As novas regras
O fim do trema: o acento será totalmente eliminado. A palavra 'freqüente' passa a ser escrita 'frequente'. A única exceção serão as palavras de origem estrangeira.
Inclusão de letras: as letras antes suprimidas do alfabeto português (k, y e w) voltam, mas só valem para manter a grafia de palavras estrangeiras.
Fim das letras mudas: Em Portugal, é comum a grafia de letras que não são pronunciadas como 'acção' para 'ação'. Elas sumirão. No caso das letras mudas pronunciadas na norma culta de um país, como 'facto', usado em Portugal no lugar de 'fato', consagra-se a dupla grafia.
Eliminação de acentos em ditongos: acaba o acento nos ditongos 'ei' e "oi' paroxítonos. Dessa maneira, 'assembléia' vira 'assembleia' e paranóico, paranoico.
Acento circunflexo: quando dois 'os' ou dois 'es' ficam juntos, o acento some. Logo, 'vôo' vira 'voo', lêem, leem.
Acento diferencial: o acento que diferenciava palavras homônimas de significados diferentes acaba, na grande maioria dos casos. Conseqüentemente, 'pára', do verbo parar, vai ficar apenas 'para', e as formas pêlo (substantivo), pélo (verbo pelar) e pelo (preposição) passam a ter a mesma grafia, pelo. São exceções os acentos que distinguem "pode" (presente do verbo poder) de "pôde" (pretérito perfeito do mesmo verbo) e por (preposição) de pôr (verbo). Passam a ser facultativos acentos diferenciais nos seguintes casos: dêmos (presente do subjuntivo, primeira pessoa do plural) e demos (pretérito perfeito, primeira pessoa do plural), forma e fôrma e nos verbos onde pode haver confusão entre o pretérito perfeito e o presente do indicativo, como amámos (pretérito perfeito) e amamos (presente).
Ter e vir: esses verbos e seus derivados continuam a ter acentuação diferenciada no plural e no singular: ela vem, elas vêm, ele contém, eles contêm.
Cai o acento do "i" e "u" tônicos dos hiatos em paroxítonas, quando precedidos por ditongo: feiúra passa a ser feiura. Caso a palavra seja oxítona, o acento se mantém, como em Piauí.
Proparoxítonas: continuam a ser todas acentuadas, mas passam ser admitida dupla grafia, como nos casos em que há divergência entre os países, como econômico (Brasil) e económico (Portugal). A dupla acentuação vale para todas as palavras onde há esse tipo de divergência, como matinê e matiné, Vênus e Vénus.
Verbos: passa a ser aceita dupla grafia em certas formas verbais onde há diferença entre a pronúncia culta e a popular. Assim, averíguo, por exemplo, passa a ser uma forma alternativa de averiguo.
Hifens: o acordo estipula novas regras - algumas de interpretação ainda controversa - para o uso do hífen, incluindo normas específicas para a hifenização de nomes de lugares e de espécies de animais e plantas. A maioria dos hifens em palavras compostas desaparece. Assim, pára-quedas vira paraquedas, co-autor vira coautor, contra-regra, contrarregra, anti-semita, antissemita. Mas circunavegação ganha um hífen e torna-se circum-navegação. Além disso, será mantido o hífen em palavras compostas cujo segundo componente começa com h, como pré-história. Nesse caso, a exceção são os prefixos des e in: desumano, inábil, inumano ficam como são. Em substantivos compostos onde a última letra da primeira palavra e a primeira letra da segunda palavra são as mesmas, será feita a introdução do hífen. Assim microondas vira micro-ondas. A exceção é co: cooperar, coordenar, por exemplo, continuam do mesmo jeito.
(Fonte: O Estado de S. Paulo)
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Bem-humorado
Wilson Tonioli escreveu um texto sobre o fim do trema, apresentado em um evento no auditório da Livraria Cultura, em novembro de 2008:
O Trema
- E agora?
- Encare a realidade... Fomos extinguidos.
- Sem direito de argüir...
- Arguir, você quer dizer...
- E o “U”... Aquele falso!
- Ele não tem culpa.
- Mas poderia ter feito alguma coisa por nós.
- O que faria?
- Não sei, mas sempre dependeu de nós pra ter voz...
- Pois é parceiro, agora não depende mais...
- Não vou agüentar.
- Aguentar, você quer dizer?
- Não sei como você pode ficar tão tranqüilo.
