagou; ela apontou o hotel de alta rotatividade na esquina. Caminharam lado a lado em silêncio, ela sobrepondo seu profissionalismo aos sentimentos esgarçados, ele apreensivo frente ao receio de ser flagrado ali por algum conhecido. Subiram as escadas opacamente iluminadas, em cujos degraus as baratas se desviavam ariscas.
Ao abrir o primeiro botão da roupa, ela ameaçou dizer qualquer coisa, mas ele se adiantou. Explicou que não estava ali em busca de sexo, e sim de companhia. Haveria, contudo, de pagar-lhe o devido. Contou-lhe de seu sacerdócio e de sua solidão, e indagou se ela se dispunha a orar com ele e compartir a ceia.
Shirley sentou na cama, enfiou o rosto entre as mãos
e desabou em prantos. Agora era um choro de alívio, de gratidão por algo que ela não sabia definir, quase de alegria. Logo, falou de seus natais na roça, o presépio em tamanho natural que o pai armava no quintal do casebre, o peru engordado durante meses para a ocasião, o bendito puxado por uma vizinha na falta de igreja e padre naquelas lonjuras.
Padre Afonso propôs fazerem uma oração. Ela se ajoelhou e ele tomou-a pela mão e fez com que se sentasse de novo. Ele ocupou a única cadeira do quarto. Abriu o Evangelho de Lucas e leu, pausadamente, o relato do nascimento de Jesus. Em seguida, perguntou se ela gostaria de receber a eucaristia. Shirley pareceu levar um choque. Como ela, uma puta, poderia receber a hóstia sem sequer ter se confessado? O sacerdote leu o texto de Mateus (21,28): "As prostitutas vos precederão no Reino de Deus". E acrescentou que era ele, e essa sociedade cínica, injusta, desigual, que deveriam se confessar a ela e pedir perdão por a terem obrigado a uma vida tão degradante.
Após a comunhão, padre Afonso tirou dois copos da pasta, encheu-os de vinho e partiu o panetone. Clareava o dia quando os dois ainda co
nversavam animados sobre suas vidas.

Capa da semana
A última capa da semana do ano vai para The Manila Times, jornal de Manila (Filipinas), que traz a foto do "trenó" do Papai Noel em tempos de guerra.

Superação - Parte IV

Na última terça-feira do ano, para finalizar a série Superação, um pouco da história de um compositor que marcou a história da música. O alemão Ludwig van Beethoven nasceu em 16 de dezembro de 1770. Sua arte marcou a transição do Classicismo (século XVIII) para o período Romântico (século XIX). Neto do regente da Capela arquiepiscopal na corte da cidade de Colônia, aprendeu as primeiras noções de música com seu pai e, aos 9 anos, foi confiado a Christian Gottlob Neefe, para os estudos musicais. Com 11 anos já compunha e, em 1784, foi nomeado segundo organista da capela. Logo em seguida tornou-se violoncelista na orquestra da corte e em 1787 foi enviado para Viena para estudar com Joseph Haydn. Nesta cidade permaneceu até o final da vida.
Beethoven compôs sua primeira sinfonia em abril de 1800, quando já sentia os primeiros sinais de uma perda auditiva severa. Sem sucesso, tentou vários tratamentos e terapias, o que o levou a uma profunda depressão e até a pensamentos suicidas, chegando a redigir, 1802, o Testamento de Heilingenstadt. Porém, algo maior o motivava, o que o levou, mesmo praticamente surdo a finalizar em 1824 a que seria a maior de suas obras-primas: A Sinfonia nº 9 em Ré Maior Op. 125.
Embora não estivesse completamente surdo, Beethoven não podia distingüir nuances e timbres. Mesmo assim, compôs esta sinfonia - provavelmente resultado de quase 20 anos de trabalho - a partir de uma poesia escrita por Friedrich Schiller, Ode an die Freude (Ode - ou Hino - à Alegria), o que representou uma grande inovação, pois pela primeira vez foi inserido um coral em um movimento de uma sinfonia.
A primeira execução desta obra aconteceu em 7 de maio de 1824, no Kärntnertortheater, em Viena (Áustria), sob regência de Michael Umlauf. Em virtude da deficiência auditiva de Beethoven, ele foi convidado a assistir a estréia de sua obra ao lado do maestro. Ainda assim, está registrado que, abstraído na leitura da partitura, o compositor não percebeu o final e os aplausos do público, até o momento em que Umlauf tocou em seu braço e, então, Beethoven agradeceu ao público.
Depois da Nona Sinfonia, Beethoven ainda compôs mais de 40 obras até sua morte, em 26 de Março de 1827, porém a "Nona" foi sua última sinfonia. O quarto movimento desta sinfonia foi escolhido como Hino da União Européia, pela síntese que faz de ideais clássicos ligados ao Humanismo, à Fraternidade, à Liberdade e à Igualdade e, em 12 de janeiro de 2003, passou a fazer parte oficialmente da Memória do Mundo por ser uma obra que, além de seus méritos musicais, se converteu em um hino universal das aspirações de paz e fraternidade.
No DoxaOnline, selecionei o segundo movimento (Molto Vivace), executado pela Orquestra e Coro da Orquestra Filarmônica do Sul da Alemanha, sob regência de Henry Adolph. A obra toda tem cerca de uma hora de duração, sendo que a parte mais conhecida - o quarto movimento - tem quase meia hora. Recomendo sua audição, pois é onde foi inserido o poema do poeta, dramaturgo, filósofo e historiador alemão Friedrich Schiller. Segue uma tradução do trecho, em português:

Baixo
Oh amigos, mudemos de tom!
Entoemos algo mais prazeroso
E mais alegre!

Baixo. Quarteto e coro
Alegre, formosa centelha divina,
Filha do Elíseo,
Ébrios de fogo entramos
Em teu santuário celeste!
Tua magia volta a unir
O que o costume rigorosamente dividiu.
Todos os homens se irmanam
Ali onde teu doce vôo se detém.

Quem já conseguiu o maior tesouro
De ser o amigo de um amigo,
Quem já conquistou uma mulher amável
Rejubile-se conosco!
Sim, mesmo se alguém conquistar apenas uma alma,
Uma única em todo o mundo.
Mas aquele que falhou nisso
Que fique chorando sozinho!

Alegria bebem todos os seres
No seio da Natureza:
Todos os bons, todos os maus,
Seguem seu rastro de rosas.
Ela nos deu beijos e vinho e
Um amigo leal até a morte;
Deu força para a vida aos mais humildes
E ao querubim que se ergue diante de Deus!

Tenor e coro
Alegremente, como seus sóis corram
Através do esplêndido espaço celeste
Se expressem, irmãos, em seus caminhos,
Alegremente como o herói diante da vitória.

Coro
Abracem-se milhões!
Enviem este beijo para todo o mundo!
Irmãos, além do céu estrelado
Mora um Pai Amado.
Milhões se deprimem diante Dele?
Mundo, você percebe seu Criador?
Procure-o mais acima do Céu estrelado!
Sobre as estrelas onde Ele mora!

Sorry!

Devo pedir desculpas a você, leitor freqüente do DoxaBrasil. Mas, este final de ano está enlouquecedor. Na última quinta, era meu penúltimo dia de serviço antes das merecidas férias. Para colaborar, meu Vírtua (conexão de Internet) caiu. Aí, passou o tempo e não escrevi nada. Depois, no sábado, estava preparando-me para viajar, a fim de passar o Natal com parentes no interior. Ficou para depois. Finalmente, acabo de chegar de viagem. Mas, ainda a tempo de desejar a você e toda sua família um ótimo Natal e que ele tenha um real significado, não comercial ou de falsa harmonia familiar, mas sim o sentido do nascimento que deu origem a essa comemoração, que dividiu o tempo em antes e depois dEle e que pode fazer a verdadeira diferença em corações, mentes e vidas. Que Cristo nasça e renasça em nossos corações, não só hoje, como todos os dias da nossa vida, trazendo paz, harmonia, alegria e amor.
Nesse dia, recomendo a leitura do texto O Presépio e a Prosápia, do meu amigo Wilson Tonioli.

