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Contra-ataque?

O chamado jornalismo independente apossou-se dos blogs como um instrumento para a liberdade de imprensa, por não ter o "rabo preso" com instituições, empresas, etc. Assim, também surgiram as bandeiras de que "qualquer um poderia ser jornalista". Muitos foram contrários a esta idéia. O sindicato dos jornalistas bate firme na tecla de que para exercer a profissão é necessário, ou melhor, obrigatório o diploma. Enquanto isso, jornalistas - diplomados ou não, mas com alguns anos de profissão - são despedidos das redações, dando lugar aos estagiários, recém-formados e, também, a um novo funcionário, sem carteira assinada e sem crachá, com o pomposo nome de ouvinte-repórter, foto-repórter, vc repórter e por aí afora.
Tudo bem, estou fugindo da minha proposta inicial. Desculpe, vou retomar.

O chamado jornalismo independente apossou-se dos blogs como um instrumento para a liberdade de imprensa, por não ter o "rabo preso" com instituições, empresas, etc. Nesta semana, fiquei surpreso com um artigo da Dora Kramer, que tem se espalhado que nem chuva de verão pela internet:


Um tiro certeiro
O Estado de S. Paulo - 10/06/2009

A Petrobrás não dava um tiro tão certeiro no próprio peito desde que alguém teve a ideia de mudar o nome da empresa para PetroBrax, no governo Fernando Henrique Cardoso.
Lá, a intenção era internacionalizar, tirar a marca "bras", de Brasil, de uma empresa global. A mudança, cuja qualificação mais amena recebida foi a de "imbecilidade", sobreviveu dois dias entre o anúncio e o cancelamento do projeto.
Aqui, a justificativa para a criação do blog da estatal é fazer frente aos ditames da transparência por meio de modernos instrumentos interativos de comunicação. Já sobrevive há vários dias, tempo suficiente para fazer história no quesito boçalidade.
Em tese, o blog surgiu para a Petrobrás se antecipar às questões que poderiam vir a aparecer na CPI do Senado, responder às dúvidas da imprensa, manter o máximo de informações possíveis à disposição do público na internet e até para se defender de acusações.
Na prática, logo se revelou uma ferramenta a serviço de uma trincheira na luta sem quartel nem respeito a normas civilizadas contra a imprensa tida como inimiga. Embora devesse se resguardar da atuação política, atuando dentro dos princípios da sobriedade adequada a uma estrutura daquele porte, a direção da empresa optou por se desnudar em praça pública.
Pretendia anular a motivação para a existência da CPI e acabou dando razões de sobra a uma investigação acurada sobre os critérios éticos adotados na condução da administração da empresa. Sendo a ética um valor absoluto, quando não é adotada num caso específico, dificilmente é aplicada de um modo geral.
Recapitulando: a Petrobrás passou a usar o blog para divulgar, e comentar, as perguntas enviadas às empresas pelos veículos de comunicação antes de respondê-las aos interessados. Isso significa apropriação de informações pertencentes a outrem, quebra da relação de confiança e exposição das pautas em andamento, muitas vezes exclusivas.
Em duas palavras, falência ética. O procedimento não é ilegal, argumenta a empresa. Mas é altamente imoral. Algo muito semelhante ao ocorrido com os parlamentares que abusavam das passagens aéreas pagas pelo Congresso argumentando a ausência de proibição do abuso em lei.
Em matéria de tentativa (desastrada) de intimidação não se via nada igual desde que o presidente Luiz Inácio da Silva, de cima dos altíssimos saltos na eleição recente, mandou cancelar a renovação do visto do então correspondente do New York Times, Larry Rother, por causa de uma reportagem sobre os hábitos presidenciais.
Lá, as consequências caíram sobre a cabeça de sua excelência ao revelarem sua personalidade autoritária.
Aqui, os efeitos negativos recairão sobre os ombros da Petrobrás, cuja direção fez mais em termos de lesa-reputação da empresa, que qualquer investigação da CPI poderia fazer.
Revelou a vocação antiética da direção, angariou antipatias e incentivou os jornais, revistas e emissoras a não mais consultarem a área de comunicação da empresa para checar informações, dada a inexistência de segurança em relação ao indispensável sigilo quando a notícia é exclusiva ou carece de sustentação.
Portanto, aumenta-se a margem de erro ao mesmo tempo em que se reduz o espaço da Petrobrás na oitiva do "outro lado".
Além disso, fica a estatal obrigada a responder a todo e qualquer questionamento, mesmo os que não queira, sob pena de desmentir a alegação de transparência.
Perde também o direito de reclamar de eventuais vazamentos de informações, da mesma forma como não pode mais pedir embargo na divulgação de coisa alguma, trato comum quando há algo importante a ser comunicado coletivamente, a partir de determinada hora ou data.
Fica estabelecido que na relação com a imprensa Petrobrás se dá por excluída da proteção constitucional ao sigilo da fonte, pois rompeu unilateralmente esse compromisso. Finalmente, no tocante à CPI, fica garantida a abertura da caixa-preta com todas as informações sigilosas sobre os negócios da empresa.
Tudo aberto, sem restrições, em nome da transparência.

