.

Olha a língua!

A capa desta semana vai para o jornal paulista Agora, que na edição de ontem deu destaque para uma foto, no mínimo, engraçada (Manchete: Cristiano, o ladrão trapalhão):

É fantástico?

Depois de dois projetos piloto - um chamado Almanaque Fantástico e outro já como revista -, além da edição semanal na TV, você poderá sofrer também com a edição trimestral da Revista Fantástico, com o "melhor" do foi ao ar e mais um pouco. Claro que há boas reportagens na revista eletrônica semanal, o que a fez durar 34 anos - até agora -, embora com mudanças de formatos constantes. Mesmo assim, a superficialidade é um dos pontos fracos do programa. E da revista também, nos textos curtos. Por outro lado, quando se aprofunda, a parcialidade é gritante. E, lógico, também tem alguma coisa boa.

Um exemplo de superficialidade. Na edição de 18 de novembro, o Fantástico (televisivo)apresentou uma matéria "caçando" funcionários públicos que honrassem seu serviço, trabalhando em um dia de ponto facultativo, no caso, 16 de novembro. A reportagem percorreu diversos prédios públicos, federais e estaduais e, claro, não encontrou quase ninguém. Além disso, colocou ao telespectador a "gambiarra" feita pelo poder Federal, ao passar o feriado do dia 28/10 (Dia do Servidor Público) para o dia 16/11. O problema é que colocou na mesma baciada os funcionários federais e estaduais. Esclareço: eu sou funcionário público estadual, trabalho no Poder Judiciário. Eu e meus colegas não poderíamos trabalhar no dia 16, a não ser com autorização superior expressa, o que envolveria os trâmites de segurança (abertura do prédio, luz, etc.). O que não foi esclarecido na reportagem é que nós não ganhamos esse dia de mão beijada. Na verdade, temos até o dia 17 de dezembro para compensar as horas não trabalhadas, como é público - e a reportagem saberia se acessasse o site do Tribunal de Justiça - e foi publicado no Diário da Justiça Eletrônico de 26/10/2007 - Edição 104 - páginas 1 e 2, como segue:
PROVIMENTO Nº 1388/2007
O CONSELHO SUPERIOR DA MAGISTRATURA, no uso de
suas atribuições legais,
CONSIDERANDO o disposto no Provimento
1.257/2006;
CONSIDERANDO que o dia 16 de novembro do corrente recairá numa
sexta-feira, ficando intercalado entre o feriado nacional do dia 15, consagrado
à Proclamação da República, e o
fim-de-semana,
RESOLVE:
Artigo 1° - Não
haverá expediente, no Foro Judicial de Primeira e Segunda Instâncias do Estado e
na Secretaria do Tribunal de Justiça, no dia 16 de novembro de 2007, funcionando
somente o
Plantão Judiciário.
Parágrafo único - As horas não trabalhadas
deverão ser repostas até o dia 17 de dezembro de 2007, podendo, ainda,
utilizar-se o servidor das horas de compensação, cujo controle ficará a
cargo dos dirigentes, mencionando-se no Atestado de Freqüência apenas a
informação relativa aos servidores que deixaram de efetuar, no prazo, a referida
reposição.
Artigo 2º - Este Provimento entrará em vigor na data de sua
publicação, revogadas as disposições em contrário.
REGISTRE-SE. PUBLIQUE-SE.
CUMPRA-SE.
Quem não compensa as 8 horas, tem desconto no salário. O que me intriga é que a reportagem da Globo nunca compareceu aos sábados, quando eu e meus colegas fizemos mutirão para diminuir o atraso nos processos, causado não pela ineficiência dos servidores, mas pelo número reduzido de funcionários em comparação ao número de processos distribuídos na maior unidade judiciária do país.

Ou seja, o fator que confere qualidade a um trabalho jornalístico é a apuração. Erros de principiantes não devem ser tolerados, mas às vezes podem ser compreendidos. Mas, erros vindos de uma das maiores emissoras do país, são inadmissíveis. Ainda mais quando são irreversíveis e mancham a honra daqueles que ainda trabalham para as coisas darem certo - lutando, inclusive, contra aqueles funcionários que só penduram o paletó e querem o holerit no final do mês.

Se você gosta e quiser conferir, compre a Revista do Fantástico. Eu não recomendo. Aliás, com o dinheiro, minha dica é você comprar a edição da revista Trip, que está cada vez melhor, e que nesse mês trata, entre outros temas, o especial Biosfera. Tudo bem que pode ser uma desculpa dos marmanjos para admirar belas gurias... Mas, são 178 páginas de bom conteúdo e, como está no editorial, com "zero carbono". Além da revista, confira também o PodCast do programa TripEldorado, reunindo as entrevistas do programa semanal, que vai ao ar às sextas, às 20h, na Eldorado FM.

Ah! Como este final de ano está "de matar", amanhã entro na área para colocar a Capa da Semana, ok?

Sem palavras

Tenho tentado pisar um pouco no freio, neste final de ano. Uma intenção quase utópica, pra quem vive em uma cidade como São Paulo. Ontem, por exemplo, tentei atravessar do Norte ao Sul, fiquei preso no trânsito e, após quase uma hora e meia, desisti de prosseguir e voltei pra casa, o que levou mais uma hora. O que salvou foi o rádio do carro, respirar fundo e deixar rolar.
Pensando nisso, escolhi uma música para esta semana, que não tem palavras. A boa música instrumental tem a capacidade de nos levar para outras dimensões, florescer nossa imaginação, nos fazer levitar.
Para conduzir-nos nessa viagem, nada melhor do que os violões do alagoano Fernando Melo e do paulista Luiz Bueno. Esta dupla, que iniciou a trajetória há 30 anos - Luiz era guitarrista e Fernando, baixista - desplugou-se e fez dos violões sua vida musical. Assim nasceu o DUOFEL. Fizeram parte da banda de Tetê Espíndola, excursionaram com Hermeto Pascoal, ganharam o mundo.
Em 1994, gravaram - ao vivo, no Crowne Plaza - Espelho das Águas, CD que contou com a participação muito especial do percussionista indiano Badal Roy. É desse trabalho que você ouve a música Porto Feliz.