Superação - Parte III

O terceiro escolhido para a série Superação nasceu em 13 de Maio de 1950, na cidade de Saginaw - Michigan (USA). É compositor, cantor, multi-instrumentista, produtor, além de um intenso ativista das causas humanitárias. Stevie Wonder é o nome artístico de Steveland Hardaway Morris. Nasceu prematuro e, devido a um problema no fornecimento de oxigênio na incubadora, foi acometido de uma retinopatia que o levou a perder a visão.
Sua mãe orientou que os irmãos o tratassem da mesma forma que as outras crianças, sem super-proteção. Aos 4 anos, sua família mudou-se para Detroit, onde o talento musical do menino começou a despontar. Aprendeu a tocar piano e bateria e, em 1961, numa pequena apresentação foi descoberto por Ronnie White, que conseguiu que ele fosse ouvido na gravadora Motown. Steve foi contratado imediatamente e seu primeiro trabalho foi produzido por Clarence Paul. Com apenas 12 anos de idade, adotou o nome artístico de Little Stevie Wonder.
Em agosto de 1973, Wonder sofreu um grave acidente automobilístico, foi atingido por um objeto na cabeça, ficou quatro dias em coma. Após sua recuperação, a única seqüela foi a perda do olfato.
Stevie Wonder é um grande campeão do Grammy, com mais de 20 premiações - o primeiro, em 1973 (Melhor música R&B) e o mais recente em 2006 (com Tony Bennett). Também ganhou o Oscar de melhor canção (1984), com o clássico I Just Called To Say I Love You, da trilha de A Dama de Vermelho. Além disso, tem seu nome no Hall da Fama do Rock e também no Hall da Fama dos Compositores.
A música de hoje - Can´t Imagine Love Without You - é do último trabalho de Wonder, o álbum A time to love (2005) . Nele, o músico demonstra todo seu potencial, pois produziu, escreveu todas as letras e músicas, além de cantar e tocar vários instrumentos. É necessário prova maior de superação, força de vontade e talento?
Este álbum é recheado de participações especiais: Paul McCartney, Prince, India.Arie, Kim Burrell, Kirk Franklin, Doug E. Fresh, além da filha de Wonder, Aisha Morris. Há também uma participação do carioca Oscar Castro-Neves, na música Sweetest Somebody I Know. Aliás, falando em parcerias com músicos brasileiros, é antológica uma participação de Wonder na música Samurai, de Djavan.

Can´t Imagine Love Without You
Can you picture mother earth in the palm of your hand?
The entire universe as a tiny grain of sand
And it feels impossible to do
As I can´t imagine love without you

Think of drinking every sea with its salty waters dry
Sprinting round the world three times faster than a rocket flies
And the thought of it you can´t pursue
As I can´t imagine love without you

Some thoughts are just no brainers
Not worth an ounce of time
Yet others inconceivable
So they never cross your mind

Travel back though life inside one atlantis summer´s night
Add up every single star
Since the day there first was light
How and where to start
You´ll have no clue
As I can´t imagine love without you

Yet others inconceivable
So they never cross your mind
Travel back though life inside one atlantis summer´s night
Add up every single star
Since the day there first was light
How and where to start
You´ll have no clue
And the thought of it you can´t pursue
´cause it feels impossible to do
As I can´t imagine love without you
I can´t imagine love without you

Prutuguêis

Neste sábado, mais um ótimo texto do amigo Mario Persona (Mario Persona CAFE)


Camões, go home!
por Mario Persona©

Esta pode ser a última vez que falo com você. Por quê? Porque vai cair meu link. Nem Internet eu vou poder usar e ninguém mais vai ter endereço de e-mail. Eu não vou mandar e você não vai receber. Depois que o estrangeirismo virar contravenção, nem trabalhar eu vou poder.
E como poderia trabalhar com marketing? Meus clientes jamais iriam entender uma propaganda politicamente correta que anunciasse: "Fazemos planejamento de mercancia". Por falar nisso, vou correr fazer backup dos serviços que já fiz, porque daqui a alguns dias o backup não vai mais funcionar.
O projeto anti-estrangeirismo volta e meia volta, e agora foi até aprovado. O autor é o deputado Aldo Rebelo do PCdoB, a quem eu gostaria de perguntar se "Partido Comunista" é mesmo do Brasil. Sabe o que vai acontecer? Nadinha. As pessoas vão continuar dizendo "Ok" porque é mais fácil do que dizer "Está bem".
Se os primeiros habitantes desta terra tivessem se protegido dos estrangeirismos eu estaria escrevendo em tupi, macro-jê ou num dialeto qualquer desses troncos lingüísticos nativos. Nada do português yankee que aportou aqui há meros 500 anos. Seríamos obrigados a devolver a língua de Camões, a qual Pero Vaz de Caminha usou para selar sua famosa carta.
Não existe idioma original. Tirando as línguas que surgiram na Convenção de Babel, todo idioma é uma colcha de retalhos emprestados, cortados, tingidos e costurados. O folklore que nossos avós falaram virou folclore, e nossos netos vão aprender na escola a conjugar os verbos deletar e zipar. Pode escrever, é assim que funciona. O estrangeirismo de hoje será o português de amanhã.
Idiomas são dinâmicos, impossíveis de serem mantidos intactos numa redoma. A verdade é que a palavra ou expressão que comunicar melhor uma idéia vai prevalecer, seja ela em português ou sânscrito. Não sei onde ouvi que existe uma lei que diz que a tendência dos sistemas complexos é ficarem mais simples. Não é a lei do Aldo Rebelo, é outra. Por isso hoje falamos "você" em lugar de "vossa mercê".
Quem traduz sabe que o inglês é um idioma mais curto. Uma tradução para o português ganha uns 10% a mais de letrinhas, e é por isso que as palavras inglesas mais enxutas acabam emplacando. E nem elas a gente perdoa. Quando o goal inglês desembarcou aqui nós o transformamos no gol português.
Se você for um náufrago numa ilha deserta e tiver cocos para escrever apenas três letras na praia, o que vai escrever, SOC ou SOS? Não, "SOS" não é abreviatura de "Sou O Sobrevivente", mas de "Save Our Souls". O idioma não é um fim em si mesmo, mas uma ferramenta à disposição da comunicação. Peças conservadas em museus são belas, mas nada práticas.
Mas, se mesmo assim a tal lei pegar, o jeito é correr tirar xerox de todos os seus documentos. Depois o garoto da copiadora não vai entender se você pedir cópias reprográficas. É provável ainda que as cópias voltem a ser à mão, pois as copiadoras eletrônicas deixarão de funcionar quando proibirem o chip e o software.
Sorte de quem acabou de fazer um leasing, porque não vai precisar mais pagar, e o call center não vai ligar cobrando porque também não vai existir. Azar de quem recebe hollerith ou comprou um fax, porque não vai funcionar. Máquinas fotográficas? De agora em diante virão sem zoom e sem flash, mas no camelô talvez encontre alguma feita no Paraguai já legalizada, com zum e fléche. Os computadores virão sem modem e vamos voltar a usar calça social. Nada de jeans.
Mas não pense que isso é implicação do governo só com a língua inglesa. Não é. Acabou a happy hour em restaurante de sushi. E nem pense em pizza como opção, porque não vai ter. Não me pergunte como as coisas vão acabar em Brasília. O bom é que agora a gente vai se livrar dos cantores de karaokê, mas também acabou o banho de ofurô.
Bem, pode ser que permitam aportuguesar as palavras, como já fizemos com o sanduíche. Mas não sei se quem gosta de rock vai trocar por roque, pop por pópi e hip-hop por ripirrópi. Ou se os saudosistas aceitarão traduzir big band para banda grande, fox-trot para trote de raposa e querer ouvir "Os Besouros" e "As Pedras Rolantes" em seu iPod. Xi! iPod pode? Talvez o reencontro do "Dirigível Conduzido" nem venha para o Brasil. Estão suspensos todos os shows.
As mulheres também serão grandes prejudicadas. Ficará difícil encontrar blush, rímmel, shampoo, ou laqué spray. E ninguém mais vai usar soutien ou bikini, nem vestir tailleur ou prêt-à-porter. As mais medrosas vão evitar o computador nacional com medo do rato, e aquela receita de strogonoff da sogra vai virar picadinho. Sem champignon, nem sobremesa com chantilly.
Os deputados que aprovaram a tal lei provavelmente não mediram suas conseqüências. Quem viaja a Brasília sabe que os vôos mais cheios são os que chegam lá nas terças e os que saem de lá nas quintas. Se já leva esse tempão para visitarem suas bases, agora as excelências vão demorar ainda mais, pois serão obrigadas a ir de carro. Ninguém vai conseguir fazer check-in.

