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Jornalismo e Entretenimento

Excepcionalmente, o "de quinta" é publicado hoje, "de sexta"

Quem conhece um pouco dos bastidores de um programa de televisão, sabe o quanto os segundos e minutos são valiosos. Palavras são suprimidas, imagens editadas, intervalos medidos minunciosamente. Tudo para que o telespectador tenha o melhor programa. Ops! Você não acreditou nessa última frase, não é? Na verdade, tudo é feito para que a empresa de comunicação lucre cada vez mais. O tempo é valioso porque ele é vendido. Tudo é feito para atrair quem assiste para os produtos que serão apresentados no intervalo comercial e, às vezes, até mesmo dentro dos programas, na forma de merchandising.
Desta forma, até os programas jornalísticos se valem de fórmulas para ficarem mais agradáveis e segurarem a audiência. Notícias curtas, imagens rápidas, superficialidade total. É nesse meio que alguns programas merecem destaque. Confesso que, às vezes, são bem cansativos. Mas acredito que eles sejam uma das poucas oportunidades que temos para conhecermos melhor um assunto e diversos pontos de vista sobre ele. Canal Livre, na Band, é um deles. Aliás, na TV aberta, acredito que seja um dos únicos (fora as mesas redondas sobre esportes). Exceto, é claro, os programas da TV Cultura. Roda Viva, Observatório da Imprensa, Conexão Roberto D'Ávila são alguns exemplos. Mas, hoje vou comentar sobre o Opinião Nacional.
O programa Opinião Nacional vai ao ar às quintas-feiras (22h40), sob comando do jornalista Alexandre Machado. Durante uma hora e meia um tema é debatido, sempre colocando pelo menos dois pontos de vista sobre o assunto.
Por isso, acredito que um dos melhores resultados de um bom programa jornalístico não é fornecer respostas, mas estimular a reflexão e até mesmo criar mais dúvidas. Geralmente o programa que dá respostas não consegue fugir do padrão manipulatório.
Ontem, foi a primeira vez que assisti o programa do começo ao fim. O tema era interessante e eu continei sem uma opinião precisa, porém o debate forneceu várias nuances, que permitem que eu possa analisar melhor o assunto.
No centro do debate, as pesquisas com células-tronco embrionárias. De um lado, a favor das pesquisas, o dr. Carlos Alberto Moreira-Filho (geneticista, superintendente do IIEP - Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa - do Hospital Albert Einstein) e Dulce Xavier (socióloga, integrante da ONG Católicas pelo Direito de Decidir, secretária-executiva da Jornada pelo Direito ao Aborto Seguro). Do outro lado da mesa, contra as pesquisas, o Pe. Vando Valentini (coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC/SP) e a dra. Alice Teixeira Ferreira (Professora de Biofísica da Unifesp).
O debate foi muito bem conduzido, com respeito entre as partes - embora sempre sobre uma ironiazinha daqui e dali. Mas, percebi que o assunto é muito mais amplo e profundo do que a mídia em geral divulga. E esta era a crítica do Pe. Valentini, para quem "a imprensa é a favor [da pesquisa] e manipula a população". Por outro lado, "a Igreja [católica] é ineficiente para combater [o poder da imprensa] e apresentar seu ponto de vista". Esse seria o motivo para que em pesquisas de opinião, uma grande maioria seja a favor deste tipo de pesquisa científica.
Um dos pontos principais deste debate é a questão de quando começa a vida e até onde podemos ir na defesa da vida. Por exemplo, hoje em dia há o consenso de que após a morte cerebral não há mais vida, o que permite que seja mantido o corpo em funcionamento para fornecimento de órgãos para transplante. Depois, "desliga-se" o corpo. Se a morte cerebral significa o fim da vida, alguns cientistas dizem que o começo da vida também se dá quando há a formação do córtex cerebral, que só ocorre numa fase posterior à implantação do embrião no útero, ou seja, quando o embrião começa desenvolver-se. Dessa forma, se um embrião não representa vida, poderia ser usado cientificamente, até mesmo para um bem maior: salvar outras vidas.
Já a igreja considera o embrião já uma forma de vida, mesmo que seja uma vida em potencial. Ou seja, mesmo no embrião já estão presentes as características genéticas (cor dos olhos, do cabelo, sexo, etc) que se desenvolverão quando o embrião for implantado no útero.

O tema é complexo e, se você já tem sua opinião sobre o assunto, deixe seu comentário. Algumas das perguntas que ficam no ar:

Quando começa a vida? (Se não me engano, os judeus consideram no nascimento)

A quem cabe a autorização de utilização sobre um embrião congelado? Aos pais? Ao governo? Aos cientistas? À Igreja?

É válida a morte de um embrião em defesa da vida (de crianças e adultos com doenças que podem ser curadas através de células-tronco embrionárias?

Capa da Semana
A capa desta semana vai para o ovo de páscoa do jornal californiano The San Diego Union-Tribune.

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