DICA
Se você curte Jazz, não pode perder o show de Diana Krall neste domingo, em São Paulo, no Parque Villa Lobos. A abertura do Telefônica Open Jazz ficará por conta da Banda Mantiqueira e da Traditional Jazz Band. Dia 02/12, a partir das 10h. A entrada é franca.

Shabbath

Enfim, sábado. Na cultura judaica, o Shabbath começa no pôr-do-sol de cada sexta-feira e é baseado no descanso divino após os seis dias da criação. A cultura cristã fez do domingo o seu dia do descanso, pois seria o dia da ressurreição de Cristo. Porém, as duas culturas celebram seu descanso de formas diferentes. Enquanto os judeus privam-se (leia mais) e fazem deste tempo uma pausa para reflexão espiritual e descanso físico, parece que os cristãos não se empenham em descansar nesse período. Igrejas promovem mais e mais atividades. Enquanto isso, em um país onde supõe-se haver uma maioria católica, o legislativo aprova o trabalho do comércio aos domingos, principalmente quando se aproximam datas festivas comerciais, como Dia das Mães ou Natal.
Tudo isso nos faz refletir o quanto o ser humano tem medo de ficar só, em silêncio, o que podemos chamar de solitude. O medo da solidão, do vazio criado quando nos aquietamos e começamos a conhecer nosso interior. Para fugir do silêncio, colocamos uma música alta, ligamos a televisão, saímos às compras ou para comer fora. O judeu não se sente privado de prazeres, mas também não destina esse dia para viajar e curtir a vida. O dia é para reflexão. Algo cada vez mais difícil em uma sociedade consumista. Um exemplo claro disso é o local preferido para passeio aos finais de semana, pelo menos nas grandes metrópoles, o templo do consumo, o shopping center.
Minha intenção não é criar ou exaltar um ritual. Seu shabbath pode ser no sábado, no domingo, ou até mesmo na quarta-feira. Minha intenção é chamar a atenção para a necessidade que temos de parar um pouco. Esse é significado literal da palavra shabbath: descansar, cessar, parar. Será que conseguimos sobreviver ao silêncio e à reflexão?

Jornalismo
Essa semana foi atípica, mais corrida do que o normal e não consegui escrever o post "De Quinta", sobre jornalismo. Escrevo hoje. Temas não faltavam. Talvez o principal seria a constatação do óbvio, ou seja, que vários políticos estão diretamente ligados à emissoras de rádio e televisão, que são concessões públicas.
Aliás, este é um debate que não é colocado ao público. As concessões comerciais de rádio têm duração de 10 anos, enquanto na TV o prazo é de 15 anos. Vencido este período, as concessões podem ou não ser renovadas, o que, na prática, não acontece, pois a renovação tem sido automática - não há conhecimento de alguma concessão não tenha sido renovada.
Também não há um processo amplo, transparente e democrático para discutir, em sociedade, a renovação ou a atuação dos meios de comunicação. Talvez porque alguns preceitos não sejam obedecidos. Por exemplo: a Constituição estabelece que nenhum parlamentar pode ter relação direta com empresa concessionária pública. Em relação ao conteúdo, a Constituição também é diariamente violada. O artigo 221 estabelece os princípios norteadores da programação das emissoras de rádio e televisão:
A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios:
I - preferência a finalidades educativas, artísticas, culturais e informativas;
II – promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação;
III – regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei;
IV - respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.
É possível ler mais sobre o aspecto jurídico da concessão no site Jus Navigandi. Por outro lado há um movimento, nascido na Câmara dos Deputados, que visa a "democracia e transparência nas concessões públicas", além da convocação de uma Conferência Nacional de Comunicação, com a finalidade de "estabelecer mecanismos democráticos de formulação, monitoramento e acompanhamento das políticas públicas para o setor". A idéia, a princípio, é boa. Vamos ver se sai do papel e do mundo das idéias.

Capa da Semana
A capa de hoje vai para o jornal estadunidense The Patriot Ledger, sobre o feriado do Dia de Ação de Graças, comemorado na última quinta-feira (22/11), nos EUA.

Confraria

Junto com alguns amigos, há alguns anos nos encontramos para bater papo, conhecer novos botecos e discutir um pouco sobre espiritualidade e como ela tem sido banalizada e deturpada por falsos apóstolos e profetas. Um pouco do que conversamos vai para o blog Confraria Ekklesial e para os blogs dos confrades. Hoje gostaria de chamar a sua atenção para dois textos de amigos que participaram do I Fórum Nacional de Cristianismo Criativo, promovido pela W4 Editora.

Fórum

O I Fórum Nacional de Cristianismo Criativo está a todo vapor. Embora o tema criatividade não tenha sido tão discutido diretamente, ao debater sobre arte e sobre cristianismo sempre é possível alguma conclusão indireta sobre a forma de pensar e agir da igreja e dos cristãos na atualidade.
No primeiro dia (05/11), nosso confrade Volney Faustini falou sobre arte, abordou a questão da literatura e debateu um pouco com o músico Jorge Camargo e com o Whaner Endo (da W4 Editora). O mediador foi Nelson Bomilcar. Veja aqui algumas fotos. Frases do dia:
"Toda arte e cultura foi criada por Deus e distorcida na queda".
"A igreja [atual] é irrelevante".
"É preciso [na arte] buscar a integridade e a excelência".
"A igreja se torna um vampiro [em relação aos artistas]".

No dia 12/11 foi a vez do músico Gerson Borges e do compositor “Wolô” Boruszewski falarem um pouco sobre poesia, criação e arte em geral. A mediação foi de Sérgio Pavarini. Fotos e frases:
"A poesia envolve: escrever, desfrutar, vivenciar".
"Pode-se oferecer [a arte] a Deus, ao próximo e a si mesmo".
"Arte é forma".