Vou ser sincero. As últimas notícias que li sobre a Petrobrás foi sobre a CPI. Nem sabia do tal blog. Mas, ele está aí: 
http://petrobrasfatosedados.wordpress.com.
Segundo o blog, a finalidade é apresentar "fatos e dados recentes da Petrobras e o posicionamento da empresa sobre as questões relativas à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI)". Tem recebido o apoio de importantes órgãos, como a ABI e o OAB. Nota da Associação Brasileira de Imprensa, por exemplo, considera que: "O presente confronto entre a empresa e alguns veículos de comunicação tem inegável cunho político, com favorecimento de segmentos partidários que se opõem ao Governo Lula".

É bem verdade que há uma velha briga - talvez desde a primeira reportagem... - sobre aquilo que é dito em uma entrevista e aquilo que é publicado. Além do filtro do repórter, há o filtro do editor, do dono da empresa, etc., etc., etc. Alguns entrevistados optam até por gravar a entrevista, para se proteger. Mais ou menos o que a Petrobras fez nesse blog, ao publicar perguntas e respostas, mesmo aquelas que não foram publicadas (confira um exemplo). Ou, na versão da empresa, "a chamada blogosfera permite uma relação direta entre a fonte divulgadora de informação e leitores, sem a necessidade de filtros, de maneira que a decisão sobre o que interessa de fato ao receptor seja por ele selecionada, na medida em que tem acesso a íntegra das perguntas e respostas".

Segundo o próprio blog, em uma semana foram 145 mil visitas, 31 posts e 1.700 comentários. Além desta ferramenta, criou-se também um perfil no Twitter, até ontem à noite com mais de 1.500 pessoas (confira em http://twitter.com/blogpetrobras).

E, é claro, a criação deste blog gerou polêmica:

- O professor titular de Filosofia e Ética da Unicamp, Roberto Romano classificou o blog da Petrobras de uma ação de "terrorismo de Estado" e acusou o presidente da estatal, José Sergio Gabrielli, de tentar garantir um "passaporte para a impunidade", intimidando a imprensa e o Congresso Nacional, em matéria de O Globo;

- Claudio Weber Abramo aproveita e põe parcela da culpa nas assessorias de imprensa;

- No Observatório da Imprensa, Cremilda Medina e Marcia Blasques questionam: "O processo de produção da reportagem pode ser difundido na internet e exposto ao mercado e à sociedade?";

- Também no Observatório, Luis Weiss chama a atenção para alguns detalhes: 1) A ANJ considera a intenção do blog "intimidatória" e antiética (confira nota); 2) O Secretário Executivo da Secretaria da Comunicação de Governo, Ottoni Fernandes Júnior, havia partido em defesa da estatal, dizendo: "A decisão é de pôr lá [no blog] as respostas e não as perguntas dos repórteres. Se publicassem as perguntas, poderia sim quebrar a liberdade de trabalho de cada um, porque daria a pista para a reportagem que cada jornal está fazendo". E parece que não é bem isso que está acontecendo... (Leia na íntegra)

Pelo pouco que li sobre o assunto, sinceramente, acredito que há acertos e erros nas idéias de quem é contrário e de quem é a favor deste tipo de ação. A atitude de criar o blog é saudável e legítima. Mesmo que tenha um alto coeficiente político, há um resquício de transparência. Porém, revelar as perguntas de um jornalista antes da publicação da matéria é antiético, uma vez que cada empresa trabalha com sua linha editorial e poderia prejudicar a apuração e elaboração dos trabalhos, além de criar um conflito entre fonte de informação e jornalista. Após a publicação, acredito que não haveria tantos problemas. Talvez, assim, o jornalista e o editor pensem um pouco mais antes de tornar uma matéria pública, principalmente no quesito apuração, parte do jornalismo que tem sido deixado de lado nos últimos tempos, em nome da rapidez.

1 Opiniões:

Anônimo disse...
11/6/09 11:12 AM

Já faz tempo que a Petrobras tornou-se instrumento de recursos do PT utilizados como massa de manobra politica e financiadora. Não fosse assim não haveria tanta resistência à uma investigação legítima através da CPI, coisa que uma empresa estatal tem o dever de colaborar.
Na verdade o blog da Petrobras também segue os mesmos parâmetros ideológicos.
Infelizmente a corrupção e trambique está presente em todas as esferas, inclusive na imprensa.
Este é um país de trambiqueiros.
Maranata!!!


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