Essa semana fui presenteado com a última edição da revista Caros Amigos. Fui assinante durante um bom tempo e, ultimamente a equipe de assinaturas tem me assediado para retornar, primeiro por telefone, agora com esse exemplar de degustação. Agradeço mas, no momento, não tenho interesse, até mesmo devido a uma imensa falta de tempo para ler a revista da forma que ela merece. Gosto da revista, com seus tons e sobretons, com seus articulistas mais e menos engajados, enfim, com a sua posição esquerdista, muito embora a definição de esquerda no Brasil fique cada vez mais obscura.
Aliás, falar em imprensa escrita é complicado. Veja é uma grande vitrine com alguns editoriais entre relógios, carros e afins. Época é a sucursal da novela das 8. CartaCapital, depois da saída de Bob Fernandes não é mais a mesma. Ou tudo está errado ou eu sou crítico demais. Alguém tem uma dica de um bom semanário que traga notícias na dose certa? Felizmente, o que salva são os blogs jornalísticos ou de jornalistas, além daqueles mantidos pelo público em geral, que às vezes têm mais qualidade do que uma revista ou um jornal.
Porém, o que me levou a escrever aqui hoje sobre a Caros Amigos foi seu novo articulista. Nada mais, nada menos do que Fidel Castro!!! A chamada de capa incita o leitor a conferir. E eu conferi. Oportunamente o tema do artigo de Fidel foi sobre os boxeadores desertores (?) cubanos no Pan 2007. É quase um editorial. De qualquer forma, Fidel (ou seu ghost writer) escreve bem, em um tom quase sereno (para aqueles não conhece seu passado - e longo passado - político). Particularmente sinto-me dividido pela situação de Cuba. Em primeiro lugar, ressalto que nunca fui para lá. Sei das coisas pelo que leio e, principalmente, por amigos que conheceram a ilha de Fidel. E, por esses relatos, por um lado, sou favorável, uma vez que o trabalho com educação e saúde é primoroso e igualitário. Por outro lado, não tenho como ser favorável quando o instrumento para manutenção do poder é anti-democrático, totalitário e déspota (são praticamente sinônimos mas, tudo bem).
De qualquer forma, sempre que falo em Cuba lembro do filme Buena Vista Social Club. Fico impressionado com a simplicidade dos músicos cubanos, vivendo no que, para nós é uma situação miserável mas, para eles é um paraíso. A tranqüilidade e felicidade dos idosos, tocando pianos desafinados, andando em seus carros caindo aos pedaços, em ruas que mais parecem saídas de um filme dos anos 50. Mas, são felizes. O ponto de mutação do filme ocorre quando os músicos são convidados para conhecer Nova York, quando tocam no Madson Square Guarden (se não me engano). É visível o deslumbramento deles com a metrópole, a cidade de arranha-céus, carros potentes e pessoas bem vestidas.
Meus críticos afirmam que é necessário apresentar ao povo cubano o que há além das águas que cercam a ilha. Não discordo totalmente. Só fico pensando se é prioridade, realmente que, não só eles, como nós, tenhamos acesso ao mundo da P&M, a propaganda que nos faz trocar de celular a cada seis meses, de carro a cada ano e a ficar insatisfeito com nossos lares, pois não dispõe de toda infraestrutura que o novo lançamento ao lado pode nos oferecer.
O que me impressiona é que, a despeito do que entendamos como miséria, os músicos cubanos aparentavam felicidade e viviam, a seu modo de ver, bem. Depois de conhecerem a "cidade grande", um a um estes músicos vêm morrendo. Será que morreram felizes ou arrependidos e desiludidos?
Aliás, essa semana minhas filhas menores ficaram doentes e ataquei de "pãe" (pai + mãe). Na oportunidade, ajudando o mais velho a fazer lição de casa, me deparei com a situação de explicar para ele o que era renda per capita. E, na seqüência, se ela era um termômetro de boa ou má situação no país. Lógico que caímos na questão da má distribuição de renda. Em um país onde muitos ganham pouquíssimo e só alguns ganham a grande fatia, penso em qual autoridade temos para criticar ou apoiar a situação cubana. Acredito que, primeiro, precisamos fazer nossa lição de casa. Em um país onde grande parte da população se vê "amparada" em uma Bolsa Família mensal de cerca de R$ 75, enquanto muitos de nós gastamos isso em um ou dois jantares, algo está errado. Muito errado. E não basta apenas cansar... É preciso coragem para mudar.
Ademais, fiquei ansioso para ler o próximo artigo do "capitán"! Talvez degustando uma cuba libre, a bebida que unifica sistemas de governo opostos, uma vez que reúne um dos símbolos do capitalismo estadunidense - a Coca-Cola - e uma bebida típica da Cuba socialista - o rum.
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