Ontem, 19/11, enquanto os paulistas estavam "ensanduichados" entre dois feriados, não sobrou lugar - nem no chão - para o debate sobre teatro, com a presença do trio de confrades: Carlos Eduardo (foto esquerda) e Wilson Tonioli (foto direita) - no debate - e Sérgio Pavarini - na mediação. Confira outras fotos do evento. Alguns fragmentos:
"A arte faz parte do nosso dia-a-dia (...) o homem está inseparavelmente ligado às artes".
"A música está muito mais presente no cotidiano das pessoas do que o teatro".
"Não sei se existe teatro cristão".
"A arte exige uma resposta [do seu público]".
"A igreja sempre quer entender [a arte]".
"A arte é uma enfermidade sem cura" (Paul Auster).
"No passado, o poeta não tinha medo de pensar sobre Deus".
"O sono da razão produz monstros" (Goya).
A música ficou a cargo de Glauber Plaça (de quem você pode curtir no nosso ConfraCast a música Príncipe da Paz, do CD Homens no Mar, canção inspirada na passagem de Isaías 32.18 e19.
príncipe da paz

que grande paz eu sinto agora em meu viver
não quero mais voltar ao meu
ao meu antigo ser
eis que tudo se fez novo
coisas velhas ficaram pra trás
encontrei refúgio à sombra de Deus
descanso ao coração
encontrei o seu perdão
vida nova em Cristo
única salvação

em pastos verdejantes ele me leva a andar
nos campos, lindos lírios ele me leva a olhar
mesmo em meio a grandes ondas
me convida a repousar
preocupações com o amanhã não tenho mais
pois encontrei o príncipe da paz

como é grande o seu amor por mim
eu não consigo entender
entregou-se até a morte
pra que eu tenha o seu viver

Agora resta apenas mais uma segunda-feira. Dia 26/11 o tema será Artes, Cultura e Cristianismo. Caminhos possíveis.
Estarão presentes o músico Carlinhos Veiga e o designer Wagner Archela, sob mediação de Nelson Bomilcar.

Em tempo: Acredito que eu já estou concorrendo ao prêmio "perguntador chato do evento"... (fotos: W4)


Confraria no Fórum
Fico muito feliz em estar ao lado de tão ilustres personagens. O I Fórum Nacional de Cristianismo Criativo prova isso. Uma importante e ousada iniciativa de Whander Endo, da W4 Editora, o fórum trouxe, logo na abertura, Volney Faustini, que colocou algumas perguntas sobre arte e cultura:
Somos nós a alternativa para a cultura? Nossa fé é reconhecida pelos de fora, como viva e verdadeira, autentica e frutífera, transformadora e compassiva? Diante dos desafios do mundo moderno, que tipo de progresso nossa fé e o Evangelho estão alcançando? (Leia na íntegra)

Outros confrade que se destacou foi o Wilson Tonioli, não só pelo que falou, mas pelas duas performances que apresentou, uma logo no início, surpreendendo a platéia - inclusive o mediador... E, ao final, esbanjou talento com seu filho Felipe, ilustrando algumas passagens registradas entre Jesus e seus discípulos. Na abertura dos debates, o Carlos Eduardo demonstrou sua dúvida se existe mesmo o chamado teatro cristão:
Acho que eu posso afirmar que todos nós, de alguma forma, nos relacionamos diariamente com a arte, seja ouvindo uma música no carro naquele trânsito caótico, ou andando a pé quando passamos em frente a uma escultura numa praça... eu que trabalho em plena Praça da Sé posso dizer que é imensa a quantidade de obras de artes plásticas em locais públicos, e que muitas vezes não damos a mínima atenção. (Leia na íntegra)

Nos blogs dos confrades também tem mais coisa, no Verticontes e no blog do Volney, onde destaco os posts sobre Arte (Partes  1 e 2) .

Don't Worry

Este feriado valeu a pena. Acabei abandonando o blog no sábado, mas aproveitei para colocar a leitura em dia. Precisamos aprender a parar de vez em quando, aproveitar o silêncio, a solitude. Em uma cidade como São Paulo, isso é muito raro.
Pensando nisso, nessa semana escolhi uma música do multi-músico (cantor, compositor, arranjador, produtor) Osvaldo Lenine Macedo Pimentel, ou apenas, Lenine. No final da adolescência, o músico pernambucano organizou uma loja de discos em Recife, para poder conhecer de tudo. Pouco tempo depois, aos 18 anos, mudou-se para o Rio de Janeiro e, aos poucos, seu talento foi revelado para o Brasil e para o mundo.
A música que escolhi para o DoxaBrasil Online é do segundo trabalho solo de Lenine, intitulado Na Pressão:
Paciência
(Lenine/ Dudu Falcão)

Mesmo quando tudo pede
Um pouco mais de calma
Até quando o corpo pede
Um pouco mais de alma
A vida não pára

Enquanto o tempo acelera
E pede pressa
Eu me recuso, faço hora
Vou na valsa
A vida é tão rara

Enquanto todo mundo espera a cura do mal
E a loucura finge que isso tudo é normal
Eu finjo ter paciência
O mundo vai girando cada vez mais veloz
A gente espera do mundo e o mundo espera de nós
Um pouco mais de paciência

Será que é tempo que lhe falta pra perceber?
Será que temos esse tempo pra perder?
E quem quer saber
A vida é tão rara, tão rara
Mesmo quando tudo pede um pouco mais de calma
Mesmo quando o corpo pede um pouco mais de alma
Eu sei,
A vida não pára



Para quem quiser saber mais sobre Lenine, além do site oficial - muito legal - tem o blog oficial. Aproveitando o tema, coloquei uma música do músico Glauber Plaça no PodCast do blog da Confraria Ekklesial, que fala sobre a paz em meio às preocupações. Além de curtir um ótimo som, aproveite para saber alguma coisa sobre o I Fórum Nacional de Cristianismo Criativo, que acaba na próxima segunda-feira (26/11).

Leitores do mundo, uni-vos!

