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(Falta) Bom senso

É quase inevitável. Seja no restaurante, no elevador, no ônibus ou metrô, os mais diferentes públicos só "discutem" o Caso Isabella.
Claro que há a comoção pública. Porém, de onde ela vem? Será que é mesmo do amor ou da fraternidade? Ou será provocada pela excessiva exposição na mídia? Só se fala nisso...
Devido à minha formação em Jornalismo, muitas pessoas questionam: "Por que a mídia massacra a população com esse assunto?". E, pior: "Como deveria ser a cobertura?".
Bom, quem sou eu para definir os procedimentos da imprensa? Mas, depois de muito questionado, acho que cheguei à uma conclusão.
Na minha opinião, a imprensa deve ter acesso ao andamento da investigação, porém só deveria divulgar após o encerramento do inquérito. No decorrer da investigação, seria papel da imprensa divulgar tudo que porventura atrapalhe o trabalho da polícia ou até mesmo quando a polícia não esteja fazendo seu serviço corretamente.
Porém, afirmações só deveriam vir a público depois do término do inquérito, quando todas as versões e laudos farão com que a autoridade policial chegue à uma conclusão. E, veja bem, essa conclusão nem sempre quer dizer chegar à verdade. Por outro lado, o fim do inquérito pode ser o início de outro extenuante processo, o judicial.
Além da televisão, que faz um show da notícia - um verdadeiro circo, aos moldes de A Montanha dos Sete Abutres*, de Billy Wilder - a imprensa escrita também comete barbáries.
Que o diga a capa da edição 2057 da revista semanal com maior tiragem nacional: Veja. As letras garrafais afirmam sem pestanejar FORAM ELES. Nas letras pequenas: Para a polícia, não há mais dúvidas sobre a morte de Isabella:.
Mais de um milhão de revistas foram colocadas em circulação. É difícil estimar quantas mãos esses exemplares irão alcançar.
Mais detalhes:
- O título da matéria de capa é Frios e Dissimulados. Ao que parece, mesmo que por negativa dos acusados, a reportagem não conseguiu entrevistá-los.
- O tempo verbal das frases sempre indicam a certeza absoluta. Por exemplo: "Pai e madrasta mataram Isabella, numa seqüência de agressões que começou ainda no carro, conclui polícia". Será que, por uma questão jornalística e por uma questão ética, a construção verbal não ficaria melhor assim: "teriam assassinado"?
Veja apresenta oito páginas de matéria sobre o assunto. É a matéria da capa. Mas, não mereceu uma linha de editorial. Os comentaristas Diogo Mainardi e André Petry preferiram tratar de outros assuntos importantes para os brasileiros (Barack Obama e a visita do papa aos EUA, respectivamente).
Mais uma vez, infelizmente, a imprensa assume o papel de polícia (investigação) e incita a sociedade a assumir o papel, não da Justiça, mas sim da vingança.

* Já escrevi uma sinopse sobre o filme A Montanha dos Sete Abutres, sobre o diretor Billy Wilder e, no início do ano passado, sobre outro "circo" montado por imprensa e sociedade, quando do caso da "cratera do metrô".

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