Depois de receber mais uma das correntes via e-mail - intitulado "Vergonha Nacional" - que pretendem desvirtuar (o já desvirtuado) governo Lula, porém com dados pouco prováveis, acabei respondendo com o e-mail que reproduzo abaixo:
"Pois é... Lá vem o Fábio com seus e-mails longos... rs... Mas essa é a minha opinião/desabafo:
Vergonha nacional é um bando de alguns milhões de eleitores (inclusive eu) que não cobram dos seus representantes uma conduta ética. Na verdade, acredito que não importa muito quem seja o representante do país. Lula ou FHC não mudou muita coisa, apenas, agora, a corrupção veio à tona.
Um dos grandes problemas é que nós preferimos assistir às CPIs via Embratel como se fosse mais uma das novelas globais. Será que alguém vai se estapear? Alguém será xingado? Mas, encarar de frente nossos nobres legisladores, nada. Aliás, aí está um dos grandes problemas. Culpamos o Poder Executivo pelas penumbras do país, quando o verdadeiro poder está no Congresso Nacional, na mão de deputados e senadores que, em sua maioria não representam o povo e o ideal de nação brasileiros. E, detalhe, estão muito bem isolados em Brasília, pois se estivessem locados em São Paulo ou Rio de Janeiro, quem sabe não nos uniríamos como povo inconformado e isolaríamos o Congresso, cobrando projetos para um Brasil melhor e não para encher os bolsos dos nobres legisladores e seus currais eleitorais.
Na minha opinião, nos últimos vinte anos nosso país teve um único partido político (do qual sou filiado e não consegui participar como gostaria) chamado Partido dos Trabalhadores. Radicalismos à parte, correspondia àquilo que estava em seu estatuto. Um partido de esquerda que tinha na maioria populacional (classe C e D) suas metas. Um partido que, paralelamente ou juntamente com as CEBs (Comunidades Eclesiais de Base - da igreja católica romana) tentou minimizar os dramas daqueles que vivem em níveis de miséria (um padrão de vida muito inferior aos dos membros desse grupo da Internet e da maioria dos membros do Raízes).
O interessante é que muitas vezes não havia mobilização partidária, mas uma coincidência. Os petistas (filiados, sem cargo no partido) já trabalhavam nos bairros. E, continuam exercendo suas lideranças locais, atualmente afastados do partidarismo político e religioso, mas ainda fazendo diferença nos bairros periféricos e pobres de grandes metrópoles como São Paulo.
À esquerda, tínhamos outros pequenos partidos radiciais (como o PCB, o PCdoB e afins), que visam mais a difusão de ideologias que já provaram serem ineficientes. E, todo o resto, à direita, ficaram meio perdidos depois de dar sustentação à ditadura e hoje vão para qualquer lado em que esteja o poder.
O engraçado nisso tudo é o PSDB. Partido da Social Democracia Brasileira. Engraçado, pois se muitos reclamam do socialismo, não percebem que o ideal estatutário do PSDB é baseado numa variante socialista, chamada "social democracia", que foi marca da França por muitos anos. Seria uma visão alternativa e interessante ao radicalismo do PT e até teria minha adesão, se não ficasse apenas no papel. O PSDB atende ao que o atual governador de São Paulo chama de "minoria branca", aquela que realmente manda e detém a renda no país (detalhe: Claudio Lembo pertence ao PFL e venceu em coligação com o PSDB).
Ao chegar no poder com Lula, o PT não teve sustentação política no Congresso e, ao invés de navegar contra a maré, oPTou (desculpe o trocadilho) por ceder ao mesmo esquema político que dominou o Brasil desde as caravelas de Cabral e dá origem ao mensalão, sanguessuga e toda espécie de corrupção.
Porém, a minha crítica não é contra partidos ou presidentes. É em relação ao povo brasileiro (leia-se, nós). O mesmo povo que lê Veja dominicalmente e acredita em tudo que está escrito ali. O mesmo povo que assiste de segunda a sábado o Jornal Nacional e deixa William Bonner pensar por si (e que somos todos Simpsons). O mesmo povo que acha engraçado chamar o presidente de burro e analfabeto, não tendo o respeito às autoridades que, inclusive, foi biblicamente determinado e é essencial para criar uma identidade nacional. O mesmo povo que não sai às ruas, como fizeram argentinos, bolivianos, venezuelanos, franceses e até estadunidenses (tudo bem, estes há um bom tempo atrás, pois atualmente estão conformados e manipulados), demonstrando sua inconformação com atitudes corruptas, interesseiras e que atrasam o país.
Para finalizar, o momento do voto é importante e um exercício de cidadania. Porém, os quatro anos que vêm em seguida são tão importantes quanto. São os dias em que nós precisamos fiscalizar para que cada vez menos coisas fiquem encobertas.
Fico pensando quando é que nós, cristãos (e aqueles que valorizam ideais sociais), vamos deixar de rir das piadas políticas e aproveitar nosso poder de comunicação para mobilizar a sociedade com uma ética cristã. É só ler atenciosmente o Sermão do Monte para obter um bom plano de governo, na busca da justiça e paz social. Talvez isso ocorra quando sentirmos realmente na pele o que estar na miséria. Pois reclamos muito, mas enquanto temos comida na mesa e diversão na TV e Internet (versão moderna do pão e circo romanos), vamos continuar rindo do presidente analfabeto e culpando-o por não termos mais dinheiro para gastar no final de semana. Enquanto isso, com certeza tem muita gente que não tem estes privilégios (moradia, comida, diversão) iludindo-se com as propostas indecentes de período eleitoral. "
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