Ontem foi aberto oficialmente o I SALÃO NACIONAL DO JORNALISTA ESCRITOR, no Auditório Simón Bolívar - Memorial da América Latina (SP). O evento, que comemora os 100 anos da ABI - Associação Brasileira de Imprensa, trará grandes nomes do jornalismo, como Eric Nepomuceno, Luis Fernando Veríssimo, Carlos Heitor Cony, Ziraldo, Zuenir Ventura e muitos outros.
Uma grande novidade será o Salãozinho, destinado ao público infanto-juvenil com contação de histórias, oficinas, bate-papo com escritores etc. A entrada é franca (é preciso retirar senha uma hora antes), mas a organização do evento pede a doação de um livro infantil novo - ou em bom estado.
Além dessas programações, haverá tardes e noites de autógrafos, cafés literários e duas exposições fazem parte do evento, uma sobre os 100 anos da ABI e outra do artista gráfico Elifas Andreato.

CAPA DA SEMANA
A primeira página de El Periódico de Catalunya, jornal de Barcelona, prova que o uso do latim pode ter interpretações dúbias...

Arte & Diversão

Qual seria o resultado da mistura de um ex-padre pernambucano com uma dona de casa baiana? Algumas seriam as possibilidades, porém a que eu conheço recebeu o nome de Péricles Cavalcanti. Primeiro, só o conhecia de nome. Depois, pessoalmente, em um show realizado em 2004, quando fui escalado pelo EntreCantos para escrever sobre o evento. Fiquei impressionado. Reproduzo o trecho final do meu artigo:
[O músico e compositor] já foi “cantado” nas vozes de Caetano Veloso, Gal Gosta, Arnaldo Antunes, Adriana Calcanhoto e Cássia Eller, entre outros, (...) e talvez se sinta "só mais um na estrada" pois a estrada da boa música brasileira não admite a massa de produtos fabricados que precisam de marketing, da repetição exaustiva nas FMs e até virar trilha de novela para alavancar a carreira.
Para complementar o tempero deste carioca criado em São Paulo, ele conviveu na juventude com Gilberto Gil e foi aluno de Marilena Chauí no curso clássico, o que certamente o incentivou a fazer filosofia, na USP. Nessa época viu nascer o Tropicalismo. E a Ditadura. O que o levou para Paris e depois para Londres, onde encontrou Caetano Veloso e um grupo de escritores e artistas brasileiros. Voltou para o Brasil em 1971 e, a partir de então, suas composições foram cantadas por vozes como Gal Costa e Miúcha. Foi o começo de uma longa trajetória, que você pode acompanhar, com mais detalhes, no site pessoal do músico.
Quando recebi o último trabalho de Péricles, o CD O Rei da Cultura, três palavras me vieram a mente: criatividade, arte e diversão. É o que você pode perceber, no DoxaBrasil Online, com a música O Galope do Guitarrista Apaixonado, que abre o CD. Ouvi todas as músicas e fiquei sem palavras. Percebi o quanto a posição do crítico é ingrata. A partir do momento em que se dispõe a analisar um trabalho, seja um CD, uma peça teatral, um livro, há uma forte tendência a uma análise formal. E se esquece que arte é, antes de tudo, entretenimento, diversão, expressão pessoal.
Por isso, demorei a escrever sobre O Rei da Cultura. Preferi curtir um pouco mais. Ouvir no carro. Gravar no MP3 e ouvir caminhando, no ônibus, no metrô. E perceber melhor o quanto Péricles brinca com as letras e com os sons. É isso. Ele se diverte com seu trabalho. De longe, não é um produto massificado. Mas, também, não é um produto elitizado. É cultura. É arte. E arte independe do sexo, da classe social, do nível cultural. A verdadeira arte atinge todas as pessoas. Claro que de diferentes formas, provocando diferentes reações.
Lembrei de Fernando Pessoa:

O essencial
da arte é exprimir;
o que se exprime
não interessa.

Embora meio radical, é uma verdade. Por um lado, penso que o artista pode ser vítima de duas censuras: a autocensura e a censura do alto. Na primeira, o medo de não ser compreendido pode filtrar o processo de criação, tornando-o pasteurizado, tirando sua identidade, sua essência. Na segunda, o próprio meio provoca a mediocrização, através do império das gravadoras, editoras, galerias de arte, mídia e críticos. Nos dois modos, também há o ingrediente fama & dinheiro. Se o artista não produzir "o que seu patrão quer", para atender "o que a mídia quer" e determinar "o que o povo quer", não se tornará uma celebridade e não vai faturar.
Do outro lado da arte, quando o artista consegue vencer, pelo menos parcialmente, essas censuras e exprimir seus sentimentos, às vezes somos nós que nos fixamos tanto em tentar entender, que não sentimos a arte. Por isso, não vou dissecar o CD faixa por faixa, falar sobre a forma de composição das letras ou da gravação das músicas. A história do Péricles está contada em seu site. A história deste CD é você quem construirá. Então, vou apenas sugerir: Ouça. Sinta. Curta.
No MySpace, você pode conferir outras músicas deste trabalho e alguns clipes. Também vale a pena conferir o resultado de outra "produção" de Cavalcanti, seu talentoso filho Leo Cavalcanti.

O GALOPE DO GUITARRISTA APAIXONADO
Péricles Cavalcanti

minha linda guitarrinha
você vai ter que ser minha
custe o custo que custar
desde o dia tão sublime
que eu te vi lá na vitrine
não consigo mais pensar
noutra coisa diferente
que me deixe tão contente
quero muito te pegar
já faz mais de uma semana
tô juntando aquela grana
tô chegando quase lá
já vendi a minha moto
já joguei até na loto
sou capaz de trabalhar
já não tenho nem mais sono
nem bem bebo nem bem como
vivo só pra te buscar
minha linda guitarrinha
você vai ter que ser minha
custe o custo que custar
ah! eu quero te pegar
como eu quero te pegar

Péricles vozes, guitarra, baixo e gaita
Pedro Sá guitarras
Guilherme Kastrup bateria
Leo Cavalcanti timbau

Não li, mas critiquei

Hoje não vou escrever muito. Apenas indicar o artigo de Sérgio Augusto, publicado hoje no Caderno 2 do Estadão, sob o título A falsa cultura ao alcance de todos, que descreve um manual (ainda em francês, inglês e alemão) sobre como falar bem sobre livros clássicos e importantes, sem precisar lê-los!!! O texto é grande mas, eu garanto, eu li!

