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Sinceridade

Leia e responda

André Laurentino
Publicado no Guia, em O Estado de S. Paulo

Fulano é vaidoso. E tem todo o direito de ser vaidoso, o que lhe falta é motivo. Já Beltrano é firme como uma biruta de aeroporto. E cicrano é tão prolixo que seu resumo de um livro de 30 páginas tem 80. Aquele moderninho ali, no telefone, é tão infiel que ainda vai se trair transando com a própria esposa. O pedante pensa que tudo sabe, e o arrogante não sabe que nada sabe. O de barba? Não, ele é o teórico: come a receita e xinga o prato. O outro, aquele de óculos digitando no computador, gosta tanto de mandar que toma táxi só para dar ordens. A indecisa nunca deu uma opinião, fica rouca de tanto pensar. O incompentente vendeu a alma ao diabo mas entregou a Deus. Aquela ali é eficiente mas tediosa, convence pelo cansaço. Já o que saiu agora, apressado, cobra dos outros a eficiência que gostaria de ter. Aquela ali é a bússola da equipe: roda, roda, roda e indica sempre a mesma direção. O inteligente há pouco tempo é insuportável, chegou mais tarde porque foi no dentista. Aquele outro lá, gordinho, se mete em tudo mas é um chutador: ouviu o galo onde mas não sabe cantar. Aquela não para de reclamar nem para beber água, mas não bebe porque acha barrenta. O outro é tão invejoso que quando se vê no espelho bate três vezes na madeira. Aquele é um vagabundo, o único ocupado na sala dele é o telefone. O de marrom é covarde, só não é mais covarde por medo de competição. Esse cara aí a turma chama de autobiografia não autorizada — só fala de si sem ninguém ter perguntado. O outro é tão carreirista que o único valor que tem é o venal. Enquanto o ingênuo reconhece firma por telefone. A que vai passando com o café nunca acertou uma roupa na vida: é a legítima “fashion victim”. Olha a saia dela. O que tá rindo não é simpático, não. É egoísta, acha que altruísmo é quando os outros pensam nele. Tem o que vive em cima do muro, desde que ninguém discorde. Tem o culpado, tão culpado que, quando alguém brinda “saúde!”, ele espirra (é também um mostruário de carapuças). Justamente o caso contrário daquele ali, falso humilde, que aprende com o próprio erro dos outros. Aquele com a carequinha brilhando é o “telhado de vidro”: tem um passado cheio de falcatruas e cabelos. E o maledicente da turma tem sempre uma reputação a melar. Isso aqui tem gente de tudo quanto é tipo, meu filho. É o supermercado de Deus, e o que não falta é prateleira.

Agora, caro leitor, assinale a alternativa certa. Estamos no:
A) Elevador da firma
B) Senado
C) Cabeleireiro
D) Único lugar sincero do Brasil

Será muito atrevimento meu
incluir mais uma alternativa?
E) Último banco de uma igreja

1 Opiniões:

Anônimo disse...
5/4/09 9:30 PM

Alternativa e, se me permite.
Haja julgamento.
Bjinhos.

P.S: AMO Raul, suas poesias são uma luz na minha vida.


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