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Noites, madrugadas e alvoreceres

Fiquei apenas uma semana em casa - depois de um período internado - e voltei para o hospital no último dia 14/05. Dessa vez, foram 11 dias internado. E sem um diagnóstico preciso. Tratei duas pneumonias e, embora a situação física era/seja boa (o único sintoma era tosse constante, não tive febre), o hemograma e a tomografia revelam alguma coisa. Enfim, saí do hospital no último sábado, vou ficar "de molho" duas semanas e fazer mais alguns exames.
Para variar, algumas músicas fizeram a trilha desse período de silêncio, médicos, enfermeiros e antibióticos. Particularmente, não sofro com o silêncio. Aproveitei, mais uma vez, para colocar a leitura em dia. Também aprendi que a solitude que Nouwen e Anselm Grün (e vários monges) referem-se não é um silêncio "ocupado" (lendo ou ouvindo música). É um silêncio muito mais difícil, introspectivo, de parar até os pensamentos. E, ao conseguir alcançar este estágio, ficar aberto para a voz divina (que pode ou não se revelar) diretamente ou posteriormente, através de uma leitura, da palavra de um amigo, de uma música ouvida. É um exercício e tanto. Você aprende a respirar melhor, ouvir melhor o seu corpo e se aquietar.
Voltando às músicas, escolhi três, que retratam três momentos que acredito sejam marcantes em uma "experiência hospitalar". Você poderá ouvi-las, na seqüência, no ConfraCast, o nosso PodCast.

1. A Noite
No álbum Caminhos do Coração, Nelson Bomilcar grava uma emocionante versão e conta a história da música Quando se está só: "Visitando o amigo Sérgio Pimenta no hospital, em seus últimos dias de vida, recebi dele esta letra para que a musicasse e que procurasse transmitir o que ele sentia nas madrugadas no hospital. Creio que consegui. Esta foi sua penúltima letra (...)".

Quando se está só
Letra: Sérgio Pimenta
Música: Nelson Bomilcar


Quando se está só, o silêncio é mais profundo,
As noites são mais longas, o frio mais intenso;
E até a própria sombra parece estar mais junta,
Como se soubesse quando se está só.

Quando se está só, um grito é desespero,
Sussurro é loucura, o estalo mete medo;
E a mão forte aparece e está sempre nos sonhos,
Eternos pesadelos quando se está só.

Quando se está só, se está porque deseja,
Pois ele com certeza não foge de ninguém;
Deus está sempre perto, amigo, abraço aberto,
Convida a ir com ele pra não mais estar só.

Pra não mais estar só.
2. O Dia
A rotina hospitalar geralmente não deixa o paciente "dormir até tarde". Eu - que detesto madrugar - acordava para os primeiros medicamentos às cinco e meia da manhã... E, aí, acho que o dia fica mais longo. Mas, acredito que muita coisa depende da nossa postura ao acordarmos. É como a música que escolhi em 5 de maio. Antes dos primeiros raios de sol entrarem pela janela, Deus já se faz presente. A noite é passada. O escuro é inundado pela luz. O choro da noite se transforma pela alegria da manhã.
O guitarrista Eric Clapton aprendeu isso, como relata em sua autobiografia (que já citei aqui): "Encontrei um lugar a que recorrer, um lugar que sempre soube que estava ali, mas em que nunca realmente quis ou precisei acreditar. Daquele dia até hoje, jamais deixei de rezar de manhã, de joelhos, pedindo ajuda, e à noite para expressar gratidão por minha vida e, acima de tudo, por minha sobriedade".
Mas, para muitos, a chegada do dia é acordar para o sofrimento, para uma jornada difícil, que só acabará no final, quando a noite voltar. Como passaremos o nosso dia (lamentando ou louvando) é o tema da canção De Sol a Sol, gravada no álbum Mensagem (1986), do Grupo Mensagem.

De Sol a Sol
Letra: Carlos Sider
Música: Lúcio e Cláudia de Freitas


Bem de manhã, 'inda o sol não se levantou
Mas posso ouvir Sua voz me chamar
O dia já vem, a dor também
Jornada de sol a sol será
Mas eu sei que Ele comigo ficará
Em toda parte estará
Seu poder me ampara, por que razão temor,
Se diante de Tua face eu vou?

Tudo passou, já a noite tem seu ligar
Sua voz eu ouço num tão belo som,
O sono virá, descanso enfim
Descanso que o Senhor dará
E eu sei que Ele comigo estará
Por todo tempo me verá
Seu poder me ampara, por que razão temor,
Se diante de Sua face estou?
3. O "Depois"
Enquanto o tempo passa e, principalmente, depois dessas experiências, é inegável que haja uma mudança na vida da pessoa. Pode ser para pior ou para melhor. Uns se afastam de Deus. Outros se aproximam. Uns se aproximam da família. Outros se fecham mais ainda. Acredito que Carlos Sider, em outra música gravada pelo Grupo Mensagem - álbum Muita coisa pra pensar (1988) - resume o meu sentimento depois dessa fase.

Te conheço
Letra e música: Carlos Sider

Queria estar ouvindo a Tua história
Contada ao pé das ondas de outro mar
Ouvir da Tua boca as maravilhas que hoje sei

Estar no barco em meio a tempestade
E ver o mar calar por Tua voz
E ouvir falar o cego: "Cego era e posso ver!"
Eu queria...

Mas apesar do tempo e o tanto
Que me distam do lugar
Te conheço
E ainda hoje a Tua voz prossegue firme
Como é doce a Tua voz
É um convite a te seguir

E quanto mais e mais eu te conheço
Eu vejo quem eu era e hoje sou
E não posso negar que foi Tua voz que me mudou
Nestes dias

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