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© Mario Persona é escritor, palestrante e consultor de comunicação e marketing.
Fones +55 (11) 3525-7338 - (19) 9789-7939 - SKYPE: mpersona
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Blog & Mídia

O fenômeno da "Internetização" da mídia tem feito com que muitos jornalistas façam do blog uma opção para escrever mais explicitamente o que pensam. Um dos primeiros que mereceu destaque (embora não seja o pioneiro) foi Ricardo Noblat que, ao ser demitido de um "jornal de papel", passou a viver exclusivamente de seu blog particular. Como nem só de Internet vive o homem, logo em seguida foi convidado a estabelecer seu blog em um portal, de onde saiu posteriormente para escrever, não só no blog como no jornal O Estado de S. Paulo. Atualmente, Noblat tem suas idéias nas páginas virtuais de O Globo.
Em maio, quatro jornalistas pernambucanos criaram o blog PEbodycount, que conquistou o prêmio Vladimir Herzog deste ano, na categoria Internet. O blog contabiliza os mortos em Pernambuco e traz uma reflexão sobre os acontecimentos.

Outros destaques:
- Marcelo Tas. Seu blog é meio bagunçado mas tem algumas coisas interessantes.
- Claudio Humberto. Blog sobre política. Detalhe: o jornalista foi porta-voz de Fernando Collor.
- Embora cada vez mais eu goste menos das posturas do Paulo Henrique Amorim, ele também mantém um blog-site com bastante conteúdo.
- Sobre cinema, vale a pena conferir o blog do Luis Carlos Merten.
- O Observatório da Imprensa também tem um espaço interessante de blogs .

No momento inativos:
- Paulo Markun manteve durante um bom tempo um blog muito legal, mas não consegui localizar mais nada sobre ele (nem a página pessoal). Talvez seja em virtude dele ter assumido a TV Cultura...
- Paulo Moreira Leite, do Estadão, parou de blogar para assumir um posto na Imprensa Oficial.

Conhece mais algum? Conte prá gente!

Rapidinhas
- Depois de dez anos de tramitação, foi derrubado ontem na Câmara Municipal de São Paulo o veto à Lei 575/1997, de autoria do vereador Dalton Silvano, do PSDB, que proíbe o uso de portas giratórias (sejam de vidro ou de qualquer outro material) e de detectores de metais no acesso ao interior de bancos e de instituições financeiras na capital paulista. (Fonte: OESP)

- Com quórum de 79 senadores, o artigo 2 da PEC - o que tratava da prorrogação da CPMF - foi derrubado. O governo precisava de 49 votos e só conseguiu 45, enquanto a oposição marcou 34 votos. (Fonte: OESP)

12 de dezembro

Há 22 anos, o baixista Roger Waters deixava a banda Pink Floyd. O grupo, formado em 1964, era liderado pelo pscodélico cantor, compositor e guitarrista Syd Barrett. Devido ao uso excessivo de drogas, em 1968 Barret saiu e David Gilmour entrou em seu lugar, a convite de Waters, que gradualmente tornou-se o líder e principal compositor da banda.
E foi justamente devido a uma briga entre Waters e Gilmour que, após o álbum The Final Cut (1983), o baixista deixou a banda e seguiu carreira solo. A briga foi parar na Justiça mas, no final, Gilmour, o tecladista Rick Wright e o baterista Nick Mason continuaram a usar o nome Pink Floyd.
Em 2005, a pretexto do Live Aid 8, a banda se reuniu, porém Waters e Gilmour mal se olharam durante a apresentação. Já em maio deste ano, em um show de tributo a Syd Barrett - que morreu em 2006 - Roger Waters recusou-se a tocar com os outros integrantes e fez uma apresentação separada.

Data marcada
Segundo alguns, o primeiro show de expressão do Pink Floyd também foi em um 12 de dezembro, em 1965. Mais curiosidades sobre a banda.

A quem interessar possa

Nasceram em 12 de dezembro
Inauguração de Belo Horizonte, em 1897
Francis Albert (Frank) Sinatra, em 1915
Senor Abravanel (Sílvio Santos), em 1930
Arnaldo Jabor, em 1940
Emerson Fittipaldi, em 1946

Morreram em 12 de dezmbro
José de Alencar, em 1877
Manoel Bandeira, em 1968
As esperanças de que Fernando Collor e PC Farias fossem condendos por corrupção passiva, já que o Supremo Tribunal Federal os absolveu, por cinco votos a três, em 1994
Keiko (baleia "atriz" de Free Willy), em 2003

Dica
Péricles Cavalcanti faz o show O REI DA CULTURA, em formato intimista, com a participação de Leo Cavalcanti na percussão e em duetos vocais.

Sábado - 15/12 - 19h
Biblioteca Alceu Amoroso Lima
Avenida Henrique Schaumann, 777 - Pinheiros
Tel: 11 3082-5023
Entrada Franca
O repertório é baseado no CD O REI DA CULTURA, mas Péricles promete também suas canções mais conhecidas, como: Negro Amor, Farol da Jamaica, Medo de Amar nº 3 e Elegia.

Superação - Parte II

Na segunda semana da série Superação, o escolhido é o pianista e maestro brasileiro João Carlos Martins. Considerado um dos maiores intérpretes de Bach, Martins começou a estudar piano aos 8 anos. Seu talento despontou em apenas 9 meses, ao vencer o concurso da Sociedade Bach de São Paulo.
A música tornou-se uma verdadeira obsessão, fazendo com que estudasse até 20 horas por dia. Porém, sem nenhuma poesia, havia uma pedra no caminho do pianista. Uma pequena pedra que, durante um acidente em um jogo de futebol, em Nova York, entrou próximo ao cotovelo e começou a mudar os rumos da carreira de João Carlos, que teve um nervo rompido e começou a perder o movimento da mão esquerda. O ano era 1965. Com dores, tocou por mais cinco anos, mas depois de uma crítica negativa em um importante jornal (que Martins considerou correta), abandonou a carreira, chegou a vender todos seus pianos e a se afastou da música, vivendo como empresário do mundo do boxe. Porém, a música foi mais forte. Em 1973 comprou um piano, adaptou sua forma de tocar e voltou a ativa.
Dores, agora advindas pela síndrome de movimentos repetitivos (LER) o fizeram parar de novo. Voltou a tocar alguns anos depois, mas o destino novamente lhe pregou uma peça. Em 1995, reagiu a um assalto em Sofia, na Bulgária, e um golpe levado na cabeça causou uma lesão cerebral que comprometeu seu lado direito. Mesmo depois de sucessivos tratamentos e cirurgias, tocar trazia-lhe dores insuportáveis, o que não o impediu, porém, de completar os 21 volumes da coleção Integral Bach. Chegou a realizar experimentos de reprogramação cerebral, que recuperaram os movimentos, mas trouxeram um efeito colateral: ao falar, sentia muitas dores e sofria espasmos na mão.
A obra que você ouve nesta semana no DoxaOnline é a Sonata em Mi Menor, de J. Haydn, gravada em setembro de 2000, na mesma cidade do último acidente de Martins: Sofia (Bulgária). Seria a última obra do artista utilizando as duas mãos. No início deste mesmo ano, para eliminar as dores que sentia com o "efeito colateral" da reprogramação, João Carlos submeteu-se à uma cirurgia na mão direita, que seccionou um nervo e atrofiou gradualmente os dedos daquela mão. Ao tomar conhecimento da notícia, o músico recebia a visita de Heiner Stadler (presidente da gravadora Labor Records) e afirmou: "Quem sabe alterando os dedilhados e mudando algumas passagens para a mão esquerda eu ainda posso gravar o CD com a obra de Mozart e Haydn conforme estava programado, nem, que seja somente para mim e minha família". Não só conseguiu gravar, como também emocionar quem ouve este lindo trabalho.
E a história não parou por aí. Devido ao uso em excesso da mão esquerda - para compensar o falta da direita - surgiu um tumor benigno, que foi operado e levou Martins a perder, definitivamente, os movimentos da mão esquerda. Martins não se deu por vencido. Estudou regência e, como não conseguia segurar uma batuta ou mesmo virar as páginas de uma partitura, sua única alternativa foi memorizar as peças, o que demonstrou mais uma vez sua determinação e perfeccionismo. Em uma entrevista, Martins revela: “Se Deus me deu a missão de trabalhar com música, é preciso respeitar isso...”.
A história e o exemplo de João Carlos Martins deram origem ao documentário franco-alemão Martins Passion (Paixão Segundo Martins - 2004), vencedor de 4 Festivais Internacionais e assistido por mais de um milhão e meio de pessoas na Europa.

