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Superação - Parte II

Na segunda semana da série Superação, o escolhido é o pianista e maestro brasileiro João Carlos Martins. Considerado um dos maiores intérpretes de Bach, Martins começou a estudar piano aos 8 anos. Seu talento despontou em apenas 9 meses, ao vencer o concurso da Sociedade Bach de São Paulo.
A música tornou-se uma verdadeira obsessão, fazendo com que estudasse até 20 horas por dia. Porém, sem nenhuma poesia, havia uma pedra no caminho do pianista. Uma pequena pedra que, durante um acidente em um jogo de futebol, em Nova York, entrou próximo ao cotovelo e começou a mudar os rumos da carreira de João Carlos, que teve um nervo rompido e começou a perder o movimento da mão esquerda. O ano era 1965. Com dores, tocou por mais cinco anos, mas depois de uma crítica negativa em um importante jornal (que Martins considerou correta), abandonou a carreira, chegou a vender todos seus pianos e a se afastou da música, vivendo como empresário do mundo do boxe. Porém, a música foi mais forte. Em 1973 comprou um piano, adaptou sua forma de tocar e voltou a ativa.
Dores, agora advindas pela síndrome de movimentos repetitivos (LER) o fizeram parar de novo. Voltou a tocar alguns anos depois, mas o destino novamente lhe pregou uma peça. Em 1995, reagiu a um assalto em Sofia, na Bulgária, e um golpe levado na cabeça causou uma lesão cerebral que comprometeu seu lado direito. Mesmo depois de sucessivos tratamentos e cirurgias, tocar trazia-lhe dores insuportáveis, o que não o impediu, porém, de completar os 21 volumes da coleção Integral Bach. Chegou a realizar experimentos de reprogramação cerebral, que recuperaram os movimentos, mas trouxeram um efeito colateral: ao falar, sentia muitas dores e sofria espasmos na mão.
A obra que você ouve nesta semana no DoxaOnline é a Sonata em Mi Menor, de J. Haydn, gravada em setembro de 2000, na mesma cidade do último acidente de Martins: Sofia (Bulgária). Seria a última obra do artista utilizando as duas mãos. No início deste mesmo ano, para eliminar as dores que sentia com o "efeito colateral" da reprogramação, João Carlos submeteu-se à uma cirurgia na mão direita, que seccionou um nervo e atrofiou gradualmente os dedos daquela mão. Ao tomar conhecimento da notícia, o músico recebia a visita de Heiner Stadler (presidente da gravadora Labor Records) e afirmou: "Quem sabe alterando os dedilhados e mudando algumas passagens para a mão esquerda eu ainda posso gravar o CD com a obra de Mozart e Haydn conforme estava programado, nem, que seja somente para mim e minha família". Não só conseguiu gravar, como também emocionar quem ouve este lindo trabalho.
E a história não parou por aí. Devido ao uso em excesso da mão esquerda - para compensar o falta da direita - surgiu um tumor benigno, que foi operado e levou Martins a perder, definitivamente, os movimentos da mão esquerda. Martins não se deu por vencido. Estudou regência e, como não conseguia segurar uma batuta ou mesmo virar as páginas de uma partitura, sua única alternativa foi memorizar as peças, o que demonstrou mais uma vez sua determinação e perfeccionismo. Em uma entrevista, Martins revela: “Se Deus me deu a missão de trabalhar com música, é preciso respeitar isso...”.
A história e o exemplo de João Carlos Martins deram origem ao documentário franco-alemão Martins Passion (Paixão Segundo Martins - 2004), vencedor de 4 Festivais Internacionais e assistido por mais de um milhão e meio de pessoas na Europa.

Em tempo
Só para esclarecer, a sonata clássica é uma composição para instrumentos solistas e é dividida, na maior parte, em três movimentos - em geral dois rápidos e um lento. Esta sonata de Haydn tem início com o Presto (em italiano, rapidamente), seguido pelo Adagio (lentamente) e termina com Finale Molto Vivace (vivo). Os maiores exemplos de compositores desse gênero foram Mozart, Haydn e Beethoven.

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