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Ultrapassagens

Não sei se minha mente foi simplista demais, mas, ao ler a notícia da morte abrupta de Maria Luísa Rodenbeck nesta semana, imediatamente veio a minha mente o trecho de Lucas 12.13-21, principalmente o versículo 20:

Na versão de Almeida (atualizada):
Mas Deus lhe disse: "Insensato, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?"

Na versão NVI (Nova Versão Internacional - em português):
Contudo Deus lhe disse: "Insensato! Esta mesma noite a sua vida lhe será exigida. Então, quem ficará com o que você preparou?"

Na versão NIV (New International Version - em inglês):
But God said to him, "You fool! This very night your life will be demanded from you. Then who will get what you have prepared for yourself?"

E, este trecho me fez lembrar de uma fala do filme Confissões de Schmidt:
O que você vai dizer quando parar, olhar prá trás e se perguntar: "Que diferença eu fiz?"

A primeira vez que ouvi falar no nome de Maria Luísa foi quando da entrada da rede de cafés Starbucks, no Brasil. Foi um esforço pessoal da empresária, uma ex-executiva da United Airlines, da American Airlines e do Outback, rede australiana de restaurantes que ela também trouxe para o Brasil, juntamente com seu marido, Peter Rodenbeck. Este, foi o responsável pela chegada do McDonald's ao país, cujo faturamento atual gira em torno de US$ 600 milhões. O Outback alcança cerca de US$ 70 milhões. E a Starbucks, em apenas 11 meses, já projetava uma trajetória de sucesso.

A vida de Maria Luísa terminou na manhã da última segunda-feira (1º de outubro), segundo testemunhas, em uma ultrapassagem perigosa feita pelo táxi em que ela se dirigia para o aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. O táxi bateu de frente com um ônibus, ceifando a vida da empresária, então com 49 anos, e do motorista do táxi, aos 51 anos.

Empresária bem sucedida, Maria Luísa conseguiu, depois de negociações que duraram quase dez anos, ultrapassar as barreiras e trazer a Starbucks para o país e, numa última ultrapassagem, sua carreira teve fim. O casal não teve filhos. Sinceramente, não sei se o texto bíblico acima aplica-se à vida dela, pois não conheço aspectos da vida sua pessoal. Mas, levantou uma questão na minha mente. Se ela olhasse para trás, e perguntasse a si mesma "Que diferença eu fiz?" qual seria sua resposta? "Eu trouxe McDonald's, Outback e Starbucks ao país"? Este, pelo menos, foi o obituário das páginas jornalísticas.

Pensando no que Cristo exemplificou e o médico Lucas registrou nos Evangelhos, parece um texto forte. Começa, na parábola (espécie de narrativa ilustrativa moral), praticamente xingando um homem rico que não sabia nem onde guardar tudo o que havia produzido e resolveu construir celeiros maiores, guardar e curtir a vida com os rendimentos obtidos. Coloquei a tradução em inglês porque ela acrescenta "o que você preparou para você mesmo", onde fica claro que ele não pensava no bem comum, mas apenas no bem estar pessoal. Na seqüência, Jesus fala aos discípulos sobre as preocupações da vida. E fecha de uma forma sensacional (Lucas 12.29-31):

Não busquem ansiosamente o que comer ou beber; não se preocupem com isso. Pois o mundo pagão é que corre atrás dessas coisas; mas o Pai sabe que vocês precisam delas. Busquem, pois o Reino de Deus, e essas coisas lhes serão acrescentadas. (grifo meu)

O interessante é que, em nenhum lugar as Escrituras se opõem ao enriquecimento. O problema é quando as riquezas (ou qualquer outra coisa, seja a família, o trabalho, uma coleção, um hobby, um esporte) viram o "deus" das nossas vidas. Mais interessante ainda é o trecho que eu grifei e nunca tinha parado para pensar sobre isso. Deus sabe que nós necessitamos das coisas, no caso do texto, especificamente o que comer e o que beber, ou seja, as coisas básicas para nossa sobrevivência. Pensando no Sermão do Monte, onde o nosso próximo assume uma importância vital, acredito que o ciclo se fecha.

Independentemente de você acreditar ou não na Bíblia, penso que é o ensinamento prático é pertinente. Se nós pararmos de pensar apenas em nós mesmos quando planejamos um novo negócio, um curso universitário, como aplicar nossas finanças, talvez teremos menos pessoas preocupadas com o que comer, o que beber, o que vestir, graças ao espírito solidário e ao amor ao próximo. Mas, enquanto nós estivermos guardando tudo em nossos próprios celeiros, pensando nos dias da nossa aposentadoria, de uma hora para a outra uma ultrapassagem perigosa pode acabar com nossos sonhos e, como será que escreverão nosso obituário? O que realmente de importante nós fizemos? Que diferença fizemos?

Dica
Conheça o projeto 6EMEIA, e veja artes como a da foto abaixo:

3 Opiniões:

Fernando Chuí disse...
7/10/07 1:05 PM

Oi, Fábio, tudo bem?
Obrigado pela visita ao meu espaço. Constato aqui que você é um blogueiro contumaz!
Esse pessoal do 6EMEIA é legal, foram alunos meus no SENAC.
Um grande abraço,
Fernando

Luis F. Batista disse...
9/10/07 10:45 PM

Oi Fábio! Tem um meme pra você responder lá no blog!
Um abraço!

55 disse...
10/10/07 10:45 PM

Cara!
Você sabe contruir uma linha de raciocinio como ninguem.Meus parabéns.

Concordo contigo.Concerteza me pergunto todos os dias:deixei alguma coisa que mudou o mundo?Deixei algo de bom?Este foi um dos motivos de eu criar um blog,para tentar passar um pouco sobre os meus pensamentos.

Abraços
=]


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