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Todos - mais ou menos - iguais

Confesso que este post está meio "engasgado". Já pensei muito sobre publicá-lo ou não. Mas, aqui vai.

Em primeiro lugar, não posso deixar de expressar meu choque com o acidente ocorrido há uma semana, envolvendo um avião da empresa TAM aqui em São Paulo. A tecnologia nos fez ver e quase sentir, ao vivo, a dor de uma tragédia. O triste é que, muitas vezes, nos comportamos como se estivéssemos assistindo a um filme, com efeitos especiais. Não. Não era um filme. E não eram efeitos especiais. Eram chamas reais, bombeiros reais, vítimas reais. Não era uma mera estatística de mais de 200 pessoas, mas sim pais, maridos, esposas, filhos, com nome e sobrenome. Sobre o assunto, alguns amigos expressaram, de forma muito pessoal, seus sentimentos: Luis Fernando, Sérgio Pavarini, Volney Faustini, Poliane, dentre outros.

Porém, pensando sobre o que escrever a respeito deste acidente, deparei-me com um dilema. De antemão, já afirmo que é muito difícil - para não dizer, impossível - mensurar o "valor" financeiro de uma vida humana. Mas, fiquei diante de um paradoxo que me incomodou. Refere-se à questão indenizatória. Há notícias de que os seguros, como no caso do acidente recente com o avião da Gol, poderiam pagar até 1 milhão de reais aos familiares das vítimas. Isso no caso de acordo, ou seja, sem a necessidade de um processo judicial. Então, fiquei pensando nos familiares das vítimas em acidentes de trânsito, por exemplo, daqueles que são atropelados por motoristas imprudentes ou que perdem sua vida dentro de lotações não regularizadas. Indenizações? No máximo, o pagamento do DPVAT (seguro obrigatório), que paga pouco mais de 10 mil reais em caso de morte. Ou seja, a grosso modo, um passageiro de transporte aéreo "vale" cerca de cem vezes mais do que um pedestre.

Por outro lado, a crise dos controladores de vôo e das condições dos aeroportos ocupam as manchetes e primeiras páginas, enquanto que o caos no transporte público e a impunidade de condutores imprudentes são relevados a pequenas matérias ou mesmo apenas notas.

Os números são espantosos. Segundo a Folha Online, dados de 93/95 revelam que, em média, 11 mil estadunidenses morreram nas estradas dos EUA em um período de 6 meses. Este número é equivalente ao "total de mortos em acidentes aéreos no mundo todo desde a primeira queda de um avião comercial há 40 anos" (grifos meus). Estatísticas revelam que, no mundo, a média de mortos em acidentes de trânsito é de 500 mil mortes/ano. No Brasil, em 2005, o número oficial chegou a quase 35 mil mortes, sendo cerca de 1.500 pessoas apenas na cidade de São Paulo. (Fontes: Renaest e Prefeitura de São Paulo)

Infelizmente, caímos novamente nas estatísticas. Penso que, quando se fala em morte, em vítima, apenas uma pessoa já bastaria. É uma família que se vê afastada bruscamente de seu ente. Mas os números são necessários. Que fique bem claro que não quero minimizar o acidente com o vôo 3054. É preciso fazer algo para o país sair do tão falado caos aéreo. A sociedade precisa mobilizar-se e os poderes investidos (Judiciário, Legislativo e Executivo) devem agir com rapidez e eficiência. Porém, o mesmo tratamento deve ser dado para o país sair do não tão falado - muitas vezes já acostumado - caos terrestre, em um país onde especialistas afirmam que o problema das mortes no trânsito deixou a pasta dos transportes e se tornou um caso de "saúde pública".

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