- Tranquilo?
- Para com isso!
- Desculpe... Só quero te ajudar esquecer.
- Como? Acho que você é que tem que cair na real. Não existimos mais! Somos dois defuntos conversando!
- Calma, amigo. Podemos ser reaproveitados; reciclados. Tá na moda.
- Não dá! Um pontinho é alguma coisa, três juntos também... Mas dois pontinhos não são nada!
- É verdade. Por que não acabaram com aquele três-pontos?! Vivem deixando as coisas no ar.
- Politicagem, essas coisas...
- Espera aí; e se eu subisse em cima de você?! É isso! Poderemos ser um belo e atraente Dois-Pontos!
- Nem pensar! Você sabe que um ponto em cima do outro é sempre oportunidade pra alguém falar.
- Deixe que falem.
- Já estou imaginando: Olha lá! Aquele não era o Trema? Que degradação! Que vergonha!
- Não liga. O mundo está mudando. O importante é estar feliz.
- Tá. Mas por que não eu em cima de você?
- Pode ser. A gente reveza.
- Não! Prefiro ser um delinqüente.
- Delinquente! Delinquente!
- schif...rschif...
- Você tá chorando!?
- Me deixa!
- É isso! Tive uma idéia!
- Desiste.
- Você que me deu essa idéia!
- Ahnn?
- A gente "se deixa" por um pouco. Procuramos outro Trema e propomos uma saída para ambos os quatro.
- Não tô entendendo.
- Veja: dois Tremas juntos podem dar num Ponto-Final e uma Reticências!
- É, mas...
- Mas o quê?
- Um ficaria só.
- Sim, mas decidido e assertivo como um Ponto-Final! Um Ponto-Final não tem crises!
- Não sei não...
- Está bem! Eu fico sozinho e você vira uma reticência junto com os outros.
- schif...rschif...
- O que foi?
- Você é tão frio...
- Estou buscando uma sobrevida pra nós, só isso.
- Aquele “U” traidor do cacete!
- Esquece cara!
- Não me conformo.
- Olha... De repente você pode conhecer uma vírgula interessante e subir nela, com o seu consentimento é claro.
- E me tornar um ponto-e-virgula?! Quem liga para um ponto-e-virgula?
- Pelo menos ele existe... E quem liga para um Trema velho, inútil e resmungando pelos cantos?
- Vou iniciar um levante com outros Tremas!
- Tá, e daí?! Sem o “U” vocês são manchinhas no papel. Cocozinhos da impressora. O cara simplesmente amassa a folha e imprime outra.
- Arrumamos um líder eloqüente...
- Sim, arrumam um líder ELOQUENTE e ficam em frente da casa da Ortografia gritando: “Tremas! Unidos! Jamais serão vencidos!
- É e daí?!
- A Ortografia vai achar engraçado. Um monte de pontinhos juntos é só uma textura e logo virão os tiros de bala de borracha para apagar todos vocês.
- Podemos formar Tremas kamikazes e espatifá-los em cima dos textos!
- Tá, mas aonde vocês vão achar esses mártires? Coragem nunca foi virtude dos Tremas... O nome já diz: Trema. Tremerão de medo, e mesmo se acharem algum louco, tremerá tanto que cairá fora do texto e do contexto.
- Vou me matar.
- Morto você já está... Você quer dizer, se apagar? Se deletar?
- É.
- Ninguém vai ligar...
- Nem você?
- Não é isso! Estou dizendo que ninguém vai ligar os fatos, que você se deletou pela causa dos Tremas.
- Tudo bem. Não me importa. Quero me apagar por mim mesmo. Vai ver se eu não tenho coragem...
- Tive outra idéia!
- Nem vem!
- É sério. Lembra daquele cara que conhecemos num texto alemão?
- Müller?
- Isso! O bilíngüe!
- Que que tem?
- Podemos ir para lá com ele!
- Como?
- Entramos num texto e negociamos com uma mulher...
- Uma mulher? Que tem a ver?
- Procuraremos até encontrar uma que já não queira mais ser mulher com “h”...
- Mulher com “h”?
- Sim! Aí substituímos o “h” por mais um “l” e pronto! Temos um Müller para fugirmos, nós três!
- schif...rschif... Você é demais. Eu te amo!
- Vem, vamos achar nossa salvadora e brindar esse nosso último texto nessas terras!
- schif...rschif...
Cai o pano.
F I M
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