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Bastidores do jornalismo brasileiro

O comunicado do Markun

Vamos à nota da TV Cultura com as “explicações” sobre a não renovação do meu contrato.

1. O contrato original com a Cultura previa uma participação no jornal, por um valor menor, e um programa de televisão em parceria. O programa compensaria o valor a menor nos comentários.

2. Quando começou o desmonte do jornalismo da Cultura, antes da entrada do Markun, o programa saiu do ar, mas com a promessa reiterada - e jamais cumprida - de retornar.

3. No ano passado, ao negociar o contrato com a Cultura - já na gestão Markun - fiz-lhe ver que as condições originais tinham sido desrespeitadas. Se fosse só os comentários, teria que haver um reajuste. Alegando dificuldades financeiras da Cultura, Markun propôs a manutenção do valor anterior e a redução da participação para uma ou duas vezes por semana, previamente combinada - para me dar liberdade de viajar.

4. Principalmente no segundo semestre, deixei de atender a duas ou três convocações por motivo de viagem, mas inúmeras vezes liguei para a Cultura para garantir uma única apresentação semanal que fosse. A orientação do jornal era torná-lo mais leve e palatável, fugindo dos temas pesados e esvaziando a participação dos comentaristas, segundo me informaram.

5. Nos dois episódios econômicos mais relevantes do ano passado - quando explodiu a crise mundial (a maior em 70 anos) e a fusão Itau-Unibanco - precisei ligar para a Cultura para alertar sobre a relevância dos fatos e me colocar à disposição. Nas duas vezes, foi-me dito que os temas não comportavam espaço maior. No caso da crise, a aposta é que o Jornal Nacional daquele dia não daria mais que um minuto e vinte - deu 20 minutos, óbvio. No caso da fusão, julgaram que não interessaria ao telespectador - foi matéria de capa de todas as semanais e manchete principal de todos os jornais.

6. Em meados de dezembro, Markun me ligou para combinar um encontro, para discutir, finalmente, o lançamento do programa. A reunião foi adiada por algum problema dele. Agora, me comunica a não renovação do contrato. Ou seja, em dezembro iríamos planejar os projetos de 2009; em janeiro não haverá a renovação do contrato. Só posso supor que os episódios que justificariam a mudança de posição da Cultura ocorreram entre um momento e outro.

7. Não vou entrar em considerações sobre Markun. Só repito o que disse: para quem o conhece bem, não foi surpresa a sua atitude.

(Texto do jornalista Luis Nassif em seu blog, sobre sua saída da TV Cultura)
Sobre a saída de Nassif, divulgada na última terça-feira (13/01/09), leia também o que escreveu Paulo Henrique Amorim (já tem mais de 100 comentários) e o Portal Imprensa. Para o site Comunique-se, o jornalista afirmou: “Deduzo que haja um alinhamento ideológico para 2010”, disse Nassif. “Markun (presidente da Fundação Padre Anchieta) não daria nenhum passo que não fosse endossado pela governo do Estado, que mantém a Cultura”, denunciou (leia mais). Não encontrei nada a respeito do assunto no site da TV Cultura. Na matéria do Comunique-se, a emissora defende-se: "Jamais, ao longo da atual gestão presidida por Paulo Markun, a FPA exerceu qualquer tipo de censura sobre Luis Nassif ou outros colaboradores, não sendo também da prática da instituição contratar ou dispensar pessoas por critérios ideológicos”. A demissão de Nassif seria, então, devido a "uma reestruturação do Jornal da Cultura em dar mais espaço para a informação que o comentário" e, também, devido "a indisponibilidade do jornalista", quando solicitado.
Nassif trabalhou na Veja, Jornal da Tarde e Folha de S. Paulo. Apresentou o programa Dinheiro Vivo na TV Gazeta até julho de 2007. Em agosto, foi para a TV Cultura, ocupando o lugar de Paulo Henrique Amorim (que apresentava o Conversa Afiada na emissora). Atualmente, não tinha um programa na emissora da Fundação Padre Anchieta, sendo comentarista no Jornal da Cultura. É diretor da agência Dinheiro Vivo e idealizou o Projeto Brasil.

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