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Fábrica


Nosso dia vai chegar,
Teremos nossa vez.
Não é pedir demais:
Quero justiça,
Quero trabalhar em paz.
Não é muito o que lhe peço -
Eu quero um trabalho honesto
Em vez de escravidão.

Deve haver algum lugar
Onde o mais forte
Não consegue escravizar
Quem não tem chance.

De onde vem a indiferença
Temperada a ferro e fogo?
Quem guarda os portões da fábrica?

O céu já foi azul, mas agora é cinza
O que era verde aqui já não existe mais.
Quem me dera acreditar
Que não acontece nada de tanto brincar com fogo,
Que venha o fogo então.

Esse ar deixou minha vista cansada,
Nada demais.
Estava procurando uma música que retratasse um pouco da desilusão com a injustiça que vemos no dia-a-dia e, infelizmente, ao invés de protestarmos, nos acostumamos e fingimos que não vemos. Lembrei de João Alexandre, mas verifiquei que em agosto do ano passado já tinha colocado no DoxaOnline a música que pretendia postar hoje (se falamos reveja, será certo falar "reouça"???).
Aí, vasculhando os CD's, achei esta música da Legião Urbana, banda que atuou nas décadas de 1980 e 1990, chegando ao fim em 11 de outubro de 1996, quando faleceu seu líder e vocalista, o emblemático Renato Russo.
Legião Urbana nasceu no centro do poder, Brasília. Formada em 1982, após o desmembramento do Aborto Elétrico, grupo punk que também deu origem à banda Capital Inicial. Além de Renato Russo, o trio base da Legião era formado por Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá.
Uma coisa que nunca havia percebido foi que em quase todos os encartes dos trabalhos da banda há a frase em latim Urbana Legio omnia vincit (Legião Urbana a tudo vence), uma adaptação feita por Renato ao mote Romana legio omnia vincit (Legião romana a tudo vence), proferida por Júlio César e que virou o lema da banda.
A música de hoje - Fábrica - é faixa do segundo álbum da banda, Dois, lançado em 1986. Pode não ser o melhor disco da banda, mas é o meu preferido. No baixo, o "quarto Mosqueteiro", Renato Rocha (um dos compositores de Quase sem querer, que tocou nos primeiros três trabalhos da Legião - à direita, na foto). Várias músicas de Dois fizeram sucesso, como Será, Tempo Perdido, Eduardo e Mônica, Índios e Quase sem querer.

A vontade de procurar um tipo de música-protesto veio quando eu voltava de viagem no último domingo, ouvindo o CD do Seu Jorge com Ana Carolina, quando a cantora, antes de cantar Unimultiplicidade - uma parceria com o fantástico Tom Zé -, lê um texto de Elisa Lucinda (sobre a autora, veja também):

Só de Sacanagem
Meu coração está aos pulos!
Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Tudo isso que está aí no ar,
Malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro,
Do meu dinheiro, do nosso dinheiro
Que reservamos duramente para educar os meninos mais pobres que nós,
Para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais,
Esse dinheiro viaja na bagagem da impunidade
E eu não posso mais.
Quantas vezes vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis
Existem para aperfeiçoar o aprendiz,
Mas não é certo que a mentira dos maus brasileiros
Venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração está no escuro,
A luz é simples,
Regada ao conselho simples de meu pai, minha mãe, minha avó
E os justos que os precederam:
“Não roubarás”,
“Devolva o lápis do coleguinha”,
“Esse apontador não é seu, minha filha”.
Pois bem, se mexeram comigo,
Com a velha e fiel fé do meu povo sofrido,
Então agora eu vou sacanear:
Mais honesta ainda vou ficar.
Só de sacanagem!
Dirão:
“Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo o mundo rouba”
E eu vou dizer:
Não importa, será esse o meu carnaval,
Vou confiar mais e outra vez.
Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos,
Vamos pagar limpo a quem a gente deve
E receber limpo do nosso freguês.
Com o tempo a gente consegue ser livre,
Ético e o escambau.
Dirão:
“É inútil, todo o mundo aqui é corrupto,
Desde o primeiro homem que veio de Portugal”.
Eu direi:
Não admito, minha esperança é imortal.
Eu repito, ouviram?
IMORTAL!
Sei que não dá para mudar o começo
Mas, se a gente quiser,
Vai dar para mudar o final!
Confira o trecho do show:

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