Em tempo
Só para esclarecer, a sonata clássica é uma composição para instrumentos solistas e é dividida, na maior parte, em três movimentos - em geral dois rápidos e um lento. Esta sonata de Haydn tem início com o Presto (em italiano, rapidamente), seguido pelo Adagio (lentamente) e termina com Finale Molto Vivace (vivo). Os maiores exemplos de compositores desse gênero foram Mozart, Haydn e Beethoven.

Osso duro de roer

Noite de quarta-feira, 5 de dezembro de 2007. Em um dos auditórios do Hotel Ca’d’Oro, no centro de São Paulo, mais de 200 pessoas ouvem atentas as experiências de Rodrigo Pimentel. Não fosse um filme, do qual foi co-roteirista, talvez Pimentel continuasse apenas mais um dos ex-integrantes do BOPE, grupamento de elite da Polícia Militar carioca. Mas, Elite da Tropa (o livro) e Tropa de Elite (o filme), tornaram Pimentel ao mesmo tempo amado e odiado, pela crítica e pela sociedade. Ao lado de Pimentel, na mesa de debates esteve o teólogo Ed René Kivitz, escritor de Vivendo com Propósitos e Outra Espiritualidade. Na mediação dos trabalhos, em meio ao fogo cruzado, o Tenente-Coronel Gerson Pinheiro Gomes (Exército). Realizado por Galilea Consultoria e Treinamento, com a produção de Sérgio Pavarini e equipe, o debate apresentou um tema contundente: Não matarás: A viabilidade de uma cultura de paz.


O filme

Polêmico. Talvez o mais ameno dos adjetivos que recebeu. Fenômeno. Este adjetivo é, com certeza, também aplicado. O foco dessas opiniões é o filme Tropa de Elite, com direção de José Padilha, que estreou no último dia 05 de outubro. No primeiro final de semana em exibição nas salas de cinema, o filme atraiu cerca de 180 mil espectadores, um número alto para um filme nacional. Mas, o que mais chamou a atenção, foi a estimativa de que mais de um milhão de cópias da versão pirata (em DVD) já tinham sido comercializadas – fora o tráfego do filme disponibilizado pela Internet.

O roteiro, baseado em um Rio de Janeiro fictício de 1997, traz às telas um grupamento policial de elite, o BOPE (Batalhão de Operações Especiais), que sobe aos morros cariocas com a intenção de limpar o território. Para tanto, usa expedientes como a tortura e espancamentos. A liderança do grupo é do Capitão Nascimento (personagem de Wagner Moura), que tem fé em seu trabalho e nos meios que usa para chegar a um bom resultado. Porém, ao invés de satisfação pessoal, Nascimento passa a viver uma crise pessoal e familiar, sofre de crise do pânico e insônia. Paralelamente, o filme esbarra na questão da conivência de ONGs com a liderança do tráfico, além do outro lado da história, a sociedade classe média, que vive embaixo do morro, mas seria quem financia indiretamente a violência ao consumir os produtos do tráfico.


O nascimento de Capitão Pimentel no cinema

Na composição do personagem Capitão Nascimento, merece destaque a figura do Capitão Rodrigo Pimentel, responsável pela intensiva preparação de Wagner Moura para seu papel e co-roteirista do filme. Membro da Polícia Militar do Rio de Janeiro entre 1990 e 2001, Pimentel entrou na polícia aos 18 anos e foi capitão do BOPE de 1995 até 2000. É pós-graduado em sociologia urbana pela UERJ e hoje também atua como consultor de segurança. Sua primeira experiência com o cinema ocorreu entre 1997 e 1998, ainda na PM, quando participou do documentário Notícias de Uma Guerra Particular, dirigido por João Moreira Salles e Kátia Lund. O filme revela o dia-a-dia de policiais, moradores e traficantes, no morro da Dona Marta (RJ).

Cerca de cinco anos depois, fora da PM, Pimentel foi para detrás das câmeras. Colaborou na confecção de outro documentário, agora com o diretor José Padilha. Ônibus 174 trata de um seqüestrou que mobilizou o país, que assistiu pela televisão, o desenrolar do caso durante a tarde do Dia dos Namorados do ano 2000. Além da mídia, cerca de duas mil pessoas se aglomeraram na região do Jardim Botânico (RJ), a fim de assistir frente a frente cada lance, como se assistisse a um filme. À medida que o tempo passava, o ódio e o desejo de vingança aumentavam, levando a multidão a desejar cada vez mais a morte do seqüestrador, Sandro Rosa do Nascimento. Ao escolher o ponto de vista de Sandro, para o filme, Padilha e Pimentel foram taxados de “radicais de esquerda”, embora sempre tenham deixado claro que não queriam defender a atitude do ex-menino de rua, sobrevivente da chacina da Candelária (1993). Ao final, uma refém morta e Sandro morto no camburão da polícia, cujo comando da operação era do BOPE.

Durante as filmagens de Ônibus 174, Pimentel comentou com Padilha seu interesse em fazer uma ficção sobre a polícia do Rio de Janeiro. Enquanto o roteiro do filme era desenhado, em 2005 o ex-PM escreveu o livro Elite da Tropa, em parceria com André Batista e Luiz Eduardo Soares. Em 2007, Tropa de Elite – o filme – estoura, primeiro no mercado paralelo, e, depois, no cinema. Cinco anos após Ônibus 174, Padilha e Pimentel agora são acusados de adotar o ponto de vista da polícia para justificar a tortura e a violência, além de transformar Capitão Nascimento em herói.

Embora muitos acreditem que Capitão Nascimento é baseado apenas na história pessoal de Pimentel, este afirma que é um “personagem fictício baseado em acontecimentos ocorridos com ele e com outros amigos seus, integrantes do BOPE”.


“Não Matarás”

Como falar sobre espiritualidade, amor, paz e justiça a partir do filme Tropa de Elite? Para Ed René Kivitz, uma questão é primordial: reconhecer a “autoridade das autoridades: Deus”. Assim, é possível abordar o caráter religioso, como normatizador ou construtor da consciência.

Estabelecido este parâmetro, antes de mais nada é preciso observar que a expressão bíblica “não matarás”, integrante dos Dez Mandamentos da história judaico-cristã, melhor seria traduzida como “não assassinarás” ou “não construirás uma sociedade que mata”. Matar, sem assassinar, segundo Kivitz, é a morte que não ocorre como forma de retaliação, sem ser motivada pelo ódio.

A retaliação ou a vingança, aliás, seria uma errônea interpretação da Lei de Talião, “olho por olho, dente por dente”, já que esta determina o grau justo para que alguém exerça seu direito, uma vez que a ação de quem revida sempre supera o ato que a gerou.

Porém, em oposição aos Dez Mandamentos e à Lei de Talião, Jesus Cristo apresentou outras alternativas para lidar com a violência, dentre elas: virar a outra face, amar e abençoar o inimigo.

E como seria possível para a polícia, órgão que tem legitimidade perante o Estado e perante a sociedade, conter a violência? Para Kivitz, “conter a violência é diferente de conter bandido. Quando a polícia e o Estado entram no ciclo de ódio, eles retroalimentam a violência e precisam ser parados, pois não se constrói uma sociedade de paz sem justiça e é impossível construir uma sociedade de justiça sem a legalidade. Tudo que está acima da lei ou fora da lei é barbárie”.

Portanto, a atuação da sociedade norteia a construção da cultura de paz, através da formação de uma consciência de paz. Para isso, o teólogo cita Nelson Mandela: “Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender; e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a amar”.


Vivendo na pele

Rodrigo Pimentel, em sua fala, acabou por concordar com Ed René, principalmente no ponto em que não é só a polícia a responsável pela violência, mas esta é um reflexo da construção de uma sociedade que mata. Por outro lado, Pimentel comentou a repercussão do filme, que, ao seu ver, fugiu do objetivo inicial, que era retratar o cotidiano da polícia carioca. Durante a preparação de Wagner Moura, para viver o personagem Capitão Nascimento, sempre destacou que era preciso “torturar sem ódio”. Em contraponto, concorda que “a sociedade autoriza informalmente o uso da força letal, através do chamado mandato policial. Segundo pesquisas, 91% da população carioca aprova a ação da polícia nos morros e favelas, mesmo que resulte entre 19 a 42 mortes”.