Dica
Já que o tema são os livros, recomendo a leitura de O Código da Vida, de Saulo Ramos. Em uma autobiografia "disfarçada", o advogado e ex-jornalista traça, como fio condutor, um caso verídico e surpreendente. No decorrer, tal como a linha do pensamento humano - que percorre presente e passado constantemente - torna público bastidores da sua vida pessoal e da sua trajetória, profissional e política, principalmente em momentos chave da história brasileira, como a curta passagem de Jânio pela presidência, o golpe militar, a eleição de Tancredo Neves, a Assembléia Constituinte, entre outros. Claro que há outros pontos de vista sobre essa história recente do país, contestando, inclusive, as versões de Saulo Ramos, como é possível observar na crítica elaborada pela revista Consultor Jurídico. Mas, nem que seja como ficção parcial, acredito que vale a leitura das suas quase 500 páginas. No site da Livraria Cultura é possível ler o primeiro capítulo.

Pipoca

Hoje vou deixar as revistas de lado. Vou indicar dois filmes que abordam o jornalismo e foram feitos pelo mesmo diretor, o fantástico Billy Wilder.

Samuel Wilder nasceu em 22 de Junho de 1906, na Galicia (atual Polônia) e morreu em 27 de março de 2002, nos EUA, aos 95 anos. Inicialmente, queria ser advogado, mas acabou trabalhando como repórter, primeiro em um jornal vienense e, depois, em um grande tablóide em Berlim. Em 1929 começou a escrever roteiros para filmes alemães mas, com Hitler no poder, devido sua ascendência judia, fugiu para Paris em 1933 e, depois, foi para os EUA.
Tornou-se roteirista, cineasta e produtor, trabalhando em mais de 60 filmes, como Farrapo Humano (1945), que recebeu o Oscar de Melhor Filme, Direção e Roteiro. Também foi um dos roteiristas da primeira versão de Casino Royale, da saga de James Bond. E destacou-se nas comédias Quanto mais quente melhor (1959), com Marilyn Monroe, e Se meu apartamento falasse (1960), que lhe valeu o Oscar de Melhor Filme e Melhor Direção.

No início da década de 50 Wilder filmou um clássico que aborda a questão ética no jornalismo, além do fenômeno do "circo da mídia", isso em um tempo que não tinha Internet e a televisão começava a engatinhar. Ace in the Hole (ou The Big Carnival) - no Brasil saiu como A montanha dos Sete Abutres - traz Kirk Douglas no papel do jornalista Charles "Chuck" Tatum. O filme é baseado no livro Trapped!, de Robert K. Murray e Roger W. Brucker, que aborda um acontecimento real, quando um nativo ficou preso em um gruta após um desmoronamento. O que seria apenas um resgate, graças à chegada do jornalista Skeets Miller, do Courier Journal, torna-se uma verdadeira saga. Miller traça o perfil diário dos acontecimentos, o que lhe rende o Pulitzer, um dos mais importantes prêmios jornalísticos dos EUA. O filme é em preto em branco e ainda não consegui encontrar versão legendada em DVD, só em VHS.

Mais de 20 anos depois, Wilder volta a abordar o tema, agora na comédia The Front Page (1974). Foi a terceira adaptação para cinema do texto da peça de Ben Hecht e Charles McArthur (depois houve uma quarta, em 1988 - Troca de maridos). O filme aborda o dia em que o principal repórter de um jornal de Chicago, Hildy Johnson (brilhante atuação de Jack Lemmon), resolve abandonar a carreira para casar e sair da cidade. Seria apenas mais um dia, se não fosse a véspera da execução de um réu. O editor do jornal, Walter Burns (interpretado por Walter Matthau), não quer perder seu brilhante jornalista e usa de todos os artifícios para convencê-lo a ficar, pelo menos até a ida do condenado à forca. Para melhorar, este consegue fugir da cadeia em circunstâncias suspeitas. Imperdível. Aliás, fiquei muito feliz em conseguir, depois de alguns anos, encontrar uma versão restaurada, em DVD, deste flme, na Livraria Cultura. Também é possível comprar diretamente do site da Versátil.

Há um tempo, escrevi sobre alguns dos filmes que formam minha videoteca jornalística pessoal (espero, em breve, incluir minhas últimas aquisições). A Wikipedia também tem uma lista interessante de filmes que abordam o jornalismo.
.
No topo
A 8ª edição da pesquisa realizada pela Meio & Mensagem revela quais são os veículos de comunicação mais admirados, dentro do universo dos leitores da M&M, ou seja, basicamente profissionais do mercado publicitário. Confira as primeiras colocações:
TV Aberta
Globo
Cultura
TV Paga
GNT
Globo News
Jornal
O Estado de S. Paulo
Folha de S. Paulo
Revista
Veja
Exame
Obs.: A Piauí já aparece em 7º lugar
Rádio
CBN
Eldorado
Internet
Google
UOL

Capa da Semana
Na verdade, escolhi duas primeiras páginas para esta semana. A primeira, é do jornal italiano La Stampa, que conseguiu diferenciar-se de todas as outras publicações locais, ao expressar na imagem a partida do jornalista e escritor italiano Enzo Biagi, que morreu na última segunda-feira.

Biagi trabalhou na imprensa escrita, rádio e televisão, sendo que mais de 40 anos na emissora pública RAI, local onde ficou notório seu choque com Silvio Berlusconi, antes deste eleger-se primeiro-ministro. As questões entre os dois levou Biagi a deixar a emissora, em setembro de 2002, e deu origem a um um livro, Quello che non si doveva dire (Aquilo que não se deve dizer), lançado em 2006 e cuja capa também é uma obra prima.

A segunda capa de jornal desta semana é do Apple Daily, deTaiwan. Confesso que não entendo uma letra (desculpe se tiver algo ofensivo), mas achei o máximo no quesito confusão gráfica (claro que na minha visão ocidental). De qualquer forma, exercite a criatividade e deixe nos comentários um título - em português, claro - para as fotos e gráficos (estão numerados).

