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Sotaque

Já há algum tempo chamou minha atenção a presença da repórter Renata Alves, que faz matérias para o quadro Achamos pelo Brasil, do programa Domingo Espetacular (Rede Record). Em primeiro lugar, pois é óbvia a tentativa de padronização, nas grandes emissoras, não só do sotaque, como do visual. Fonoaudiólogas têm um seleto grupo de clientes formados por jornalistas que precisam perder o sotaque. Sulistas, nordestinos, mineiros, abandonam sua identidade cultural e regional. Por esse motivo, ouvir o forte sotaque de Renata Alves é um alívio.
Outra marca da repórter é a espontaneidade e o respeito pelas personagens de suas matérias, sempre nobres desconhecidos, escondidos na pele das verdadeiras celebridades brasileiras, que vivem nos mais insólitos e distantes lugares. Alguns exemplos: a Festa das Marocas (fofoqueiras), em Pernambuco; o Festival de Inverno de Garanhuns (onde foi tirada a foto acima, com Renata Alves e Mestre Jaime); e Zabé da Loca.
A matéria com a Zabé da Loca eu revi ontem à tarde, no Programa da Tarde. Foi uma reportagem muito legal, com uma mulher que viveu cerca de 30 anos em uma loca - tipo de gruta - depois que ficou viúva e sua casa de taipas desabou. Dona Isabel ficou conhecida há uns dez anos como tocadora de pífano, ou pife - como é conhecido no Nordeste - instrumento que aprendeu que aprendeu com seu irmão, quando tinha sete anos. Hoje, Zabé da Loca é conhecida como a Rainha do Pife, não mora mais na gruta, mas ainda vive de forma humilde no sertão, embora eventualmente saia em turnê para apresentar sua música ao Brasil. Confira uma matéria interessante com Zabé, feita por Paulo Rebêlo, para a revista Carta Capital.
Renata Alves mantém um blog com os bastidores das suas matérias.

Isso ou aquilo?
Na Era Google-Orkut, a apuração cada vez mais vai para o ralo. E, quando ocorre, às vezes não surte efeito. Nestes tempos de férias, resolvi assistir um pouco mais a TV aberta. Na Record surgiu um novo jornalista, Geraldo Luis, apresentando um telejornal do meio-dia - no estilo "Datena" - chamado Balanço Geral, programa que traz de volta um sensacionalismo que estava um pouco esquecido na Record e que trouxe, consigo, mais alguns pontos no IBOPE.
Mas, esse não é o tema que quero abordar. A questão é que ontem, ao vivo, o Geraldo Luis e uma repórter - em um link no litoral sul de São Paulo - entrevistavam um biólogo sobre o ataque de águas-vivas que queimaram mais de 900 turistas. O que me chamou a atenção foi que o biólogo esclareceu que aquela espécie marítima não era uma água-viva, mas sim uma caravela, espécie que têm em seus tentáculos uma estrutura chamada nematocisto, em cujo interior fica uma espícula urticante, o cnidoblasto, que, em contato com a pele, descarrega a espícula. Ou seja, a caravela não queima, mas provoca uma reação alérgica. Embora as duas estruturas façam parte do mesmo grupo, dos celenterados, são espécies diferentes. Caravela é um hidrozoário e água-viva é um cifozoário. Saiba mais no site Brasil Mergulho.
Mesmo com o esclarecimento do biólogo, o GC (gerador de caracteres que traz mensagens na tela para os telespectadores) continuava apontando chamadas sobre "águas-vivas que queimaram turistas". A pergunta que fica no ar é: para que esclarecer se vamos continuar mostrando o que queremos?

Colírio
Uma dica para quem gosta de críticas jornalísticas é o blog Na Retina, do jornalista Emerson Luis. Um post que chamou minha atenção foi: O apartheid televisivo: classe média alta tem rosto embaçado digitalmente.

Capa da Semana
Na primeira semana do ano, o destaque vai para a foto de capa do jornal canadense Ottawa Citizen. Enquanto nós aqui em São Paulo não agüentamos o calor, eles ao Norte...

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