Um exemplo da reação da sociedade é o caso do Ônibus 174. “Se eu ouço disparos, corro para o outro lado. Naquele fim de tarde, o que está registrado pelas emissoras de televisão, inclusive com visão aérea, quando ocorreram os disparos, duas mil pessoas, ao invés de correr na região oposta, correram para a direção dos disparos. Ou seja, queriam a morte de Sandro”, comentou Pimentel. Outro exemplo: “Na exibição de Tropa de Elite, tanto no Leblon quanto no subúrbio, as cenas de tortura foram aplaudidas”, surpreende-se.

Porém, o ex-PM é enfático em afirmar que “a ilegalidade não funcionou na polícia do Rio. Só aumentou o número de mortes”, o que seria um exemplo prático de que realmente não é possível paz sem justiça e justiça sem legalidade.


Repercussão

“Não houve embate, polêmica e nem grandes controvérsias. Capitão Pimentel fez uma análise lúcida do problema da violência no Rio – e percebemos mais do que nas entrelinhas, de que o esforço governamental carece de inteligência. Já Ed René enfatizou a perspectiva cristã do amor e do Reino. Sem evangeliquês e com muita propriedade e equilíbrio. Duas referências para um tema tão relevante só poderia deixar gostinho de quero mais. O ponto alto veio nas respostas que os apresentadores deram aos questionamentos da platéia. É incrível como certas perguntas revelam uma inocência abismal de cristãos igrejeiros que pouco pensam e pouco compreendem os significados de sua fé”.

(Volney Faustini - diretor-executivo da Editora Atos,
consultor empresarial, preletor e blogueiro)



“Gostei do evento, foi bem relevante. Acredito que o Capitão Pimentel amadureceu suas idéias e não acredita mais na violência como solução. Fiquei surpreso com a posição do Ed René, ao afirmar que o Estado precisa deter o mal e para isso, às vezes, precisa matar, ao contrário da forma que a maioria evangélica afirma. Ele foi bem realista. Também achei interessante que ele falou que, embora todas as pessoas são redimíveis, uma coisa é ser redimida e outra é pagar pelo que fez”.

(Henderson da Silva Moret – videomaker e
mantenedor do blog OutraVia)



Registro

Confira as fotos do evento. Clique aqui (também em versão SlideShow).


Reflexão

Assim que soube do evento, lembrei-me de um texto do Frei Betto, publicado no site Adital:

Violência e Agressão

Friedrick Hacker (1914-1989), psiquiatra usamericano, analisou com propriedade as raízes da violência que impera neste mundo globocolonizado que se ajoelha reverente ao deus Mercado. A agressividade é própria da natureza animal, incluída a espécie humana. Denota o nosso espírito de sobrevivência.

Frente a determinadas circunstâncias, cada um é agressivo a seu modo: ironia, humor, astúcia desprezo, presunção etc. Violência é quando se rompe a barreira da alteridade e a força física se impõe sobre o mais frágil ou indefeso e como reação ao agressor.

Quase nunca entendemos como violenta a ação que atinge o outro, exceto quando nós somos as vítimas. Se a polícia cerca, na saída de um cinema, nosso grupo de amigos, e exige que fiquemos todos de mãos na parede e pernas abertas, enquanto nos revista, consideraremos uma violência. Se do alto da janela do apartamento vemos a mesma cena, com a diferença de que os detidos são jovens de periferia, admitimos que a polícia cumpre o seu dever.

Sentimos mesmo certo alívio por saber-nos protegidos pelo Estado que, sustentado por nossos impostos, nos oferece segurança. Se um dos amigos protesta pelo modo como está sendo apalpado e recebe em resposta um empurrão, fica patente a violência. Para o policial em nenhum momento houve violência. Julga apenas que cumpre o seu dever.

É o caso do pai que, ao retornar do trabalho, descobre que o filho mais velho bateu no mais novo. Para dar-lhe uma lição de que nunca deve bater em alguém mais fraco do que ele, o pai dá uma surra no mais velho. Sem nenhuma consciência de que pratica exatamente o que recriminou.

É essa contradição entre o discurso sobre a educação e os métodos aplicados que dissemina o comportamento violento. Por que o mesmo ato cometido por um é repreensível e, por outro é, legítimo? Esse pai jamais se considerará violento. Se questionado, dirá apenas que é seu dever educar.

Esta a estrutura em que a violência se apóia: é sempre praticada, como se fosse ato de justiça, legitimada por uma razão superior, seja o Deus dos cruzados ou dos fundamentalistas; a defesa da propriedade privada; o liberalismo do Mercado; os deveres de uma boa educação etc.

A violência é a mais primária forma de manifestação da agressão. Toda a estrutura da sociedade, com suas leis e instituições, contém boa dose de agressividade, assim como a disciplina que os pais impõem à boa educação dos filhos. Ela favorece a nossa convivência social e reprime nossas tendências auto-destrutivas.

O melhor exemplo de agressividade sem violência é o esporte. Já a violência é rasteira, cruel, repetitiva, o que permite à polícia identificar o modus operandi de criminosos, pois ela se propaga sem a menor criatividade, exceto os equipamentos bélicos concebidos para torná-la mais e mais brutal e massiva.

Para saber lidar com a agressividade é preciso certo refinamento de espírito. Já a violência é burra, não exige educação, está ao alcance de qualquer um. O mais grave é que nos acostumamos à prática da violência. Covardes, não ousamos usar as próprias mãos, mas aplaudimos quando a polícia espanca o bandido; a lei retroage a idade penal; o plebiscito libera o comércio de armas; o Estado decreta a pena de morte etc. Sem nos dar conta de que nos deixamos dominar pela parte mais primária de nosso cérebro, lá onde se aloja o réptil que nos precede na escala evolutiva e do qual somos tributários.

Se uma sociedade perde a sensibilidade à violência e ignora a limite que deve perdurar entre ela e a agressividade, isso aquece o caldo de cultura do autoritarismo. O sentimento de humilhação que a Primeira Guerra impôs ao povo alemão favoreceu a ascensão do “vingativo” Hitler. A derrota de Bush pai no Iraque, em 1991, impeliu boa parte da opinião pública dos EUA a apoiar, em 2003, o filho disposto a “lavar a honra”.

Ninguém é capaz de atacar seu semelhante, a menos que produza, entre si e o outro, a dessemelhança. Assim, o homem bate na mulher por considerá-la imbecil; o branco agride o negro por encará-lo como inferior; a grande nação decreta guerra à pequena que se nega a abrir mão de sua soberania; o líder popular passa a ser demonizado pela mídia, de modo a deslegitimar a causa que defende. Essa postura distancia, desculpabiliza, abre caminho à violência como legítima e até legal.

Não convém erradicar a agressividade própria do humano e que nos impele a alcançar metas e conquistas. O desafio é fazer a distinção ensinada por Hacker e criar uma cultura baseada no mais primordial paradigma da alteridade, que tem a sua origem Naquele que, radicalmente diferente de nós, nos criou à sua imagem e semelhança.

Frei Betto é escritor, autor de Treze contos diabólicos e um angélico (Planeta), entre outros livros.

Imperdível

Neste sábado vai rolar mais de 14 horas do melhor som no Capão Redondo. É o IV Festival de Música do Jardim Jangadeiro, que vai apresentar, entre outros nomes: Rappin' Hood, Leci Brandão, Izzy Gordon e Johnny MC. O destaque vai para o guitarrista norte-americano Stanley Jordan, grande nome do jazz internacional. Além das apresentações, haverá também DJ, Grafitagem, Low Rider, Break, Beat Box e Free Stile.