Clássico

Ontem, aproveitei a malha ferroviária de São Paulo para sair do marco zero (Praça da Sé) e ir até a Zona Sul (Morumbi). Peguei o metrô na estação Sé, desci na estação Paraíso, fiz a baldeação até a estação Vila Madalena, onde apanhei um micro-ônibus da operação ORCA, que me levou até a estação Cidade Universitária, onde peguei o trem até a estação Morumbi. Para tudo isso, só paguei uma passagem (R$ 2,30). O problema é fazer isso às 6 da tarde, no horário de pico. O trajeto levou cerca de uma hora, o que foi rápido, se levar em conta o trânsito no horário, caso eu fosse de carro. Porém, nos dez minutos de trem deu para sentir duas coisas: 1) Realmente os trens europeus são bons, com ar condicionado e tudo; 2) O número de composições não dá conta nos horários de pico, tornando uma verdadeira aventura descer na estação desejada, quando esta não é a inicial ou final.
E o que isso tem a ver com o tema de hoje, música? Na verdade, eu me senti em um filme - talvez uma comédia - pois estávamos todos empoleirados dentro do vagão, cansados depois de um dia de serviço e, de repente, depois do maquinista indicar a próxima estação, um som de música clássica invadiu o vagão pelo sistema de som. E assim foi durante toda a viagem. Por isso, resolvi colocar duas músicas eruditas no DoxaBrasil Online desta semana.
A primeira música que você ouve é a Antífona Pueri Hebraeorum, para o Domingo de Ramos, a 8 vozes e órgão, composição do luso-brasileiro André da Silva Gomes, figura marcante do período barroco da música brasileira. Silva Gomes foi mestre-de-capela da Sé (São Paulo) durante 50 anos (1774 - 1824) e compôs cerca de 130 músicas religiosas. O mestre-de-capela era responsável por dirigir e compor a música nas igreja catedrais ou matrizes.
A execução da obra de André da Silva Gomes deve-se ao trabalho do Centro de Estudos e Pesquisas da Música Brasileira, responsável pela transcrição musicológica desta música que você ouve e de muitas outras. Em específico, esta antífona foi transcrita por Geraldo Teodoro de Almeida e gravada pelo Brassilessentia Grupo Vocal, com Elisa Freixo, ao órgão, e regência de Vitor Gabriel- de quem tive a honra e o prazer de ser aluno -, uma das faixas do álbum André da Silva Gomes (Paulus, 1994). Segue a letra e tradução do latim:
Pueri Hebraeorum
Pueri Hebraeorum
Portantes ramos olivarum
Obviaverunt Domino
Clamantes et dicentes:
Hosanna in excelsis

Pueri Hebraeorum
Vestimenta prosternebant in via
Et clamabant, dicentes:
Hosanna filio David
Benedictus qui venit in nomine Domini

Os filhos dos Hebreus
Os filhos dos Hebreus
Levando ramos de Oliveira
Foram ao encontro do Senhor
Clamando e dizendo:
Hosana nas alturas

Os filhos dos Hebreus
Estendiam suas vestes
E clamavam, dizendo:
Hosana ao Filho de Davi
Bendito o que vem em nome do Senhor

A segunda música desta semana é praticamente uma brincadeira do grande Wolfgang Amadeus Mozart (1756 - 1791). Provavelmente composta no período em que o músico esteve em Paris, Ah, Vous Dirai - Je, Maman apresenta uma série de 12 variações da famosa cantiga de ninar francesa. Esta gravação foi executada pelo pianista húngaro Jénö Jandó e está no CD Piano Sonatas Nos. 11 and 14 - Fantasia - Variations (Naxos, 1989). Nos idos de 1995 eu tive a ousadia - diria até, maluquice - de escolher esta obra para a matéria piano, durante minha curta passagem pelo curso de Composição e Regência na UNESP. Bons tempos aqueles.

Novembrinas

Começamos mais um mês, aliás o penúltimo deste ano. E hoje acordei com vontade de escrever um pouco. Aí vão alguns tópicos do dia:

- Ontem estranhei o barulho de helicópteros perto de casa. Olhei pela janela e vi que cobriam uma área bem próxima de onde moro. Graças à tecnologia, não precisei sair correndo de casa para ver o que tinha acontecido. Enquanto às emissoras abertas continuavam na sua programação normal, a Record News e a Globo News já divulgavam aquilo que nem elas sabiam direito, confiando nos depoimentos das testemunhas "quase" oculares. De qualquer forma, é impressionante quando um evento desses acontece próximo à sua janela. Há uma ou duas semanas, eu e minha família almoçamos em um restaurante que fica uma quadra de distância do local dessa tragédia. Como afirma o dito popular: "Para morrer, basta estar vivo". Digo isso, pensando também no homem que morreu quando uma árvore atingiu seu carro e outro, quando um raio atingiu seu guarda-chuva, ainda na semana passada, devido às fortes chuvas.

- Se você leu o post Not Guilty, da semana passada, talvez ache minha postura meio controversa. Talvez o seja. Mas, eu esperava o tipo de matéria divulgada ontem pela Rede Record, no programa Domingo Espetacular (aliás, repetida em parte hoje pela manhã, no Fala Brasil), que aborda os casos de pedofilia no clero. A matéria em nenhum momento menciona o caso do padre Júlio Lancellotti, porém é óbvio que aproveitou o momento e as suposições. Por outro lado, gastou grande tempo mostrando um caso no Brasil e partes de um documentário da BBC, que aborda o assunto. Não que esse tipo de matéria devesse ser descartada ou minimizada. O problema é centralizar o ataque - mesmo que indireto - na igreja católica, o que torna a reportagem parcial. Particularmente, não conheço muitos casos semelhantes na meio das igrejas protestantes e suas ramificações. Mas há. Então, por que não colocá-los, até para mostrar se há uma grande diferença de números de casos entre uma e outra? Ou mostrar como a liderança da igreja católica e das igrejas protestantes lidam quando se descobre um caso desses, se são omissas e corporativistas ou punem os infratores e tentam criar formas para dificultar novos casos. Infelizmente, enquanto jornalismo e religião não se desmembrarem, a Rede Record ainda vai ficar atrás, talvez não em qualidade ou audiência, mas em ética e imparcialidade - pelo menos a tentativa, já que imparcialidade total é impossível.

