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Blogs e Imbróglios

Celular, MP3, DVD. Em outros tempos, telégrafo, vitrola, tape deck. A evolução tecnológica faz com que sintamos a necessidade de sempre estarmos atualizados. Antes, tirávamos uma fotografia, levávamos o filme para que fosse revelado e esperávamos até uma semana para ver o resultado obtido. E nem sempre era o esperado. Às vezes estava fora de foco, a pessoa virou ou fechou os olhos. Hoje, , nas câmeras digitais, conferimos imediatamente e, se não gostamos, já apagamos.

Com a informação é similar. Além dos jornais diários e das revistas semanais e mensais, hoje dispomos de informações através das emissoras de rádio – algumas delas com 24 horas ininterruptas de jornalismo -, dos telejornais e também pela Internet. Nesta última, é impossível mensurar a quantidade de dados disponíveis e, até mesmo, quais deles são confiáveis ou não. Como no caso da explosão dos blogs.

O blog ganhou fama, inicialmente, como uma espécie de diário. A diferença é que o conteúdo não ficaria guardado a sete chaves. Pelo contrário, as conquistas, os temores, as decepções, tudo poderia ser registrado e acessado por qualquer usuário de Internet, em qualquer lugar do mundo.

Depois do uso adolescente, os adultos descobriram e gostaram deste novo brinquedo. E o assunto ficou sério. Jornalistas começaram a discorrer de forma mais informal e ilimitada sobre temas que tinham espaço e tempo restritos, nas linhas de um jornal impresso ou no tempo das rádios e TVs. Além dos profissionais da mídia, toda a sociedade também encontrou um espaço para manifestação pública, sobre os mais variados assuntos.

Nesse âmbito, algumas liberdades se sobrepõem. Existe a liberdade de manifestação, de imprensa e a individual. Esta última deveria prevalecer sobre todas. Na realidade, em nome da liberdade de imprensa, muitas vezes a individualidade e a privacidade do indivíduo é violada. Nestes casos, a empresa jornalística é responsável pelo material que divulga e, caso seja apurado eventual culpa, deve arcar com as conseqüências. Porém, como no famoso caso da Escola Base (em São Paulo), mesmo que haja uma decisão judicial favorável a quem teve sua honra ofendida, é impossível passar uma borracha no passado, o estrago já foi feito.

O caso dos blogs é emblemático. A grande maioria dos blogueiros é pessoa física. Pessoas que, sem nenhum gasto – apenas o acesso à Internet –, podem iniciar e manter um blog. Aí entramos no terreno da liberdade de manifestação. Até onde vai a nossa liberdade?

Quando escrevo para o meu blog, sempre leio, releio e até espero um pouco antes de publicar algo. Leio como autor e tento fazê-lo como leitor, também. Aqui, volto ao caso da câmera fotográfica. Antigamente, havia mais tempo para ler, antes que algo fosse publicado. Essa coluna, por exemplo, é lida, editada e passa por outras pessoas antes de ser publicada. Portanto, erros podem ser identificados e reparados. Já nos blogs – e na Internet em geral – é tudo imediato. Verdadeiro ou não.

É preciso duplo cuidado. Por aqueles que publicam algum tipo de material na Internet. Ética, coerência, apuração e respeito à liberdade individual são bem-vindos. E por todos nós, usuários, para que agucemos nosso espírito crítico, a fim de não acreditarmos às cegas em tudo que é publicado e também para denunciar eventuais abusos. Precisamos definir se queremos ver a foto que registrou o momento ou uma foto retocada.

(Publicado em novembro/2007 na Revista Ave Maria)

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