IV Festival de Música Beneficente do Jardim Jangadeiro
Praça do Jardim Jangadeiro
Rua João José Rodrigues - Capão Redondo
Sábado - 8 de dezembro de 2007 - a partir das 14h
ENTRADA FRANCA
Mais informações:
(11) 5870-1073 ou imprensa@dadomacedo.com.br

Poucas palavras

São mais de três horas da manhã e hoje vou apenas indicar um evento jornalístico:

O programa Rumos Jornalismo Cultural chega à sua segunda edição e convida jornalistas, escritores e acadêmicos para discutir o novo cenário da profissão. Que conseqüências as transformações tecnológicas e comportamentais trarão para a relação entre a informação e as manifestações culturais e artísticas? E para a prática do jornalismo cultural?
O Colóquio Rumos Jornalismo Cultural, com curadoria de José Castello, põe em debate temas como o lugar do jornalismo cultural na internet, a relação entre o jornalismo cultural e a ética e o espaço da crítica de arte no mundo contemporâneo.
De 06 a 08 de dezembro, no Itaú Cultural (Avenida Paulista, 149 - próximo à estação Brigadeiro de metrô).

Prêmio
O repórter fotográfico Tiago Brandão levou o Prêmio Esso de Fotografia pelo trabalho Mãe salva filho em piscina, publicado no jornal Comércio da Franca. As fotos registram o momento em que a sapateira Maria Jerônima Campos joga-se em um poço - mesmo sem saber nadar - para salvar seu filho de nove anos. (Fonte: ARFOC)

Antes de mais nada
Um dos motivos do meu cansaço, hoje, é que arrumei minhas fotos - até final de 2006 -no Picasa (depois da falência do Yahoo! Fotos e das restrições do Flickr). Quem quiser conferir, é só clicar.

Outro motivo é que fiquei até 23h no debate Não Matarás: A viabilidade de uma cultura de Paz. Foi simplesmente fantástico. O Capitão Rodrigo Pimentel (ex-integrante do BOPE, no Rio de Janeiro) pôde expor sua maneira de pensar e demonstrar o quanto a mídia e o lugar comum muitas vezes interpretam erroneamente o filme em que ele foi roteirista - Tropa de Elite -, originado do livro que ele é co-autor, Elite da Tropa. Do outro lado da mesa, estava Ed René Kivitz, escritor, teólogo e conferencista. Até domingo escrevo mais sobre o evento mas, até lá, curta as fotos que tirei (também em versão SlideShow).

Capa da Semana
Hoje a escolhida vem do jornal A Gazeta, de Vitória (ES). Será que a careta do Romário é para a notícia da nova absolvição de Renan?

Chefe novo

Acaba de sair o resultado das eleições no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Para presidente, foi eleito o desembargador Roberto Antônio Vallim Bellocchi, com 190 dos 271 votos válidos. Houve 40 votos brancos e 26 votos nulos.
Também foram eleitos os desembargadores Jarbas João Coimbra Mazzoni e Ruy Pereira Camilo, para os cargos de vice-presidente e corregedor-geral de Justiça, respectivamente.
O novo presidente do TJ/SP para o biênio 2008-2009 é carioca, formado em 1965 pela PUC/SP e iniciou a carreira na magistratura em 1966, aos 25 anos.

Escolha seu programa

Não é por falta de opções que você vai ficar em casa nesta quarta-feira. A primeira, é uma apresentação do coral AudiCoelum, com regência de Roberto Rodrigues, na Igreja São Luis Gonzaga. Participei deste grupo no início de sua formação e recomendo. No programa, o Barroco Jesuíta.
Você também pode deixar para assistir o AudiCoelum no próximo domingo à noite, no Mosteiro de São Bento e aproveitar para participar, nesta quarta, do debate sobre o tema: Não matarás: A viabilidade de uma cultura de paz. Presença de Ed René Kivitz e Capitão Rodrigo Pimentel (Tropa de Elite). Às 19h30, no Teatro Ca'D'Oro. Mais informações: (11)3257.4909 ou eventos@pavazine.com.

Superação - Parte I

Neste mês, o tema das músicas - às terças aqui no Doxa - será superação. Artistas que deixaram de lado doenças, preconceito, acidentes, venceram e mostram ao mundo a importância da força de vontade, garra e perseverança.
Para abrir, hoje você curte a música One Night At Ken And Jessica's, do pianista francês Michel Petrucciani, gravada no CD Michel plays Petrucciani, de 1987.
Nascido, em 1962, numa família musical - pai guitarrista e irmão baixista - Petrucciani começou a tocar piano aos 4 anos. Ainda na infância recebeu o diagnóstico da osteogenensis imperfecta, doença degenerativa que o fez chegar à idade adulta com 90 cm de altura e 30 kg.
Nada disso impediu, porém, que aos 16 anos estivesse à frente de um trio de jazz, gravando seu primeiro trabalho um ano depois. No início dos anos 80, foi para a Califórnia e sua carreira ascendeu. Em 86, participou do Festival de Montreux, com Jim Hall e Wayne Shorter.
Gravou mais de dez discos e faleceu em 6/01/99, vítima de uma infecção pulmonar.
Abaixo, confira uma das performances de Petrucciani:

Ão, ão, ão

Não tem o que falar. Não bastasse o gosto amargo, o duro é amanhecer preparado para as gozações. E olha que o pessoal exercitou a criatividade. No meu serviço houve até cortejo fúnebre, puxado por são paulinos... Agora agüenta!!!

Cidadania à fórceps

Eu confesso! Já cometi o pecado de aceitar um desconto em troca da não emissão de uma nota fiscal. Porém, agora estou no processo inverso. Virei o maníaco da nota fiscal. Quando como qualquer lanchinho ou no almoço do dia-a-dia, já falo de cara: "Vou querer a nota fiscal com CPF". Infelizmente, o principal motivo não é a cidadania pura e simples, mas o incentivo veio através do próprio governo. No caso de São Paulo, na capital e no estado.

Na área municipal, com a implantação da Nota Fiscal Eletrônica (NF-E), documento obrigatório para alguns estabelecimentos, na área de prestação de serviços. Quando é emitida uma NF-E, o munícipe tem a oportunidade de abater até 50% do valor do IPTU, em proporção ao ISS recolhido.

Na área estadual, o Programa de Estímulo à Cidadania Fiscal começou em outubro/20007, com a campanha da Nota Fiscal Paulista (NFP - diferente da eletrônica). Ao cadastrar o CPF na nota, 30% do ICMS recolhido pelo estabelecimento comercial volta para o consumidor que, no prazo de cinco anos, pode utilizar o crédito para ser abatido no IPVA, ou transformar em créditos em dinheiro (para serem depositados na conta-corrente, poupança e até cartão de crédito) e até mesmo serem transferidos/vendidos para terceiros.
Para a NFP, basta pedi-la e, antes, informar o número do CPF. Eu falo que é preciso falar antes, porque muitos lugares já têm a frase pronta: "Ah! Mas você não pediu antes!". Uma rara exceção - única até hoje - foi o Bob's do Shopping Light, onde a caixa perguntou antes se eu ia querer a nota com CPF. Fiquei até surpreso!
Os melhores estabelecimentos já emitem no cupom fiscal, registrado eletronicamente. Outros, precisam preencher à mão. Mas, acredito que vale a espera. Só acho que deveria haver uma campanha mais clara, pois dificilmente vejo alguém fazendo a solicitação da nota fiscal. Deveria haver cartazes lembrando o cliente de que é um direito, um dever e ainda do benefício que poderá ser obtido.
Por enquanto, a NFP pode ser solicitada em bares, restaurantes, padarias, lanchonetes e similares. Em dezembro, haverá mais estabelecimento, assim como nos primeiros meses de 2008. No site da Fazenda Estadual há um cronograma.

É uma pena que nós, cidadãos, só nos movamos quando há um benefício explicíto. Apesar que me lembro dos "Fiscais do Sarney", nos tempos da Sunab, que exerceram uma vigilância ostensiva no comércio, em um exemplo de cidadania e proteção do bem comum - mesmo a despeito do uso político e da confusão gerada pelo Plano Cruzado. Quem sabe, com o tempo, consigamos visualizar mais atos de cidadania, civismo e busca do bem estar social.

Olha a língua!

A capa desta semana vai para o jornal paulista Agora, que na edição de ontem deu destaque para uma foto, no mínimo, engraçada (Manchete: Cristiano, o ladrão trapalhão):

É fantástico?