Dicas
- Começa nesta noite o I Fórum Nacional de Cristianismo Criativo. Entrada Franca. Debate garantido. Hoje, com a presença de um amigo pessoal, Volney Faustini, e com o som fantástico do músico Jorge Camargo, em um pocket show. Às 19h, no auditório da Livraria Cultura Shopping Market Place (Avenida Chucri Zaidan, 902 - Morumbi). Saiba mais.

- Se você curte jazz, não perca nesta terça-feira o Trio Solitude, no bar e restaurante Mão Santa: Rua Mourato Coelho, 816 - Vila Madalena - São Paulo. Participação especial: Susana Rocha.

Cristianismo Criativo

Todas as segundas-feiras de novembro, no auditório da
Livraria Cultura do Shopping Market Place
(Av. Chucri Zaidan, 902 - Morumbi)
Início às 19h.

Confira a participação especial de alguns de nossos confrades:

5 de novembro
Tema: Artes, Cultura e Cristianismo. Onde estamos?
Palestrante: Volney Faustini.
Pocket-show: Jorge Camargo.
Moderação: Nelson Bomilcar.

12 de novembro
Tema: O cristão e a arte multifacetada.
Palestrantes: Gerson Borges e “Wolô” Boruszewski.
Pocket-show: Gerson Borges.
Moderação: Sérgio Pavarini.

19 de novembro
Tema: Teatro cristão. Ficção ou realidade.
Palestrantes: Carlos Eduardo Pereira e Wilson Tonioli.
Pocket-show: Glauber Plaça.
Moderação: Sérgio Pavarini

26 de novembro
Tema: Artes, Cultura e Cristianismo. Caminhos possíveis.
Palestrantes: Carlinhos Veiga e Wagner Archela.
Pocket-show: Carlinhos Veiga
Moderação: Nelson Bomilcar

Passa-se o Ponto

Depois de Sob Nova Direção, Ingrid Guimarães estreou semana passada um novo programa, Mulheres Possíveis, pelo canal de TV paga GNT. Segundo o site do programa, "a série trata dos contrastes nas vidas das 'mulheres possíveis' ao desmistificar o cotidiano de atrizes e de apresentadoras, e ao descobrir a porção artista de mulheres comuns na maneira como encaram o trabalho, amigos e a família".
Com um patrocínio exclusivo da Natura, Ingrid entrevista celebridades e anônimas, destacando as situações do dia-a-dia. No primeiro programa as escolhidas foram a cantora Maria Rita e a fotógrafa Masi Torres. A tentativa do programa é mostrar o lado "normal" das famosas - como mães, esposas, filhas, donas de casa - e o lado "celebridade" das mulheres "normais".
A produção é da Cinema Centro, de São Paulo, com direção de Fernanda Telles.
Como os artistas globais estão na onda dos blogs, às vezes rola alguma coisa dos bastidores do programa no blog da Ingrid Guimarães.
Hoje o programa trará a atriz Irene Ravache e a gari Isabel Pelegrino.
Mulheres Possíveis vai ao ar pela GNT aos sábados, às 21h30 (reprise nos domingos, às 03h30 e 14h00; nas quintas, às 11h00; e nas sextas, às 23h30).

Not Guilty

Em inglês, pode-se traduzir a palavra inocente por: innocent; free from sin or wrongdoing; pure; entre outros. O interessante é que, juridicamente o termo é not guilty - você já deve ter escutado em filmes -, algo como "não culpado" e não, como utilizamos em português, inocente. Guilty é, então, aquele que deve ser punido, aquele que tem culpa.

Explico a seção "the book is on the table". Esta semana pensei sobre a questão da presunção de inocência, levantada pelo advogado Luiz Eduardo Greenhalgh em relação ao caso do Padre Julio Lancellotti. Em entrevista para a Rede Globo (reproduzida na imprensa escrita), Greenhalgh afirmou: "Temos que pesar se vamos dar guarida à palavra de um bandido ou à palavra do padre Júlio. Eu quero se que presuma a inocência do padre, porque foi ele que denunciou a armação".

O princípio da presunção de inocência é uma garantia constitucional (artigo 5º, inciso LVII). A partir dela não se pode fazer o lançamento do nome de um réu no rol dos culpados, antes do trânsito em julgado da decisão condenatória. Ou seja, na Constituição brasileira não se afirma expressamente que todos são inocentes até que se prove o contrário, mas sim que ninguém será considerado culpado daquele crime até o fim do processo, que é o princícipio da desconsideração prévia da culpabilidade. A diferença é sutil, mas existe.

Por outro lado, embora não esteja nas letras jurídicas, entendo que também há a presunção da culpa, a partir da argüição de Greenhalgh, pois o "bandido" seria culpado (de qualquer crime), até que se prove a sua inocência. Claro que minha intenção aqui não defender ou julgar nehunhum dos lados, nem fazer juízo de valor da situação, mas tentar analisar um pouco como a imprensa lida com estas situações. É inevitável retornar para um caso emblemático, como o da Escola Base, que marcou a história do jornalismo brasileiro. Em dezembro de 96, o governo do Estado de São Paulo foi condenado a pagar uma indenização por danos morais no valor de cem salários mínimos aos donos da escola e a um colaborador envolvida. Esta prevista uma perícia para avaliar os prejuízos materiais das vítimas. O jornalista Alex Ribeiro escreveu um livro interessante sobre o caso e o site do Instituto Gutenberg resume bem o acontecido, para quem não se recorda dos detalhes, destacando no artigo que as vítimas "sofreram um assassinato social: perderam os empregos, a paz e isolaram-se da comunidade".

É importante frisar que imprensa não é um órgão da Justiça, nem os repórteres são investigadores de polícia. Mas, em tempos de pouca apuração dos fatos, muito do que é publicado depende de "vazamentos" ou declarações das fontes oficiais, oficiosas e, também, misteriosas. É importante lembrar, também, que as instituições muitas vezes usam a imprensa para plantar informações em benefício próprio, seja ele político ou econômico. E, por outro lado, muitos jornalistas usam seu juízo de valor para pesar as palavras nas matérias, muitas vezes julgando a culpa ou a inocência dos personagens, quando os acusados ainda nem saíram das delegacias.

Votando ao caso do Padre Júlio Lancellotti, tenho acompanhado a cobertura do assunto pelo jornal O Estado de S. Paulo, que teve início na quarta-feira, dia 17 de outubro, com matérias no dia 18 e 19 , sempre no caderno Metrópole, sob o clichê Investigação. Houve uma pausa entre os dias 20 e 23 (que pegou o fim-de-semana, quando há um índice maior de leitura). A partir do dia 24 (quarta-feira) até hoje todos os dias saiu alguma matéira, inclusive nas edições do final de semana. Confira as manchetes do jornal (entre parênteses, "C" é o caderno e a página em que foram publicadas as matérias):
17/10 - Padre Júlio denuncia extorsão e Igreja cobra proteção do Estado (C1)
"Tenho de ser mais cuidadoso, perspicaz" (entrevista com o padre Julio Lancellotti)
"Pessoas infelizes se aproveitaram da solidariedade do padre", diz Suplicy
Religioso atua na área social desde os anos 70
18/10 - Acusado de achaque a padre negociava carros de luxo
19/10 - Padre vai para Roma e pede proteção para a mãe
24/10 - Padre Júlio cancela viagem para Roma (C3)
25/10 - Padre Júlio: polícia apura denúnica de 'ato libidinoso' (C14)
26/10 - Polícia quer ouvir funcionários do padre Júlio (C3)
27/10 - Vizinho cita mais 4 em esquema contra padre (C7)
Entrevista com Everson Guimarães (ex-faxineiro preso que diz ter recebido do padre cinco envelopes com dinheiro)
28/10 - Polícia pedirá quebra de sigilo do padre Júlio (C5)
Ex-interno aponta local de saque de R$ 40 mil
Acusação é inverossímil, diz Greenhalgh (C7)
"Alarde esconde o caso Pórrio"
Arcebispo sai em defesa de padre (C8)
Prefeitura pede auditorias em ONG
29/10 - Polícia vai rastrear pagamentos deitos pelo padre Júlio a quadrilha (C3)
30/10 - Ex-interno teve sigilo quebrado em 2006, após denúncia à polícia (C4)
Delegado pede segredo de Justiça em processos
Lancelloti foi com casal comprar Pajero
31/10 - Padre Júlio denunciou à polícia em 2006 outra exotorsão, de traficante (C1)
Bandido acusou Lancellotti de forjar flagrante (C3)
Sacerdote deu R4 400 mil a casal, estima polícia
Se padre errou, Igreja vai admitir, dizem bispos
1º/11 - PM investigou ameaça a pedido de Lancellotti (C6)
Polícia investiga advogado por aluguel de apartamento para ex-interno

Ou seja, embora continue figurando como vítima, de acusador, Lancellotti tem ligeiramente passado a acusado, embora a imprensa tenha sido bastante cautelosa na forma de colocar ao público o andar das investigações. O que eu ainda não vi foi algum box ou chamada na imprensa, aproveitando a deixa para apresentar, por exemplo, estatísticas sobre a pedofilia no clero, já que o assunto acaba sendo levantado nas entrelinhas das matérias. Alguns exemplos de dados sobre o assunto:
- O jornal Correio Braziliense, de 16/11/2005, afirmava que, "segundo documento do Vaticano, 1,5 mil dos 18 mil padres que atuam no Brasil estão sendo investigados por suspeita de crimes sexuais. A maioria é acusado de pedofilia";
- Segundo a agência Ansa, em agosto a organização não-governamental norte-americana Rede de Sobreviventes de Abuso Sexual de Sacerdotes declarou que tem uma lista com mais de 90 padres mexicanos envolvidos em atos de pedofilia;
- Nos EUA, "para ser expulso o membro da Igreja precisa ser um pedófilo contumaz, com um histórico de abusos", trecho da matéria da VEJA. Os EUA, inclusive, foi alvo de muitas críticas pelo posicionamento da liderança da Igreja Católica ao tratar estes assuntos polêmicos. A SNAP - The Survivors Network of those Abused by Priests (Rede de Sobreviventes de Abuso Sexual de Sacerdotes) - citada na matéira da Ansa (acima), auxilia e denuncia casos de abusos, não só na Igreja Católica, mas também nas igrejas protestantes;
- Outros casos.

Como há "imprensas e imprensas", na Veja, Diogo Mainardi não poupou caracteres, fazendo uma maliciosa associação política com o governo Lula. Entre outras coisas, Mainardi afirma que o padre Júlio Lancellotti "será conhecido também como o coordenador da Pastoral da Mitsubishi Pajero" e que "dependendo do que a polícia descobrir, talvez não seja uma idéia tão boa assim botar o padre Júlio para cuidar de criança".

Já a revista Isto É deu o título para a matéria de O conto e o vigário. O jornalista Alan Rodrigues abre a matéria com a seguinte frase "Esta é mais uma daquelas histórias policiais que entopem publicações, levando muitos a divagações inconclusivas".

Para alguns, há a presunção de culpa do "bandido" (como afirmou Greenhalgh) e a presunção da inocência do padre Lancellotti. Para outros, há presução de culpa de ambos, já que um padre tão interessado em trabalhar com menores, em si, já poderia levantar suspeitas. O importante é que, independentemente do desfecho, as palavras foram escritas e proferidas e os juízos de valor apresentados. A reputação do padre Lancellotti, inegavelmente, foi abalada. Mesmo com uma biografia que inclui a presença marcante na Pastoral do Menor da Arquidiocese de São Paulo, desde seu início, a fundação da Casa Vida - entidade que abriga crianças abandonadas portadoras do vírus HIV e o trabalho no acompanhamento de adolescentes que cometeram atos-infracionais.

Aliás, num nível elevado, não teria sido a presunção de culpa que levou a Scotland Yard a matar o brasileiro Jean Charles, em Londres?

Capa da semana
Com o coração corinthiano ardendo, a capa dessa semana vai para o jornal campineiro Diário do Povo, pelo interessante neologismo que destaca a vitória do São Paulo, no Campeonato Brasileiro 2007.

Google