Depois de dois projetos piloto - um chamado Almanaque Fantástico e outro já como revista -, além da edição semanal na TV, você poderá sofrer também com a edição trimestral da Revista Fantástico, com o "melhor" do foi ao ar e mais um pouco. Claro que há boas reportagens na revista eletrônica semanal, o que a fez durar 34 anos - até agora -, embora com mudanças de formatos constantes. Mesmo assim, a superficialidade é um dos pontos fracos do programa. E da revista também, nos textos curtos. Por outro lado, quando se aprofunda, a parcialidade é gritante. E, lógico, também tem alguma coisa boa.

Um exemplo de superficialidade. Na edição de 18 de novembro, o Fantástico (televisivo)apresentou uma matéria "caçando" funcionários públicos que honrassem seu serviço, trabalhando em um dia de ponto facultativo, no caso, 16 de novembro. A reportagem percorreu diversos prédios públicos, federais e estaduais e, claro, não encontrou quase ninguém. Além disso, colocou ao telespectador a "gambiarra" feita pelo poder Federal, ao passar o feriado do dia 28/10 (Dia do Servidor Público) para o dia 16/11. O problema é que colocou na mesma baciada os funcionários federais e estaduais. Esclareço: eu sou funcionário público estadual, trabalho no Poder Judiciário. Eu e meus colegas não poderíamos trabalhar no dia 16, a não ser com autorização superior expressa, o que envolveria os trâmites de segurança (abertura do prédio, luz, etc.). O que não foi esclarecido na reportagem é que nós não ganhamos esse dia de mão beijada. Na verdade, temos até o dia 17 de dezembro para compensar as horas não trabalhadas, como é público - e a reportagem saberia se acessasse o site do Tribunal de Justiça - e foi publicado no Diário da Justiça Eletrônico de 26/10/2007 - Edição 104 - páginas 1 e 2, como segue:
PROVIMENTO Nº 1388/2007
O CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA, no uso de
suas atribuições legais,
CONSIDERANDO o disposto no Provimento
1.257/2006;
CONSIDERANDO que o dia 16 de novembro do corrente recairá numa
sexta-feira, ficando intercalado entre o feriado nacional do dia 15, consagrado
à Proclamação da República, e o
fim-de-semana,
RESOLVE:
Artigo 1° - Não
haverá expediente, no Foro Judicial de Primeira e Segunda Instâncias do Estado e
na Secretaria do Tribunal de Justiça, no dia 16 de novembro de 2007, funcionando
somente o
Plantão Judiciário.
Parágrafo único - As horas não trabalhadas
deverão ser repostas até o dia 17 de dezembro de 2007, podendo, ainda,
utilizar-se o servidor das horas de compensação, cujo controle ficará a
cargo dos dirigentes, mencionando-se no Atestado de Freqüência apenas a
informação relativa aos servidores que deixaram de efetuar, no prazo, a referida
reposição.
Artigo 2º - Este Provimento entrará em vigor na data de sua
publicação, revogadas as disposições em contrário.
REGISTRE-SE. PUBLIQUE-SE.
CUMPRA-SE.
Quem não compensa as 8 horas, tem desconto no salário. O que me intriga é que a reportagem da Globo nunca compareceu aos sábados, quando eu e meus colegas fizemos mutirão para diminuir o atraso nos processos, causado não pela ineficiência dos servidores, mas pelo número reduzido de funcionários em comparação ao número de processos distribuídos na maior unidade judiciária do país.

Ou seja, o fator que confere qualidade a um trabalho jornalístico é a apuração. Erros de principiantes não devem ser tolerados, mas às vezes podem ser compreendidos. Mas, erros vindos de uma das maiores emissoras do país, são inadmissíveis. Ainda mais quando são irreversíveis e mancham a honra daqueles que ainda trabalham para as coisas darem certo - lutando, inclusive, contra aqueles funcionários que só penduram o paletó e querem o holerit no final do mês.

Se você gosta e quiser conferir, compre a Revista do Fantástico. Eu não recomendo. Aliás, com o dinheiro, minha dica é você comprar a edição da revista Trip, que está cada vez melhor, e que nesse mês trata, entre outros temas, o especial Biosfera. Tudo bem que pode ser uma desculpa dos marmanjos para admirar belas gurias... Mas, são 178 páginas de bom conteúdo e, como está no editorial, com "zero carbono". Além da revista, confira também o PodCast do programa TripEldorado, reunindo as entrevistas do programa semanal, que vai ao ar às sextas, às 20h, na Eldorado FM.

Ah! Como este final de ano está "de matar", amanhã entro na área para colocar a Capa da Semana, ok?

Sem palavras

Tenho tentado pisar um pouco no freio, neste final de ano. Uma intenção quase utópica, pra quem vive em uma cidade como São Paulo. Ontem, por exemplo, tentei atravessar do Norte ao Sul, fiquei preso no trânsito e, após quase uma hora e meia, desisti de prosseguir e voltei pra casa, o que levou mais uma hora. O que salvou foi o rádio do carro, respirar fundo e deixar rolar.
Pensando nisso, escolhi uma música para esta semana, que não tem palavras. A boa música instrumental tem a capacidade de nos levar para outras dimensões, florescer nossa imaginação, nos fazer levitar.
Para conduzir-nos nessa viagem, nada melhor do que os violões do alagoano Fernando Melo e do paulista Luiz Bueno. Esta dupla, que iniciou a trajetória há 30 anos - Luiz era guitarrista e Fernando, baixista - desplugou-se e fez dos violões sua vida musical. Assim nasceu o DUOFEL. Fizeram parte da banda de Tetê Espíndola, excursionaram com Hermeto Pascoal, ganharam o mundo.
Em 1994, gravaram - ao vivo, no Crowne Plaza - Espelho das Águas, CD que contou com a participação muito especial do percussionista indiano Badal Roy. É desse trabalho que você ouve a música Porto Feliz.

DICA
Se você curte Jazz, não pode perder o show de Diana Krall neste domingo, em São Paulo, no Parque Villa Lobos. A abertura do Telefônica Open Jazz ficará por conta da Banda Mantiqueira e da Traditional Jazz Band. Dia 02/12, a partir das 10h. A entrada é franca.

Shabbath

Enfim, sábado. Na cultura judaica, o Shabbath começa no pôr-do-sol de cada sexta-feira e é baseado no descanso divino após os seis dias da criação. A cultura cristã fez do domingo o seu dia do descanso, pois seria o dia da ressurreição de Cristo. Porém, as duas culturas celebram seu descanso de formas diferentes. Enquanto os judeus privam-se (leia mais) e fazem deste tempo uma pausa para reflexão espiritual e descanso físico, parece que os cristãos não se empenham em descansar nesse período. Igrejas promovem mais e mais atividades. Enquanto isso, em um país onde supõe-se haver uma maioria católica, o legislativo aprova o trabalho do comércio aos domingos, principalmente quando se aproximam datas festivas comerciais, como Dia das Mães ou Natal.
Tudo isso nos faz refletir o quanto o ser humano tem medo de ficar só, em silêncio, o que podemos chamar de solitude. O medo da solidão, do vazio criado quando nos aquietamos e começamos a conhecer nosso interior. Para fugir do silêncio, colocamos uma música alta, ligamos a televisão, saímos às compras ou para comer fora. O judeu não se sente privado de prazeres, mas também não destina esse dia para viajar e curtir a vida. O dia é para reflexão. Algo cada vez mais difícil em uma sociedade consumista. Um exemplo claro disso é o local preferido para passeio aos finais de semana, pelo menos nas grandes metrópoles, o templo do consumo, o shopping center.
Minha intenção não é criar ou exaltar um ritual. Seu shabbath pode ser no sábado, no domingo, ou até mesmo na quarta-feira. Minha intenção é chamar a atenção para a necessidade que temos de parar um pouco. Esse é significado literal da palavra shabbath: descansar, cessar, parar. Será que conseguimos sobreviver ao silêncio e à reflexão?

Jornalismo
Essa semana foi atípica, mais corrida do que o normal e não consegui escrever o post "De Quinta", sobre jornalismo. Escrevo hoje. Temas não faltavam. Talvez o principal seria a constatação do óbvio, ou seja, que vários políticos estão diretamente ligados à emissoras de rádio e televisão, que são concessões públicas.
Aliás, este é um debate que não é colocado ao público. As concessões comerciais de rádio têm duração de 10 anos, enquanto na TV o prazo é de 15 anos. Vencido este período, as concessões podem ou não ser renovadas, o que, na prática, não acontece, pois a renovação tem sido automática - não há conhecimento de alguma concessão não tenha sido renovada.
Também não há um processo amplo, transparente e democrático para discutir, em sociedade, a renovação ou a atuação dos meios de comunicação. Talvez porque alguns preceitos não sejam obedecidos. Por exemplo: a Constituição estabelece que nenhum parlamentar pode ter relação direta com empresa concessionária pública. Em relação ao conteúdo, a Constituição também é diariamente violada. O artigo 221 estabelece os princípios norteadores da programação das emissoras de rádio e televisão:
A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios:
I - preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;
II – promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação;
III – regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei;
IV - respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.
É possível ler mais sobre o aspecto jurídico da concessão no site Jus Navigandi. Por outro lado há um movimento, nascido na Câmara dos Deputados, que visa a "democracia e transparência nas concessões públicas", além da convocação de uma Conferência Nacional de Comunicação, com a finalidade de "estabelecer mecanismos democráticos de formulação, monitoramento e acompanhamento das políticas públicas para o setor". A idéia, a princípio, é boa. Vamos ver se sai do papel e do mundo das idéias.

Capa da Semana
A capa de hoje vai para o jornal estadunidense The Patriot Ledger, sobre o feriado do Dia de Ação de Graças, comemorado na última quinta-feira (22/11), nos EUA.

Confraria

Junto com alguns amigos, há alguns anos nos encontramos para bater papo, conhecer novos botecos e discutir um pouco sobre espiritualidade e como ela tem sido banalizada e deturpada por falsos apóstolos e profetas. Um pouco do que conversamos vai para o blog Confraria Ekklesial e para os blogs dos confrades. Hoje gostaria de chamar a sua atenção para dois textos de amigos que participaram do I Fórum Nacional de Cristianismo Criativo, promovido pela W4 Editora.

Fórum

O I Fórum Nacional de Cristianismo Criativo está a todo vapor. Embora o tema criatividade não tenha sido tão discutido diretamente, ao debater sobre arte e sobre cristianismo sempre é possível alguma conclusão indireta sobre a forma de pensar e agir da igreja e dos cristãos na atualidade.
No primeiro dia (05/11), nosso confrade Volney Faustini falou sobre arte, abordou a questão da literatura e debateu um pouco com o músico Jorge Camargo e com o Whaner Endo (da W4 Editora). O mediador foi Nelson Bomilcar. Veja aqui algumas fotos. Frases do dia:
"Toda arte e cultura foi criada por Deus e distorcida na queda".
"A igreja [atual] é irrelevante".
"É preciso [na arte] buscar a integridade e a excelência".
"A igreja se torna um vampiro [em relação aos artistas]".

No dia 12/11 foi a vez do músico Gerson Borges e do compositor “Wolô” Boruszewski falarem um pouco sobre poesia, criação e arte em geral. A mediação foi de Sérgio Pavarini. Fotos e frases:
"A poesia envolve: escrever, desfrutar, vivenciar".
"Pode-se oferecer [a arte] a Deus, ao próximo e a si mesmo".
"Arte é forma".

Ontem, 19/11, enquanto os paulistas estavam "ensanduichados" entre dois feriados, não sobrou lugar - nem no chão - para o debate sobre teatro, com a presença do trio de confrades: Carlos Eduardo (foto esquerda) e Wilson Tonioli (foto direita) - no debate - e Sérgio Pavarini - na mediação. Confira outras fotos do evento. Alguns fragmentos:
"A arte faz parte do nosso dia-a-dia (...) o homem está inseparavelmente ligado às artes".
"A música está muito mais presente no cotidiano das pessoas do que o teatro".
"Não sei se existe teatro cristão".
"A arte exige uma resposta [do seu público]".
"A igreja sempre quer entender [a arte]".
"A arte é uma enfermidade sem cura" (Paul Auster).
"No passado, o poeta não tinha medo de pensar sobre Deus".
"O sono da razão produz monstros" (Goya).
A música ficou a cargo de Glauber Plaça (de quem você pode curtir no nosso ConfraCast a música Príncipe da Paz, do CD Homens no Mar, canção inspirada na passagem de Isaías 32.18 e19.
príncipe da paz

que grande paz eu sinto agora em meu viver
não quero mais voltar ao meu
ao meu antigo ser
eis que tudo se fez novo
coisas velhas ficaram pra trás
encontrei refúgio à sombra de Deus
descanso ao coração
encontrei o seu perdão
vida nova em Cristo
única salvação

em pastos verdejantes ele me leva a andar
nos campos, lindos lírios ele me leva a olhar
mesmo em meio a grandes ondas
me convida a repousar
preocupações com o amanhã não tenho mais
pois encontrei o príncipe da paz

como é grande o seu amor por mim
eu não consigo entender
entregou-se até a morte
pra que eu tenha o seu viver

Agora resta apenas mais uma segunda-feira. Dia 26/11 o tema será Artes, Cultura e Cristianismo. Caminhos possíveis.
Estarão presentes o músico Carlinhos Veiga e o designer Wagner Archela, sob mediação de Nelson Bomilcar.

Em tempo: Acredito que eu já estou concorrendo ao prêmio "perguntador chato do evento"... (fotos: W4)


Confraria no Fórum
Fico muito feliz em estar ao lado de tão ilustres personagens. O I Fórum Nacional de Cristianismo Criativo prova isso. Uma importante e ousada iniciativa de Whander Endo, da W4 Editora, o fórum trouxe, logo na abertura, Volney Faustini, que colocou algumas perguntas sobre arte e cultura:
Somos nós a alternativa para a cultura? Nossa fé é reconhecida pelos de fora, como viva e verdadeira, autentica e frutífera, transformadora e compassiva? Diante dos desafios do mundo moderno, que tipo de progresso nossa fé e o Evangelho estão alcançando? (Leia na íntegra)

Outros confrade que se destacou foi o Wilson Tonioli, não só pelo que falou, mas pelas duas performances que apresentou, uma logo no início, surpreendendo a platéia - inclusive o mediador... E, ao final, esbanjou talento com seu filho Felipe, ilustrando algumas passagens registradas entre Jesus e seus discípulos. Na abertura dos debates, o Carlos Eduardo demonstrou sua dúvida se existe mesmo o chamado teatro cristão:
Acho que eu posso afirmar que todos nós, de alguma forma, nos relacionamos diariamente com a arte, seja ouvindo uma música no carro naquele trânsito caótico, ou andando a pé quando passamos em frente a uma escultura numa praça... eu que trabalho em plena Praça da Sé posso dizer que é imensa a quantidade de obras de artes plásticas em locais públicos, e que muitas vezes não damos a mínima atenção. (Leia na íntegra)

Nos blogs dos confrades também tem mais coisa, no Verticontes e no blog do Volney, onde destaco os posts sobre Arte (Partes  1 e 2) .

Don't Worry

Este feriado valeu a pena. Acabei abandonando o blog no sábado, mas aproveitei para colocar a leitura em dia. Precisamos aprender a parar de vez em quando, aproveitar o silêncio, a solitude. Em uma cidade como São Paulo, isso é muito raro.
Pensando nisso, nessa semana escolhi uma música do multi-músico (cantor, compositor, arranjador, produtor) Osvaldo Lenine Macedo Pimentel, ou apenas, Lenine. No final da adolescência, o músico pernambucano organizou uma loja de discos em Recife, para poder conhecer de tudo. Pouco tempo depois, aos 18 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro e, aos poucos, seu talento foi revelado para o Brasil e para o mundo.
A música que escolhi para o DoxaBrasil Online é do segundo trabalho solo de Lenine, intitulado Na Pressão:
Paciência
(Lenine/ Dudu Falcão)

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
A vida não pára

Enquanto o tempo acelera
E pede pressa
Eu me recuso, faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara

Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência
O mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência

Será que é tempo que lhe falta pra perceber?
Será que temos esse tempo pra perder?
E quem quer saber
A vida é tão rara, tão rara
Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Mesmo quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei,
A vida não pára



Para quem quiser saber mais sobre Lenine, além do site oficial - muito legal - tem o blog oficial. Aproveitando o tema, coloquei uma música do músico Glauber Plaça no PodCast do blog da Confraria Ekklesial, que fala sobre a paz em meio às preocupações. Além de curtir um ótimo som, aproveite para saber alguma coisa sobre o I Fórum Nacional de Cristianismo Criativo, que acaba na próxima segunda-feira (26/11).

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